Entre decisões e lições: A Escola como berço da Democracia
Ideias
2025-04-29 às 06h00
A festa da democracia, do voto, da liberdade, da essência da condição humana. O 25 de Abril cumpriu-se, mais uma vez, com uma adesão assinalável do povo português.
Sim, é verdade, nem todos desfilaram em avenidas, mas parece cada vez mais claro o lugar desta data no contexto nacional.
À medida que o tempo passa, criam-se as condições para que os iludidos e os desiludidos, os férreos apoiantes e os céticos aderentes consumem um espaço de concórdia e unanimidade que permita ao país ter uma data (re)fundadora.
Não se esquecem, nem é suposto esquecerem-se, os defeitos de um processo revolucionário, como não se apagam as eventuais promessas que ainda estão por concretizar, mas como bem lembrava António Barreto num artigo no jornal Público do passado fim-de-semana, o 25 de Abril tinha um propósito e cumpriu-o – liberdade.
Temos hoje liberdade para concordar, discordar, eleger e ser eleito como não tínhamos no dia 24 de Abril de 1974.
Os fundamentos para fazermos, não fazermos, tentarmos e falharmos ou nem sequer tentarmos foram-nos dados por esse momento inicial. Somos livres.
No ano em que começamos a aproximarmo-nos mais do centenário do que do nascimento deste momento transcendente, devemos permitir-lhe o grau de perfeição e imperfeição que admitimos a qualquer momento histórico de superior relevância. O que verdadeiramente importa é estimar as datas que são maiores do que cada um de nós pelo seu valor facial. Um valor facial que não serve para esconder nada, mas que é o reflexo do mínimo denominador comum que teremos, enquanto sociedade, de saber reconhecer aos eventos que estruturam a nacionalidade.
Sim, Portugal é (também) Abril. Mas Abril não se confina às fronteiras do país. Portugal edificou uma noção de liberdade que é a tradução portuguesa de um ideário que é transversal à humanidade.
E isso mesmo foi demonstrado na passada sexta-feira, numa iniciativa promovida pela Assembleia Municipal de Braga, a Assembleia Municipal Jovem. Deste sério faz-de-conta concelhio, em que os jovens das várias escolas de Braga foram chamados a participar, saiu um conjunto de propostas muito interessante, o qual foi apresentado na sessão da Assembleia Municipal dos graúdos que servia justamente para evocar o aniversário do 25 de Abril.
Ao longo de alguns meses, os mais jovens organizaram-se nas suas escolas, elegeram listas, debateram ideias e foram defendê-las perante os colegas das outras escolas nas sessões plenárias da Assembleia Municipal Jovem. Como corolário, e depois de escolherem, pelo voto, um conjunto de projetos e propostas que entenderam serem benéficas para o concelho, tiveram a oportunidade de as apresentar na sessão plenária da Assembleia Municipal de Braga, perante os vereadores e os deputados nela representados.
Não deixou de ser relevante que as três ideias escolhidas revolvessem em torno da habitação, mobilidade e segurança. Apesar de serem alunos do ensino secundário e profissional, os jovens sentem bem as questões que se refletem no quotidiano de todos. A criação de uma residência para alunos deslocados, a implementação de um bilhete único para diferentes meios de transporte e o desenvolvimento de iluminação em zonas sensíveis e com recurso a energias renováveis acabaram, assim, por ser apresentadas aos vários grupos parlamentares e à própria Câmara Municipal.
Sem prejuízo das eventuais dificuldades que a sua implementação possa implicar, lancei o apelo, logo nesse dia e aqui repito, de que todos os partidos traduzissem nos seus programas políticos para as eleições autárquicas deste ano afloramentos destas ideias. Não desmerecendo a possibilidade de até ao final do mandato, ocorrerem iniciativas dos diferentes grupos para tornar estas medidas um pouco mais realizáveis, os agentes políticos locais têm o dever de aproveitar os bons contributos da sociedade civil e responder positivamente aos anseios das populações numa lógica estruturada.
Isto não tem de significar aceitar ou acolher acriticamente todos os contributos, mas, até por isso, o processo de reflexão sobre estas ideias deve fazer-se numa ótica de projeto, com frontalidade e realismo, sem nunca perder de vista o horizonte da ambição.
Como mencionei, e voltando à evocação dos 51 anos do 25 de Abril de 1974 e dos 50 anos das primeiras eleições livres, o ideário que celebrámos convoca instintivamente a adesão de qualquer pessoa para os seus méritos. Prova maior desta premissa foi a escolha, como porta-voz dos alunos para apresentar as ideias maioritariamente sufragadas pela Assembleia Municipal Jovem, de um estudante estrangeiro que hoje vive e estuda em Braga. O Matheus (com “h”, como repetidamente nos lembrava durante a sessão) e os seus colegas demonstraram que a liberdade está para a democracia como o ar para os pulmões.
E assim, juntos, celebrámos esta festa que queremos repetida e revigorada todos os anos, desejavelmente com mais bons exemplos vindos da sociedade e espelhando a plena realização das possibilidades que Abril nos legou.
15 Maio 2025
15 Maio 2025
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