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Não somos um Rio

Entre a vergonha e o medo

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Não somos um Rio

Ideias

2021-10-19 às 06h00

João Marques João Marques

Paulo Rangel deu o tiro de saída para a disputa interna da presidência do Partido Social Democrata, apresentando-se como candidato nas eleições diretas marcadas para o próximo dia 4 de dezembro.
Esta data, de resto, representa a sua primeira vitória e, inversamente, a primeira derrota interna de relevo de Rui Rio, desde 2018.
Como é sabido, Rio desejava adiar o processo eleitoral para momento distinto, atenta a aparente convulsão na geringonça, a qual pode mesmo vir a implicar a reprovação do Orçamento do Estado e a consequente queda do Governo.
Os conselheiros nacionais do PSD decidiram, por larga maioria, reprovar essa vontade e confirmar a data que o próprio Rui Rio tinha inicialmente proposto para a realização das eleições internas.
Este facto, aliado à expressão da derrota (obtendo pouco mais metade dos votos daqueles que optaram pela manutenção da data) torna muito complicada a sua reeleição.
Poderão, ainda, ter razão os apoiantes que lhe restam quando indicam, como fez Salvador Malheiro, que o Conselho Nacional não é representativo da vontade geral dos militantes, embora se estranhe a aferição tendo em conta que os conselheiros são todos...militantes.
Admita-se, até, por absurdo, que a loucura que Rio lhes apontou por não terem seguido a sua sugestão de alteração do calendário eleitoral represente um fator credível de avaliação da correção da opção tomada.
O que de nenhum modo pode ser desmentido, algo que os Rioístas reconhecem, é que a votação da passada quinta-feira foi uma derrota pesada para uma direção nacional que acalentava a esperança de que o desaire menos mau que o previsto das autárquicas fosse o tónico para a ressurgência de uma alternativa que verdadeiramente nunca o foi.
Não é automática a conclusão sobre a derrota de Rio numa eventual terceira candidatura por si protagonizada nas eleições de dia 4 de dezembro, contudo os sinais que vão sendo dados pelo partido adensam as dúvidas sobre as reais possibilidades de vitória. Quando se verifica que candidatos com real potencial de sucesso, como Luís Montenegro, não avançam; quando surpreendentemente se veem indefetíveis Rioístas a debandar, compondo agora o cenário que atrás de Rangel se empertiga para aparecer no enquadramento da imagem de TV ou da fotografia de jornal que os valide como seus homens de confiança; ou quando se “perde” algum tempo a falar com as bases, percebe-se bem que a via de Rui Rio para o êxito nunca foi tão estreita.
Ao ter optado por uma liderança de fação, centrada em si e suportada por negócios de lugares e conveniências de ocasião, Rio escavou a sua própria sepultura. Sem prejuízo do inestimável contributo da sua incompetência política para tratar assuntos tão prementes como a descentralização de competências, a reforma do sistema político ou a justiça, o mundo de polos opostos e intocáveis que foi fecundando através da ira pessoal contra figuras de relevo do seu próprio partido cortou-lhe qualquer possibilidade de estimular consensos internos e uma agregação sincera que pudesse suportar as horas menos más e catapultar a perspetiva de dias melhores.
Ao ter decidido anestesiar a voz do principal partido da oposição, eliminando a “gritaria” dos debates quinzenais e ao declinar a irrenunciável vocação de alternativa que o PSD tem de assumir, em permanência, sempre que não lidere o Governo do país, Rio zombificou o partido, tornando-o torpe nos movimentos e errático na estratégia. Se hoje perguntarmos a um qualquer presidente de distrital ou concelhia, o que é que o PSD pensa sobre um conjunto de questões matriciais, duvido que haja sequer uma minoria que consiga responder.
Ao ter procurado a pureza ideológica de um partido que nunca viu nessa segregação uma força, traiu aquilo que mais jurou proteger, encostando o PSD ao papel de uma redutora réplica do PS, tornando indistinta para o eleitor a diferença entre os dois e indetetável a valia de uma opção alternativa nas urnas de voto.
A maior falha terá sido, porventura, a ignorância sobre um facto aparentemente básico: não basta a um partido de dimensão nacional esperar pelo amadurecimento excessivo e petrificador de quem está no poder. Porque quando o poder cai, ele não cai em qualquer lugar, antes gravita para o espaço e para os protagonistas que tenham demonstrado competência para o exercer. Na ausência desse espaço e protagonistas, deteriora-se e fragmenta-se em partículas cada vez mais difíceis de unir.
Rio tinha obrigação de saber isto melhor do que ninguém, quer pela forma surpreendente como a sua ação incansável lhe rendeu a merecida vitória para a Câmara Municipal do Porto, em 2001, quer pelo movimento sub-reptício que criou, em 2013, então contra o próprio PSD, no apoio empenhado ao agora renegado Rui Moreira, seu sucessor.
É por tudo isto que, se hoje não sabemos se Rui Rio se irá candidatar, temos, todavia, como cada vez mais evidente que o PSD pouco se importa se o fará.

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