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Não se enterram os desafios

Assim vai a política em Portugal

Não se enterram os desafios

Ideias

2024-05-19 às 06h00

Mário Meireles Mário Meireles

Perante o atingir de números absurdamente elevados na utilização do carro nas deslocações diárias e, sobretudo, nas deslocações curtas, a cidade depara-se com desafios complexos na mobilidade. A complexidade não os torna impossíveis de resolver, apenas é necessária uma visão política e conhecimento para a implementar.
Em Braga, no início deste século, optou-se por desnivelar os cruzamentos, para que quem fosse de carro não tivesse que abrandar e parar nos cruzamentos. Com isso criaram-se situações de fratura urbana, de problemas na vivência urbana, de aumento de sinistralidade, de velocidades inaceitáveis, de promoção exagerada e radical do uso do carro.
Criar infraestrutura rodoviária enterrada apenas desequilibra ainda mais a mobilidade, porque se está a dar vantagem ao carro. As deslocações em Braga são feitas dentro do Concelho, 79%! Destas, 55% são efetuadas de carro e em distâncias até 3 km, que é qualquer coisa como ir da Rotunda das Piscinas até à Rotunda do Santos da Cunha. Apenas 2% das deslocações atravessam o Concelho e as restantes 19% têm origem ou destino em Braga. Portanto, o desafio da mobilidade está nas deslocações internas, e essa deve ser a prioridade.
Fazer trincheiras ou túneis para os carros continuarem a circular a velocidades elevadas em pleno centro da cidade, dizendo que com isso resolverão o problema, é uma fantasia e uma falácia. Com isso apenas se agravam os problemas, criando ainda mais barreiras na cidade.
No presente e no futuro já não é socialmente admissível enterrar dinheiro em túneis para os carros circularem na cidade. Não se enterram os carros que circulam em deslocações na cidade, sendo que com isso apenas estamos a convidar ainda mais as pessoas a usarem carro para todas as deslocações, criando mais problemas e mais barreiras a quem pretende e pode andar a pé, de bicicleta ou de transportes públicos.
Enterrar o transporte público rodoviário, não tem paralelo no Mundo, e aparenta ser uma hipótese em algumas das imagens agora vindas a público do BRT. 
Os cruzamentos desnivelados, que servem para dar vantagem ao carro, retiram capacidade e prioridade ao transporte público. Quem propõe manter os túneis e viadutos, ou construir novos, demonstra uma profunda ignorância dos sistemas de mobilidade, da complexidade de trabalhar com túneis com estações enterradas para os transportes públicos (ventilação, desenfumagem, bombagem de águas, escadas mecânicas, acessos a pessoas de mobilidade reduzida, acessos exclusivos para manutenção e emergência, …) e dos problemas sociológicos que, por exemplo, os metros pesados enfrentam pelo simples facto de serem enterrados, onde 4% das pessoas não entra por ter que ir para um sítio fechado debaixo da terra.
O caminho passa por restabelecer os cruzamentos eliminando os desnivelamentos, para que as velocidades reduzam, a segurança aumente e o espaço passe a ser mais democrático, possibilitando a sua redistribuição pelas pessoas que andam a pé, de bicicleta e de transporte público. A cidade acalmará nesses pontos e permitirá uma maior fruição do espaço público, ao mesmo tempo que permite uma verdadeira redistribuição e priorização dos modos sustentáveis.
As novas apresentações sobre o BRT e as declarações dos responsáveis políticos dizem-nos que se vão humanizar as Avenidas por onde passa o BRT e vão acabar com as cicatrizes e autoestradas urbanas. Mas nos documentos de lançamento do concurso para o Estudo Prévio dizem que as soluções estão todas em aberto, não evidenciando a suposta visão do dono de obra para estas Avenidas. 
Como se humaniza uma Avenida sem acabar com os túneis e viadutos para dar lugar a estações e cruzamentos semaforizados de nível? Vai-se humanizar este eixo, criando espaço para o transporte público e para as bicicletas, com as ciclovias previstas no PDM? A resposta aparenta ser “quem fizer o estudo prévio (o projetista) é que vai

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