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Ideias

2025-06-08 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Celebram os muçulmanos a Festa do Sacrifício. Celebram os cristãos o Pentecostes. Celebram os judeus a Festa das Colheitas, ou das Primícias. Diferentes, mas iguais, como transparece. Iguais porque partilhemos fundamentos sobre os quais a vontade humana pouco pode, porque ninguém vá realmente contra si, contra uma evidência que um verbo profundo e meticuloso não descreve nem revoga. Não sei se por esta data os Zoroastristas assinalam algo de marcante em seus cânones, idem para os hindus, budistas, xintoístas, etc.
Festa do Sacrifício, quer dizer, do quase sacrifício de Isaac por seu pai, Abra?o. Sacrifício, porquê? Porque Deus assim houvesse expressamente ordenado, ou porque Abra?o o tivesse percebido em sonhos, tomada a verdade do sonho como um determinante factual incontestável, porque o sonho seja uma visão igualmente válida, porque a sombra da árvore sonhada seja gratificante como o é a sombra do duplicado vegetal, de que para mais tomamos pomo suculento.

Festa das Primícias, ou festa da oferenda a Deus da primeira espiga recebida terra, e portanto Isaac fora pedido, e portanto Abra?o suposto era que aquiescesse, e dizemos nós, talvez desde então, que Deus o dá, Deus o tira, adágio que não reforça humana impotência, mas que pelo melhor sublinha que algo nos ultrapassa, e qual de nós não esteve já na pele de quem age ou sente de modo que lhe parece absurdo, sem que possa impedir-se de sentir-se assim, ou de agir desse modo.
Metáforas, hipérboles, parábolas, alegorias, que constituem um discurso a par de outro discurso, legítimo o primeiro, o arcaico, quanto o segundo, o científico, o racional, o positivo, o experimental, sendo que sua racionalidade assista igualmente ao constructo ancestral, e eu o diga por paralelo, porque em psicólogo de aprendiz me instruíram a sondar a lógica intrínseca do delírio e da loucura, racional que existe e sem a compreensão do qual nada podemos avançar para mitigar o transtorno da pessoa que nos é presente.

Não estamos já na verdade poético-religiosa, mas ilude-se quem lhe nega flores e frutos nestes dias tricotados a fio científico, porque somos no presente quem fomos no passado, e bem nos entenderíamos com primos da era de Abra?o, nós lá, ou eles cá. Não faremos holocausto de filhos, mas sem objecç?o ou remorso sacrificamos gerações. Não nos vergamos a Deus, em Ideia ou Imagem, mas inclinamo-nos irracionalmente a profetas de pataco, a patriarcas de uma tribo de escolhidos, porque eles sim atinjam a Verdade e em seus cânticos exulte a Salvação.

Setembro passado levei a meio uma crónica que não ultrapassou esse estádio. Escrevia sobre a adulação aberrativa prestada a Elon Musk, mesmo entre nós: o homem mais rico do mundo!!! O génio de tudo, e até da política, e até da administração pública, americana e não só – planetária. Com Musk o terceiro calhau ao contar do Sol entraria numa era inaudita de eficiência. Exaltações do homem saído do nada, do super-homem autoconstruído – pura fantasmagoria de omnipotência, porque nós, de tanto enchermos a boca, desse néctar bebêssemos para saciação pascácia. Gabarolices dele e de Trump, acompanhadas por ofícios de matinas a completas de fiéis e discípulos.
Por tristeza se diga, mas com que frequência não nos entregamos a quem é pior do que nós? Com que frequência não transformamos o vício em virtude, a nulidade faiscante em sumidade matematicamente formulada? Se aderimos a alguém, independentemente das barbaridades que profere, porque todos previamente nos tenham decepcionado, não deveríamos nós arrancar orelhas por castigo pró- prio, por nos prestarmos ao logro uma e outra vez?

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