Arte, cultura e tecnologia, uma simbiose perfeita no AEPL
Ideias
2020-04-20 às 06h00
Há momentos em que a vontade de escrever não acompanha o silêncio do momento, afigurando-se uma contradição inerente e exclusiva de quem detém desejo de desenhar palavras e é incapaz de vencer esta barreira chamada confinamento ou distanciamento social.
Na verdade, a vontade de escrever leva a este texto alguns dias antes da sua publicação, correndo o risco de ser surpreendido ou ultrapassado pela realidade alterada. Mas, nem por isso deixa de ser verdadeiro – porque sincero – e necessário – porque expressão de um impulso feito combate ao silêncio e vazio agora instalados na cidade.
Ao percorrer a cidade, nas horas e nas condições em que tal é possível e viável, reina o silêncio e o vazio, palavras que nunca encontraram (ou não deveriam encontrar) eco no nosso espaço comunitário privilegiado chamado cidade. O que, por mais contraditório que possa parecer, induz uma vontade de escrita enorme enquanto grito de revolta e insatisfação, enquanto grito de procura e esperança que tudo irá mudar e, num mundo que vira e revira, rebola e volta a girar, mais uma vez, saberemos dar a volta certa. Sim! Saberemos dar a volta certa porque, por muitos erros cometidos, ambições desmedidas, imposições e adulterações produzidas, a humanidade já demonstrou que é capaz… assim queira, assim se una para lutar e conquistar.
No meio deste silêncio e vazio que nos impele a uma luta sem igual e dedicação ainda mais carregada, ficam algumas “notas soltas” para leitura e reflexão:
1. O momento é de aprendizagem e de apreensão. Para uma sociedade que julgava “tudo saber e tudo dominar”, “tudo ultrapassar e responder” fruto do seu poder tecnológico, o momento é de perplexidade perante o desconhecido (e, portanto, de apreensão de dados e informação que permitam investigar e produzir conhecimento para depois actuar e aplicar) e surpresa perante aquele indomável vírus (e, consequentemente, de aprendizagem de modos de vida compatíveis com tal, de forma de actuar superior e sobreposta aos seus efeitos).
Feito de apreensão e aprendizagem, o momento também é de experimentação e de compreensão. Experimentar e tentar soluções e caminhos que nos permitam avançar e vencer. Compreender no sentido de que “tudo isto é novo” e urge “actuar pensando” e “pensar actuando”, num percurso paralelo tão exigente quanto dinâmico, sendo (assim) natural erros, lapsos, correcções, nem sempre as melhores opções e soluções, …
2. O momento é contraditório, feito de tensão e confronto entre contrariedade e oportunidade: contrariedade por todos os prejuízos, inibições, condicionalismos que gera; oportunidade para mudar o que já se constatou errado e que não funciona. No fundo, oportunidade para crescer e, mais do que tudo isto, independentemente do tempo que tomar, melhor!
E é contraditório porque apela ao distanciamento social e ao afastamento físico quando, na verdade, o que nos pedem é que salvaguardemos distância física na proximidade social, que o afastamento corpóreo seja feito de comunhão de objectivos e sentimentos. Devemos afastar-nos e confinarmo-nos. Mas, necessitamos, talvez mais do que nunca, de nos aproximarmos e sentirmos o conforto da presença do outro, reinventada em manifestações imaginadas e criativas, num digital nunca tão reclamado, aceite e útil, em palavras gritadas que, tantas vezes, recusamos dizer por pudor, medo ou vergonha;
3. O momento é de crise mas não pode deixar de ser de esperança. Ao contrário do que fomos aprendendo – o melhor é prevenir e planear, antecipar e preparar – desta vez, talvez não fosse possível de outra forma que não reagir e remediar, esperando e acreditando que saberemos trilhar o melhor caminho.
O momento é de crise (que, em diferentes momentos, se acentuará e criará “mossa”, perturbação, desanimo, … ) mas não pode deixar de ser momento em que a esperança e a confiança “de que tudo vai ficar bem” se cruzam e se sobrevalorizam em todos nós.
Este é o momento de saber reagir e actuar. Este é o momento de saber ter esperança e acreditar. De sermos líderes de nós próprios e de quem precisa. E daqueles que nos governam serem líderes da comunidade. Este é o maior teste que, enquanto indivíduos e comunidade, hoje, enfrentamos. Um teste que é maior do que uma guerra, mais complexa do que qualquer batalha, mais devastador do que muitos dos seus efeitos. Um teste contra um inimigo que não se mostra nem se faz ouvir. Apenas, camufladamente, ataca e prejudica sem nada reclamar em troca.
Como indivíduos, só conseguimos ter esperança e acreditar se a comunidade nos auxiliar e suportar. Como comunidade, dependemos de todos os indivíduos e da partilha. De todos com todos e por todos. E da convicção de que tudo vai ficar bem!
23 Janeiro 2025
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