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Noticiar a saúde

A Cruz (qual calvário) das Convertidas

Ideias

2010-03-07 às 06h00

Felisbela Lopes Felisbela Lopes

As fontes de informação na saúde. Esta semana, andei particularmente centrada neste tópico. Um encontro algo informal juntou, na Universidade do Minho, investigadores e jornalistas especializados neste campo para discutirem o respectivo trabalho. Cada um com um ritmo específico, com uma linguagem particular e com um entendimento nem sempre coincidente daquilo que estrutura a outra parte, estes dois grupos de interlocutores encontram-se frequentemente para tornar a saúde em notícia. E nem sempre as consequências são as mais positivas, como demonstrou uma tese de mestrado, defendida quinta-feira em Lisboa, sobre a mediatização das políticas da saúde no mandato do ex-ministro Correia de Campos.

A saúde é sempre um tema noticioso com ampla ressonância nas pessoas. Em votos especiais, o desejo de sermos saudáveis está quase sempre presente entre aquilo que mais queremos. Nem sempre as redacções dos media elegem este tópico como prioritário, mas ele consta de uma agenda, sempre pronta a avançar, principalmente nos momentos em que as fontes oficiais desaparecem de palco. Em períodos de festas (Natal, Páscoa) ou em tempo de férias, é muito frequente os meios de comunicação social fazerem emergir manchetes oriundas da área da saúde. Os assuntos estão onde sempre estiveram. A qualquer momento, é possível puxar por um ângulo de noticiabilidade. E isso tem sempre interesse (do) público. Nem sempre as fontes de informação especializadas acompanham estas ondas noticiosas e, o mais importante, conhecem os mecanismos adequados para se tornarem noticia.

Não é fácil perceber os jornalistas. Há anos que oiço os meus colegas da universidade, de outras áreas científicas, que não a da comunicação, dizerem isso. Não se trata propriamente da anotação que mais gosto de ouvir, mas reconheço que têm (alguma) razão. Quem trabalha nos media apresenta uma forma muito particular de interagir com quem lhes fornece informação. De uma fonte exigem-se novidade, competência, rapidez, clareza, expressividade… No caso da TV, espera-se ainda uma boa imagem e um discurso pontuado por um ritmo certo. É obra. Quase que se necessita de uma formação avançada. Que quase ninguém tem. Há aqueles que se adaptam facilmente a estes imperativos, tornando-se presença constante nas cenas mediáticas. Porque têm trabalho importante, falam bem, têm boa imagem…

E o que fazemos com os outros: com aqueles que começam a contar a história somando inimagináveis antecedentes, juntando impensáveis pormenores, construindo inconcebíveis sintaxes; ou então com aqueles que estão sempre indisponíveis, que pedem sempre a eternidade para pensar antes de dar qualquer explicação mais genérica? Os jornalistas arrumam-nos. Sem cerimónias. As estruturas organizativas onde estas pessoas estão inseridas podem adoptar várias estratégias: treiná-los na palavra mediática; no caso de trabalho em equipa, designar aquele que fala melhor para transmitir informação aos jornalistas (que pode não coincidir com aquele que mais sabe) ou, então, criam-se assessorias de imprensa. São opções. Que não garantem resultados automáticos.

O caso do ex-ministro da saúde demonstra que é preciso uma outra qualidade: estratégia. Correia de Campos conhece o sector, fala bem, tinha assessoria profissional… O seu mandato foi um desastre do ponto de vista mediático. Estar sempre disponível para os jornalistas, querer explicar tudo a toda a hora foi péssimo. Ainda que o primeiro-ministro seja resistente a substituir ministros, este era um caso perdido, porque a gestão da palavra mediática estava completamente descontrolada. Com Ana Jorge, a política da saúde ganhou outro fôlego. De repente, tudo parece funcionar bem. A ministra fez uma mudança de fundo: as opções de comunicação com os media. Ana Jorge não fala muito. Quando fala, não se perde em pormenores. E, no caso de a situação parecer estar a fugir de mãos (como foi o caso da Gripe A), controla as fontes, procurando puxar para si todas as explicações. E isso é muito eficaz.

Não é fácil perceber os jornalistas, mas pode ser ainda mais difícil entender a (des)organização de algumas fontes. Às vezes, são excessivamente sofisticadas, outras inexplicavelmente apagadas. Ambas me desagradam, quando falamos em fontes especializadas. Prefiro fontes sensíveis à necessidade de bem comunicar e que revelem preocupação em publicitar aquilo que fazem e que tem qualidade.

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