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NATAL europeu - ocidental

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NATAL europeu - ocidental

Ideias

2022-12-24 às 06h00

Pedro Madeira Froufe Pedro Madeira Froufe

Hoje é véspera de Natal.
Na Europa, no mundo dito ocidental, hoje celebra-se, à noite, a véspera de Natal. A “noite da consoada”. É a noite da “missa do galo” que introduz simbolicamente o dia do nascimento de Jesus. No entanto, creio que a simbologia religiosa, cristã (nomeadamente, apostólica-romana), tem vindo a perder vigor, comparativamente com o brilho de uma outra “quase-religião” que, em crescendo e ao longo dos anos, temos vindo a cultivar: a do consumismo (em especial, nesta quadra, como obrigação social)! Mas não valerá a pena estarmos, agora, a falar disso. Jean Baudrillard (“A sociedade do consumo”, reimpressão em língua portuguesa, já em 2022, “Edições 70”) foi dos primeiros a teorizar esse nosso estado de espírito e esse comportamento típico das sociedades ocidentais, industrializadas e…consumistas. Sociedades do “bem-estar”, com as suas “catedrais” (expressão de Baudrillard): os “shopping centers”. Não vamos falar disso agora. Recorrentemente fala-se, discute-se, com tons mais ou menos sentidos, com mensagens que, por vezes, apelam ao sentimentalismo, à comoção (com as reiteradas e consabidas injustiças do mundo, da distribuição da riqueza, dos Homens), com leves (ou pesadas) derivas anticapitalistas, mas tem-se falado sempre, aparentemente, com resultados inconsequentes. Nada muda, de ano para ano. Nem sequer aquelas musiquinhas de Natal, com período de validade de 15 dias/ano, frequentemente repetitivas umas das outras e em tons celestiais delicodoces! Nada muda: desde os engarrafamentos, as “batalhas campais” para se conquistarem lugares de estacionamento em parques sobrelotados, o ar compenetradamente histérico de uma grande parte das pessoas que se esquecem, às vezes e na vertigem das compras, do que o Natal deveria representar: paz e sossego, harmonia, equilíbrio e esperança. Mas, como disse, não vamos falar disso, não só porque é tema já gasto, mas também porque é fácil, nessas narrativas, descambarmos em moralismos sem sentido, em críticas ilegítimas aos outros e a nós próprios. Entre nós, o Natal (sobretudo, o período pré-noite de Natal) é o que é e pronto!

Mas importa recordar que este ano, apesar de tudo, uma parte da Europa vai viver uma noite muito difícil. Há uma guerra. Há povos martirizados e há, sobre- tudo, uma expectativa ansiosa quanto ao desenlace dessa guerra. Ainda esta semana, a uma visita (quase) de surpresa para a opinião pública do Presidente da Ucrânia à Casa Branca, escutamos a resposta de Putin, com um tom (novamente) de relativa ameaça. Paira no ar o receio de que, tal como na 2ª Guerra mundial, as pulsões expansionistas e autoritárias de uma das partes, possam irreversivelmente generalizar (ou quase) o conflito. Sobretudo na Europa, apesar das desatenções e histerismo com o Natal consumista de muitos de nós. Na verdade, esta guerra é “na” e “da” Ucrânia, porém, em representação da Europa, do “modo de vida europeu” (no qual se inclui, também, aquele nosso Natal, com a sua simbologia religiosa e também as suas representações comerciais). Os valores da democracia, do Estado de Direito, dos Direitos fundamentais e da proteção das minorias lutam, igualmente, no território da Ucrânia.

E seria um bom exercício de solidariedade natalícia (até em proveito próprio, em preservação do nosso modo de vida), pensarmos que um Natal assim, mais ou menos consumista e privilegiado, caso esta guerra se prolongue ou tome outras proporções (que ninguém deseja), já não será possível manter-se. Poderemos, tal como durante a 2ª Grande Guerra, não ter nem condições materiais, nem paz de espírito para o vivermos desta forma, com as tonalidades descritas (entre outros) por Baudrillard.

Claro que também é tempo de esperança. Até agora o denominado “mundo ocidental” tem-se mantido, mais ou menos firme, na defesa dos valores europeus, quer dizer, dos valores que, no fundo, são também atacados na guerra na Ucrânia. A União tem mantido, com mais ou menos assertividade, a sua linha de rumo em defesa do que é um quadro de valores civilizacionais, resgatados pelo Iluminismo. Por outro lado, creio que nos preparamos na Europa (sobretudo, na Europa integrada) para uma nova ordem, pós-guerra na Ucrânia. A ideia lançada e já em marcha de se institucionalizar, em paralelo e em articulação com a União, uma “Comunidade Política Europeia” (ideia do Presidente Macron) poderá ser vista como um exemplo dessa reflexão e dessa preparação dos Estados – membros, para novos tempos.
O Natal é, também, tempo de esperança, de nascimento, neste caso, de uma nova etapa no processo de integração; ou de afirmação de uma Europa unida, na sua natural e rica diversidade….

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