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Não somos todos iguais

Analogias outonais

Não somos todos iguais

Ideias

2024-09-05 às 06h00

Bruno Gonçalves Bruno Gonçalves

Não é da minha natureza alinhar com profetas da desgraça. Aqueles que passam o tempo a criticar o país e a prever um futuro pior, que esvaziam o balão da esperança e acicatam a frustração. Até porque é precisamente nesse caldo social e cultural que a extrema-direita mais avança, oferecendo soluções tribais com base no ódio e na discriminação, apontando bodes expiatórios e, em simultâneo, descredibilizando as instituições democráticas.
Mas admito que esse discurso ressoa com portugueses para quem o dia-a-dia não parece melhor. Pessoas que sentem a política e os políticos como uma esfera distante da vida real e dos seus problemas práticos. Seja porque o custo de vida aumentou, em particular os preços da habitação; porque assistem à emigração de milhares de jovens e quadros qualificados; ou até porque notam a perda de competitividade económica europeia, sobretudo em comparação com China, ou EUA.

Perante esta realidade, a responsabilidade dos políticos sérios não é ostracizar as pessoas que, embaladas pelo cansaço e desânimo, se deixam cativar pela retórica populista. Estou convicto de que o nosso exercício deve ser precisamente o oposto: reconhecer os problemas que existem, empatizar com quem tinha aspirações que ficaram por cumprir, explicar e executar as soluções que realmente podem trazer uma mudança.
Não é com fórmulas velhas de fazer política que conseguiremos verdadeiramente combater a extrema-direita e o populismo anti-sistema. Só com humildade e sentido de compromisso será possível reconstruir um elo de confiança. Este desafio maior dos partidos democráticos implica uma maior abertura à sociedade civil assente numa nova forma de fazer política - tanto no estilo, como no conteúdo. É esse o antídoto contra quem vende narrativas de medo e divisão.

Estar próximo das pessoas, na rua e na esfera digital, consultar as universidades e aproveitar o conhecimento que produzem, dialogar e cooperar com organizações não-governamentais, visitar e perceber a experiência das empresas. Criar um movimento agregador e universal, onde se constrói convergência em vez de crispação e sectarismo. Com ideias políticas e valores fundamentais, sim; mas menos foco em dogmas e idiossincrasias ideológicas, mais na forma pragmática de entregar resultados práticos.
Este é o caminho para que todos voltem a acreditar na política e na capacidade desta em alcançar um horizonte melhor, tanto para cada um, individualmente, como a nível comunitário. Foi com essa visão que abracei a responsabilidade de ser eurodeputado pelo Partido Socialista e mediante a qual trabalharei durante os próximos cinco anos deste mandato parlamentar para promover uma sociedade mais justa, seja a nível europeu, nacional ou local.
Nasci e cresci no Minho, estudei na nossa Universidade, vejo o potencial da região e do país. Quero que os jovens da minha geração, assim como todos os trabalhadores e famílias da nossa terra, sintam que aqui há oportunidades para o seu crescimento pessoal e qualidade de vida. Quero que o tecido empresarial acredite no nosso futuro e que invista aqui, apostando na transformação da economia. Quero que o elevador social seja amplo e bem lubrificado, oferecendo perspetivas a todos.

Consegui-lo implica uma estratégia ousada de desenvolvimento económico que seja, em simultâneo, ambientalmente sustentável e socialmente inclusiva. E a transição verde, associada ao combate às alterações climáticas, apresenta-se como uma oportunidade única para alcançarmos estes objetivos críticos. Com novas instalações industriais, focadas na produção ecológica, poderemos não só melhorar a competitividade do país, mas também criar empregos mais qualificados e bem remunerados, elevando as condições de vida para todos.
E ainda que essa crescente sofisticação da nossa economia nos resolva uma parte crítica do problema, o bem-estar dos cidadãos vai além disso. A crise habitacional é um dos principais entraves à concretização dos projetos de felicidade que cada um idealiza. Ter uma casa é mais do que um tecto; é a base sobre a qual construímos a nossa vida, é fonte de dignidade e de estabilidade. Sem habitação, é impossível falar de verdadeira emancipação pessoal.

O Estado, infelizmente, hesitou agir durante demasiado tempo. Só recentemente, durante o último Governo, passou a entender a habitação pública não apenas como uma via de último recurso para as famílias carenciadas, mas também como um garante de que as classes médias conseguem suportar os custos de arrendamento ou de pagamento da prestação ao banco. Esta mudança de mentalidade foi importante e abriu portas a novas soluções.
Para tudo isto, felizmente, há fundos europeus disponíveis. Enquanto eurodeputado, podem contar com o meu trabalho atento para garantir que as preocupações de Portugal e dos portugueses são acauteladas no Parlamento Europeu, em particular no âmbito da comissão de Indústria, Investigação e Energia. Ao Governo nacional, exige-se o fundamental: competência e ambição para traduzir todos estes recursos em resultados práticos (infelizmente, os primeiros indícios não são os mais positivos, basta ver a forma simplista como foram abordados os problemas no SNS, provocando o caos total nas urgências durante este verão).
Podemos ter um futuro melhor aqui, no nosso país, mas para isso precisamos de uma ambição que não esteja limitada pela preservação do poder, mas sim orientada pela vontade de mudar, de fazer diferente, de fazer melhor. Focada naquilo que resulta e que oferece resultados tangíveis na vida das pessoas. Só assim as pessoas podem voltar a acreditar na política e no seu poder transformador.

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