Uma ação deita por terra o trabalho de anos!...
Escreve quem sabe
2021-11-29 às 06h00
Mobilidade é o resultado do cruzamento das acessibilidades e dos sistemas de transporte. É economia e infraestrutura, comportamento e modo de vida. É quotidiano e excepção. Implica partilha e compreensão. Como tal… entendimento!
Retomando a palavra estruturante do último texto – entendimento – se há tema central que exige entendimento, e que reclama acordo e compromisso, é o tema da mobilidade. Todavia, se há tema central que se revela tão difícil de se consensualizar e de se materializar na sua boa resolução é a mesma mobilidade.
É convicção de que é consensual entre todos nós, aqueles que, de uma forma ou outra, actuam sobre a cidade, de que o direito ao espaço público é um direito tão indiscutível quanto inalienável, tão evidente quanto necessário. E não se trata do direito ao espaço público somente como veículo para a criação de condições necessárias e reguladoras dos nossos outros direitos, como a habitação, expressão, manifestação ou deslocação. Trata-se também, e fundamentalmente, como expressão de qualidade de vida enquanto componente social e comunitária - local de encontro e relação, local de usufruto colectivo e expressão individual - e enquanto sinónimo de bem-estar, na promoção de níveis de ruído, qualidade do ar, entre outros, compatíveis com o conforto que a vida contemporânea exige e pressupõe.
O espaço público é, assim, tão natural nas nossas vidas, ou melhor, deveria ser tão natural que o mesmo não deveria ser questionável e alvo de sobreposição, no caso do presente texto, focalizado entre as pessoas e os automóveis. Ou seja, não deveria ser alvo de usurpação dos segundos em detrimento da secundarização das primeiras, não deveria ser objecto de adulteração do seu uso ou deturpação do seu fim último.
Sendo assim tão evidente o valor e a qualidade absoluta que o espaço público, em tese, possui, seria natural que a correcção da utilização adulterada e deturpada do espaço público que hoje se observa fosse tão consensual e maioritária quanto de fácil e directa concretização. Porém, ao invés desta expectativa, observa-se em múltiplos cenários e contextos resistência à mudança da realidade instalada, à reforma ou ruptura dos modos de transporte e deslocação, à adopção de medidas mitigadoras e atenuadoras de movimentos pendulares e de estacionamento automóvel predadores de solo e espaço público. Mais ainda, em múltiplos cenários e contextos, observa-se ainda a priorização da resolução de problemas viários, sejam infraestruturais ou de tráfego, numa incoerência entre “o discurso e a prática” que, a muitos deixa atónitos, a todos deixa a sensação amarga de que “fazer caminho” tarda muito…
Na verdade, e ao contrário da ideia preconcebida de que a defesa do espaço público traduz uma luta contra o automóvel, trata-se somente de se demonstrar e visibilizar de que não são precisos tantos automóveis, de que se forem adoptadas medidas facilitadoras de outros modos de transporte, de outros modos de vida em que a proximidade casa – trabalho – escola – compras é mais central e real, de que se forem conduzidas acções tendentes à criação de “tempo bom de usufruto” e não “tempo mau de consumo automóvel”, tudo poderá ser diferente e melhor.
Não se trata de uma luta “contra” o automóvel, mas sim um caminho “com” o automóvel. Apenas, é convicção, com todos no seu devido lugar e na proporção certa de intensidade e densidade.
Acredita-se, cada vez mais, numa mobilidade como tradução de um modo de vida e não como prestação de serviços. Mobilidade que integra o quotidiano, acrescentando qualidade e gerando oportunidades, e não numa mobilidade como serviço que nos transporta do ponto A ao ponto B, numa relação origem – destino sem interacção ou acontecimentos complementares.
Ao longo dos últimos anos, a questão da mobilidade ganhou protagonismo e relevância. Mesmo que, muitas vezes, a recorrência à palavra tenha sido excessiva e abusiva, tantas vezes, deturpando-se o seu significado, reconhece-se que, se mérito mínimo tiveram estes últimos anos, foi colocar a “mobilidade” como tema incontornável quando se fala da Cidade e das cidades. Mas também se reconhece que muito poderia ter sido feito, muito ficou aquém do desejável, muito ficou por ousar. E tal aconteceu, não porque os actores envolvidos não partilhassem da análise das necessidades, não que faltasse vontade e interesse. Apenas porque foram incapazes de consensualizar e enten- derem-se, ora por falta de coragem sobre implementação de acções afirmativas e disruptivas, ora pelo medo das reacções e contestação, ora pela falta de sentido na proporção no conforto e bem-estar individual.
A Cidade é feita de entendimento e compromisso. E é tão inevitável e incontornável que não vale a pena lutar contra tal. Faz parte, é inata ao seu respirar… E, dentro desta, a mobilidade depende desse entendimento e compromisso, na verdade, as causas reais da construção de um espaço comum e partilhado, legitimamente chamado espaço público.
Assim consigamos alcançar o entendimento!
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