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Na roda alucinante da atualidade política

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Na roda alucinante da atualidade política

Ideias

2023-05-22 às 06h00

Felisbela Lopes Felisbela Lopes

Confesso que ando cansada da vida política portuguesa que é notícia. No Governo, as atenções centram-se no Ministério das Infraestruturas, embora todos saibam que o ministro João Galamba não dirá nada para além daquilo que expôs na Assembleia da República (AR), onde tudo parece girar em torno de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que há muito deixou para trás o mote que justificou o seu nascimento. Na Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa parece navegar à vista. À direita e à esquerda, todos correm à procura de uma oportunidade para se evidenciarem na crítica ao poder instituído. É esgotante este clima.
Pode parecer que desvalorizo os recentes acontecimentos em torno de um computador resgatado já a noite ia longa pelo Serviço de Informações de Segurança. Nada disso. Aquilo que se passou é extremamente grave e ainda não foi explicado o essencial. A começar pelo princípio: que critérios presidiram à escolha dos adjuntos do gabinete do ministro João Galamba, quais as competências que tinham para as funções que eram chamados a desempenhar e quais os (in)cumprimentos protagonizados pelo colaborador demitido. No Parlamento, não ouvi nenhum deputado levantar estas questões, mas o respetivo esclarecimento pode ajudar a perceber aquilo que se passou. Poucos sabem que a composição dos gabinetes dos governantes se faz com pessoas da estrita confiança de um ministro ou de um secretário de Estado. Por isso, o processo de recrutamento é célere. O despedimento também. Todos que trabalham nestes contextos conhecem bem estas regras do jogo.
Tendo isto em conta, aquilo que (mais) importa não é perceber o que aconteceu com o adjunto despedido, mas entender o que está para além deste triste episódio, ou seja, é imperioso regressar ao essencial: ao complexo dossier da TAP e à inexplicável gestão que tem sido seguida nos últimos anos, delapidando sem complacência quantias exorbitantes do erário público.
Na AR, os deputados devem rapidamente fazer outra gestão dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito. Ninguém aguenta sessões com horas intermináveis de perguntas com um elevadíssimo grau de redundância. Na quinta-feira, já perto da meia-noite, fiz a viagem Porto-Braga com o rádio sintonizado nos trabalhos parlamentares. Desde a saída do meu destino até à chegada a casa, apenas ouvi uma enfadonha troca de palavras entre representantes de diversos partidos sobre a possibilidade de intervenção de um deputado do Chega, que havia substituído André Ventura. Meia hora depois do início da discussão, concluía-se que o regulamento não prevê substituições na mesma sessão.
O ministro João Galamba que ali estava desde as 18h poderia aproveitar a estranha ocorrência para descansar. Quem acompanha tudo isto, simpatize ou não com uma das partes, não poderá deixar de interrogar-se se alguém estará capaz de produzir discursos coerentes depois de ser interrogado durante mais de seis horas seguidas... Não estará naturalmente em causa o direito de cada bancada em fazer as perguntas que se impõem, mas isso não permite transformar uma reunião daquelas num espetáculo verdadeiramente deplorável para todos.
Em Belém, há um Presidente atento, que agora deixou de ser uma peça adjuvante do Governo para assumir a posição de antagonista. Na sexta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou que iria falar aos jornalistas, depois suspendeu e, quando ninguém previa, desceu a rampa do Palácio, para dizer que ali a única fonte de informação era ele próprio. E não tinha mudado de opinião em relação ao Governo, sobretudo no que diz respeito a Galamba. Respondia indiretamente à manchete do dia do Expresso que titulava o seguinte: “Marcelo não segura Costa se Galamba cair”. Depois de responder aos média noticiosos, o chefe máximo da Nação fez “selfies” com quem passava e, antes de entrar em Belém, ainda procurou alinhar algumas pedras da calçada que estavam levantadas. Muito simbólico.
Nos próximos dias, teremos decerto mais episódios deste tipo, porque a onda noticiosa continua muito centrada nestes tópicos. Cansa. Muito.

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