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Nobel da Economia 2022: Bancos e crises financeiras

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Nobel da Economia 2022: Bancos e crises financeiras

Ideias

2022-12-31 às 06h00

António Ferraz António Ferraz

Os economistas norte-americanos Ben S. Bernanke, Douglas W. Diamond e Philip H. Dybvig, foram os laureados com o “Prémio Nobel da Economia 2022” pela Real Academia de Ciências da Suécia (RACS). Os autores foram premiados pelas suas investigações desenvolvidas na década de 1980 sobre os bancos e a sua relação com as crises financeiras. Elaboraram modelos teóricos explicativos da razão de ser dos bancos, de como o seu papel na sociedade os torna vulneráveis a rumores sobre o seu colapso iminente e de como a sociedade pode mitigar tal vulnerabilidade. Segundo a RACS “os trabalhos que Ben Bernanke, Douglas Diamond e Philip Dybvig realizaram foram cruciais para investigações posteriores que melhoraram a nossa compreensão sobre bancos, regulação bancária, crises bancárias e como as crises financeiras devem ser geridas”.

Ou seja, foi o reconhecimento aos três economistas por terem melhorado de forma significativa a compreensão do papel dos bancos, em particular, durante as crises financeiras (como, por exemplo, na crise financeira de 2008), sobre como regular os mercados financeiros e porque evitar colapsos dos bancos é vital para a economia. Se assim não for, os colapsos dos bancos teriam uma alta probabilidade de alavancarem crises financeiras mais profundas e duradoras. Aliá, a aplicação prática das teorias dos laureados na crise de 2008, foi o motivo pelo qual a crise não se transformou numa “nova Grande Depressão dos anos 1929-1933”.

Aborda-se, agora, os três grandes contributos dos laureados na melhoria da compreensão do papel dos bancos na sociedade, a saber: (a) como os bancos podem afetar o desempenho da economia; (b) como a banca face a crises financeiras pode exercer um papel relevante ao evitar que as crises se tornem mais profundas e duradouras com o colapso bancário; (c) como os Bancos Centrais e os Governos podem regular o funcionamento da banca – tornando-a mais resiliente ao criarem seguros de garantia de depósitos e qual o objetivo de o Banco Central injetar enormes quantidades de liquidez no sistema bancário, quando surgem problemas.

(1) Diamond e Dybvig mostraram como os bancos têm uma função socialmente importante ao desempenhar o papel de intermediação financeira entre aforradores e investidores na canalização do dinheiro para o sistema bancário e, logo, para a economia. Assim, os bancos são mais adequados para avaliar a qualidade do crédito dos investidores e garantirem que os empréstimos sejam usados para bons investimentos. Os bancos permitiriam ultrapassar o natural desfasamento no tempo entre as intenções de aforrar e de investir dos agentes económicos.
(2) Bernanke usando fontes históricas e métodos estatísticos, mostrou quais fatores são relevantes na queda do Produto Interno Bruto (PIB) de uma economia. Aponta fatores diretamente ligados aos bancos que ao entrarem em falência são os responsáveis pela maior parte dessa queda. A sua investigação teve como referência a Grande Depressão de 1930, mostrando como as corridas aos bancos se tornaram num fator decisivo para que a crise financeira se transformasse numa crise mais profunda e duradoura. Desta forma, permitiu saber como evitar que crises financeiras se transformem em depressões de longo prazo com graves impactos para a sociedade, o que é do maior benefício para as pessoas.
(3) Diamond e Dybvig apontam ainda para uma solução específica em ordem a mitigar a vulnerabilidade bancária, o que passa pela existência de garantias de seguros dos depósitos pelo Governo.
Na verdade, os aforradores pretendem acesso imediato ao seu dinheiro em caso de gastos inesperados e os investidores precisam de saber que não serão obrigados a pagar empréstimos de forma inesperada. Os bancos oferecem solução para tal problema, atuando como intermediários que aceitam depósitos de muitos aforradores e que permitem que os depositantes tenham acesso ao seu dinheiro quando o pretendem e, em simultâneo, com a oferta em empréstimos de longo prazo aos investidores. Porém, tal facto torna os bancos vulneráveis face a rumores sobre o seu colapso iminente. Se um grande número de aforradores correr ao mesmo tempo ao banco para sacar o seu dinheiro, ocorre uma corrida imparável ao banco e o banco colapsa. Esses processos serão evitados quando os aforradores sabem que o Estado garante o seu dinheiro e, logo, não precisam correr aos bancos ao surgir rumores sobre falências ou corridas bancárias (em Portugal, por lei, a garantia de seguro de depósito pelo Governo tem um limite de cem mil euros por banco).
(4) Aplicando, na prática, essas teorias em verifica-se que com o advento de crises financeiras, os Bancos Centrais e o Governo para evitar que as crises se tornem mais profundas e duradouras, devem: (a) regular a atividade bancária; (b) criar seguros de garantia de depósitos pelo Governo; (c) intervir no mercado monetário interbancário injetando uma elevada quantidade de liquidez nos bancos (emprestando aos bancos em apuros) para travar as corridas, o que não deixará de ter repercussões económicas positivas.

Por fim, será de realçar que a aplicação das teorias dos três economistas laureados Nobel 2020 na crise financeira de 2008, iniciada com a falência do grupo financeiro internacional Lehman Brothers, permitiu evitar que a crise não redundasse numa crise financeira tão profunda e duradoura como a verificada com a Grande Depressão de 1929-1933.

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