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Mudança de turno

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Mudança  de turno

Ideias

2020-05-10 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Facada nos efes: futebol e fado vivo que tinham deixado de haver. Fátima que não haverá, por muito que uma ministra de pensos-rápidos tenha feito umas rezas para que a Igreja fosse no engodo: se os gerontes do regime não haviam abdicado de cerimoniais tremeluzentes, porque é que uns círios e uns lencinhos em quadricula rarefeita não haveriam de ilustrar a Alameda da Cova da Iria?
Orar, sim, mas com distanciamento canónico, recomendava a senhora, que de Fátima não é. Cheguei a temer que se pedisse, à Grande Intercessora, para que poupasse os portugueses aos miasmas do vírus, como por graça inversa um presidente dos pequeninos lhe louvara uma emersão miraculada de banca quase rota.
Fragilidades da Igreja, clama o comentador de serviço às segundas matinais de estação que vai até ao fim da rua por boa notícia. Mas quanta vitalidade, quanta capacidade de organização, a da CGTP, dizia o entusiasmado. Engenho que uma Igreja fragilizada já não tem, sentenciou, peremptório. Mas ai de que o agente nocivo multiplique desgraças entre sindicalistas manifestantes, entre comunidades de onde os activistas são originários. E como o saberíamos, senhor comentador?
Menoridade postulada, a das coisas da Igreja. O que é a Páscoa de alguns, por comparação a Liberdade de todos, o que é o dia da senhora da azinheira, por comparação com o dia jubiloso de homens e mulheres que subsistem de um trabalho sofrido, de gentes que vivem em exploração ou pouco acima dos limiares da dignidade? Erra, quem de um lado compara, para reivindicar igualdades e chorar ofensas, assim como erra quem da outra banda compara, para que não cantem acima da crista, os galitos de campanário. No meio de uns e de outros estão institutos fundamentais, e a todos se estende o prejuízo por combates mal travados, por antagonismos impróprios em civilizada nação.
Queremos bola, petiscos e esplanadas, queremos fados e serenatas, queremos feiras, romarias, procissões, queremos o que nos cortam por racional objectivo, quanto no fim de contas o não seja. Prepotências se cometem a propósito de boas e de más leis, de malefício com tanto de real como de exagerado.
Vírus que infecta e mata. Mal, no entanto, em que mais de noventa por cento dos padecentes recuperam em casa. Ao fim e ao cabo, o que é que está em causa: a nossa mortal condição, ou a especial letalidade de um pato-agente?
E, no entretanto, o que é que se diz? Que a imunidade por contaminação ou vacina não perdurará, que covidaremos várias vezes, que o monstro já se passearia entre nós há meses, que a taxa de infecção, sendo baixa, será catorze vezes superior ao que se havia apurado – estudo de Loulé – infectados que andariam nas suas vidas, com cuidados ou não.
Em resumo, por covid-desgraça, ou por outra lamentosa ocorrência, teremos sempre vidas abreviadas, nós e aqueles a quem mais queiramos. Sabíamo-lo há um ano atrás, como bom é que o saibamos no ano que vem.
Quanto não me manifeste ao contrário, quanto não pareça que simplifico justo temor alheio, o que lamento, mesmo, é que me coarctem hoje, sem que isso signifique que se aprestem a melhorar serviços de saúde, transportes públicos, unidades residenciais de idosos, se quiserem, a vida em geral. O que me magoa, é que a alternativa a uma vida no fio da navalha seja uma diária de enjaulado, um quotidiano em que policiazeco cumpra vero dever quando impede solitário batedor de bola de basquete de fazer uns dribles e correr para o cesto num final de tarde. Ele há coisas piores que o covid, digo eu.

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