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Mundos paralelos

Nevoeiro soprado, verão sem mergulho adiado

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Mundos paralelos

Ideias

2025-06-16 às 06h00

Álvaro Moreira da Silva Álvaro Moreira da Silva

Esta foi mais uma semana conturbada, onde o mundo se dividiu em realidades desiguais. De um lado, ouviram-se gritos de guerra, pressentiu-se o cheiro a dor e a sangue, este mal que nos entope os noticiários diariamente. Do outro, felizmente, vislumbrou-se a magia da felicidade. As ruas da minha cidade começaram a festejar o Santo António e a preparar-se para o São João, vestindo-se a preceito, com cores vivas, sabores e sons distintos.
Nunca a distância entre o ódio e o amor me pareceu tão titânica, nem nunca o silêncio de uns gritou tanto na euforia de outros. Pela televisão continuamos a mirar não só a invasão russa a terras ucranianas, como também os contínuos problemas no Médio Oriente. Israel e Irão, voltam a ser sombras de si próprios. As acusações formam um coro que se perpetua. Gaza continua o seu sofrimento. O som dos mísseis continua a rasgar os céus e a substituir o das crianças. Famílias refugiam-se em caves profundas, enquanto as mentes e vozes ensanguentadas do costume, continuam a incitar ao ódio. A guerra, essa maldita palavra que um dia alguém ousou dicionarizar, repete-se como uma praga que a humanidade não consegue eliminar. As imagens que nos chegam a casa, através da televisão, são sempre as mesmas. Ecoam tristes, ocas de conteúdo, vazias. Projetam-se edifícios praticamente dilacerados, queimados, de onde parecem brotar pequenas crianças e velhos tísicos, cujos chamamentos de súplica o silêncio parece repudiar.
Por aqui a vida flui, graças a Deus. Mesmo de muletas e meio emperrado pelos anos tingidos nos cabelos grisalhos, esta semana tive o prazer de acompanhar a minha filha mais velha às festas Antoninas de Vila Verde. Entre muitas outras coisas, tive a sorte de a ouvir cantar com outros meninos e meninas que se projetaram de mãos dadas numa promissora geração vindoura. Para além disso, revi velhos amigos da bola. O grande Quintas, por exemplo! Comi também uma maravilhosa francesinha com a minha esposa e provei uma rechonchuda e doce fartura na rulote do Vítor Manuel. Nada melhor e mais relevante do que ter a família unida e feliz, recordar amigos e brindar à boa disposição! Foram momentos prazerosos proporcionados por esta maravilhosa vila que, através da sua academia de música e dos seus professores, nos procura transportar para aquilo que realmente faz a vida valer a pena, fazendo-nos esquecer, ainda que por instantes, do colossal abismo que separa o bem do mal.
São seis da tarde de sábado. Está um dia excelente para escrever. Estou sentado no escritório, mas imagino-me num banco de pedra, bem junto à quinta pedagógica. O calor já começa a ceder e o silêncio da tarde convida-me a esquecer, por instantes, o ruído de um mundo bipolar. Ligo as gravações da minha Margarida. Por momentos, ouço-a ainda viva nas palavras. Hoje fez questão de o enaltecer no musical: «mulher independente escolhe sempre a dedo o seu próprio pretendente». Pois bem, que assim seja, exclamou a doutora Júlia. Não só aqui, mas em todo o lado! Que nenhuma mulher aceite menos do que merece, e que jamais abdique da liberdade de escolher, mesmo quando o mundo parece insistir em trilhar-lhe outro caminho. Que a voz da Maria, a nossa Mimi, ecoe para além destas palavras, alcance todas aquelas que ainda vivem presas a medos e imposições. Que cada mulher encontre em si mesma a coragem para ser dona do seu destino, e que essa escolha seja respeitada e inviolável.
Procuro terminar este artigo com chave de ouro, enquanto a brisa acaricia as folhas e o chilreio dos pássaros me projetam o pensamento. O meu pai sempre me ensinou que a escrita devia andar de mãos dadas com a natureza, e que o poder das palavras se encontra na capacidade que temos de olhar aquilo que nos rodeia, tanto na simplicidade como na intensidade. Esta semana dividiu-se em dois mundos paralelos. Felizmente, o meu, encontrou na família e no amor a chave que precisava.
* com JMS

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