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Nós, a Enfermagem e os Outros

Os perigos do consumo impulsivo na compra de um automóvel

Ideias

2012-09-26 às 06h00

Analisa Candeias Analisa Candeias

Talvez decorrente da minha atual preparação para o início do ano letivo, sinto a importância de falar da Enfermagem como uma profissão de excelência no que respeita a cuidar o Outro. Não apenas o Outro, que geralmente é reconhecido como alguém que necessita de cuidados de Enfermagem e como sendo nosso - que habitualmente é designado como doente e subtilmente confinado a uma instituição hospitalar - mas todo o Outro como fazendo parte das nossas vidas enquanto enfermeiros. Porque as atividades de Enfermagem não se esgotam no tempo ou turno de trabalho. Porque as nossas responsabilidades enquanto enfermeiros não terminam quando o
Outro sai e já não necessita dos nossos cuidados.

Porque a Enfermagem se inicia quando existem necessidades em que é urgente intervir. Porque na Enfermagem, profissão quase ame-ninada e apenas centenária, o Outro é refletido como extensão daquilo que podemos fazer por ele.
Embora trabalhando numa instituição ligada ao ensino e à investigação em Enfermagem, assumo-me principalmente como enfermeira. Não somente pela orientação de estudantes a nível hospitalar ou pelas minhas apetências pessoais e curiosidade pelas novas tecnologias e novos desenvolvimentos na área da saúde, mas principalmente por-que esta foi uma profissão que me escolheu há já alguns anos, e pela qual sinto que existe um longo caminho a percorrer.

Neste caso, pelo Outro que se senta numa cadeira, na sala de aula ou laboratório, disposto a ouvir-me e a entender melhor o que é realmente a Enfermagem. Sim, por-que os meus estudantes (com a legitimidade de os chamar de “meus estudantes”) são igualmente o Outro.

Esse Outro que similarmente necessita de cuidados, seja ele o estudante que entra pela primeira vez numa sala de aulas de uma qualquer universidade, com ansiedade pelo que virá e será, ou aquele Outro que se encontra numa fase final de graduação, preocupado com o que se seguirá.
Durante o último ano, tenho assistido ao fenómeno de que, em qualquer contexto e a partir de qualquer tema ou em qualquer conversa com algum dos estudantes com quem lido diariamente, as preocupações e apreensões com as atuais conjunturas sociais e económicas estão presentes.
Natural, correto?

A mim também me parece que sim. O que realmente me deixa preocupada é o crescendo com que este fato tem ocorrido. Sinto, em sala de aula, as inquietações das diversas famílias, as questões das diversas comunidades a que estes Outros pertencem. Sinto as necessidades também em crescendo, as dualidades perante tomadas de decisão de mudança de vida e, por vezes, as necessidades de abdicar da vida académica e estudantil. Pois bem. Aí também somos Enfermagem. E aí igualmente somos cuidado ao Outro que o requere. E que ao mesmo tempo aprende connosco. E que aprende a ser Enfermeiro.

Outras novas questões que marcam o seio da Enfermagem portuguesa, colocadas abundantemente pelos futuros enfermeiros, estão ligadas à emigração, à globalização e ao “fazer-se ao mundo” (como outros preferem chamar).

Pergunto-me o porquê da aposta na educação e formação destes futuros profissionais de Enfermagem não fazer sentido ser aproveitada pelo nosso sistema de saúde e, simplesmente, ser incentivada a diluir-se na-quilo que se chama de rede europeia, rede global. Sim, novos países acolhem os nossos enfermeiros. São considerados como excelentes profissionais, com excelente técnica e formação, muito treino e acima de tudo, com grandes preocupações pelas questões éticas, relacionais e desenvolvimento do conhecimento científico.

Afinal, é o Outro para lá das fronteiras terrestres e marítimas que aproveita os nossos cuidados de Enfermagem, a nossa educação e a nossa formação. Em contrapartida, e com alguma alegria por nada estar perdido, vejo, nos co-legas enfermeiros que foram trabalhar para outro país, o entusiasmo do primeiro emprego, a descoberta pelas novas culturas e por novas maneiras de cuidar, a vontade de conhecer esse Outro, que é tão global como qualquer um de nós.

Existem outras arcaicas questões que teimam em permanecer, quase tão antigas como a profissão, e sempre alimentadas pelas diversas conjunturas que surgiram através dos anos e que se resumem à nossa imagem de Enfermagem, aquilo que é ser realmente enfermeiro.
Vejo ao longo dos tempos esta imagem a ser socialmente modificada, na minha perspetiva a melhorar, porém, muitas vezes, por ação das populações e comunidades carentes de cuidados.

Temos, como profissão, de cuidar melhor daquilo que somos e acima de tudo, daquilo que podemos oferecer. Estudar as carências de cuidados, ver o que realmente é importante e essencial nas pessoas, centrarmo-nos naquilo que certamente temos como nosso, na nossa própria linguagem, ou seja, dirigirmo-nos, como Enfermagem, ao Outro.

Deste modo, e aludindo novamente ao início do ano letivo na academia, esta semana iniciaram-se as aulas dos “caloiros” da Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho. São caras que já vou conhecendo e cumprimentado, caras em que vejo curiosidade, entusiasmo e algum receio das tão badaladas “praxes”.
Assim, e de forma muito pessoal, gostaria de dar as boas vindas a alguns dos Outros, os meus novos estudantes, que também serão Enfermagem.

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