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Entre a vergonha e o medo

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Ideias

2017-09-26 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Não é fácil de admitir, mas cá vai: reconheço, em mim, uma simpatia pela RDP da Coreia, e admito, a par disso, que algo de absurdo, de extático, de doentio, de transcendente, existe nessa sociedade, como um todo. Pecados, aos olhos de uns; virtudes, aos olhos de outros: que líder partidário não almeja uma eleição por 99,9% dos votantes? Que estadista de trazer por casa não torce o nariz a crítica que lhe façam? E palavra não dou, sobre o que lhe paire no espírito, em relação a ousado detractor.

Afianço, ao mesmo tempo, que me presumo humanista e positivista, dentro das melhores tradições europeias, e que nenhum conflito aberto tenho com a divindade, independentemente da forma como seja representada e adorada. Não vou, claro, ao ponto dos sacrifícios a um Ba’al Fenício ou a um Tláloc Azteca.

Com a dita Coreia tenho historietas, que aqui não vêm à baila. Alusão que faço para que não fique a impressão de que se trata de fraquinho por cavernosa mania.
Da água para o vinho, essa venturosa América, por comparação com peçonhenta Coreia do Norte. Enfim, não teria como, mas não desdenharia residir, digamos no Wyoming, no Nebrasca, ou no Oregão, mesmo encontrando debilidades e doenças endógenas na sociedade norte-americana.

Trump ganhou como ganhou, e culpas exclusivas da senhora Clinton, e dos democratas, que por ela se deixaram enredar. Não pôs os pés, a pedante, em estados que dava como conquistados, e onde perdeu por margens mínimas. Putin interveio? Quero lá saber! Que é feito da proverbial ingerência americana? Perdoem-me os adeptos de todos os clubes, mas o árbitro só rouba, quando rouba para o adversário. Na política internacional, como sabemos, o árbitro só pode fechar os olhos em favor de americana trafulhice.

Vem tudo isto a propósito da liberdade, da transparência, da validação e da sanção pelo voto em ambiente sadio de disputa entre iguais. E aqui começa a porca a torcer o rabo: iguais? Ora, não há, por aí, candidatos benditos e candidatos malquistos, classificação tributária da força partidária pela qual se apresentam? Dirão: é natural. E eu concordo. Mas lá regresso à desdita da Clinton: perdeu, ela - como se difunde - não por aselhice pessoal, antes por demoníaca intervenção. Boa e desejada se presumia, mesmo não o sendo. Fosse ela quem fosse, por intrinsecamente certa a tinha o establishement.

Jogo com outra carta no meu baralho: eu sei que a demagogia, que a dissimulação, são as belas perninhas de criatura pública que vai longe, artes em que uns esgrimem destrezas que outros envergonham. Acrescento, também, que não sou moralista, e que em político não descubro defeitos que eu não tenha por definição. Somos basicamente iguais, todos. A questão - e aí pretendo chegar - é que tanto adoece o homem pelo órgão biológico, como pela infecção que assola as extensões sociais da sua plural identidade. Assim: de que adianta ver a histeria coreana, se cegos preferimos ficar às pequenas maleitas que temos à porta de casa? De que adianta apontar as demagogias de Trump, se escolhemos sepultar as que o nosso candidato destila?

Entendo que o ambiente político deveria ser reconhecido como um factor de sanidade ou de doença. Mais uma vez: todos o sabemos, que badaladas eram as dissidências políticas que se encafuavam em hospitais da URSS. Muito poderia dizer a este propósito, igualmente, mas ficará para outra ocasião. Interessa-me, por agora, fixar a mais simples das conclusões: a nada escapamos, do que aos outros acontece. Pequeninhos, pequeninhos, mas também temos os nossos trumpes e os nossos kimjongues. É vê-los, senhoras e senhores, é vê-los!

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