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Novas (?) Questões

Entre a vergonha e o medo

Ideias

2016-03-08 às 06h00

Analisa Candeias Analisa Candeias

Os caminhos vão-se fazendo no próprio caminho que se vai trilhando, com firmeza e segurança, com prospetiva e com os pés bem assentes na terra. Às vezes precisamos da ajuda de uma mochila para o caminho, ou de um outro apoio, ou até necessitamos que nos conduzam nesses trajetos, para sermos melhor guiados. A perfeição do caminho vai-se acentuando à medida que ele é feito, e à medida que vamos desfrutando do mesmo. A perfeição fica completa quando, provavelmente, não é atingida - assim estamos sempre lembrados de que o caminho existiu, existe e existirá. E é daí que advém excelência dos nossos percursos.

Estas últimas semanas têm sido ricas, intensas e diversificadas para os enfermeiros e para a Enfermagem. Ano após ano vamos dizendo, já seguros deste cansaço, que a Enfermagem em Portugal necessita de reforços capazes e cientifi- camente à nossa altura para fazermos face à garantia dos cuidados que se prestam no nosso país. Ano após ano vamos repetindo que somos necessários em maior quantidade, e com maior abertura à formação para uma melhor qualidade.

Anos após ano vamos sendo cansativos, confesso, mas seguros e exigentes no caminho, e nas nossas novas falsas questões. A nossa perfeição advém da relação que estabelecemos com o Outro que necessita de nós, todos, como Enfermagem. E advém igualmente do nosso caminho, que tem sido realizado com um sublimar esforço e sentido de missão das mais antigas gerações, aliado às novas visões das pessoas que ocupam as faixas etárias mais jovens.

Parece que, finalmente, a exaustão dos profissionais de saúde atinge os meios de comunicação social, parecendo quase um boom, algo inédito. Para nós, enfermeiros, já não é novidade, nem para as nossas famílias e amigos, que vão vivendo esta realidade de forma bastante compreensiva. Aquilo que se pode realizar com 2 não significa que fique muito cheio e atulhado com 3, pois a nível dos recursos humanos em Enfermagem fica apenas melhor, com uma maior integração de saberes e com uma maior satisfação do Outro que faz usufruto dos nossos cuidados.

Afinal, gostamos de trabalhar em equipa e somos altamente diferenciados nesse trabalho - por isso, Senhores Governantes, Assessores e Gestores, não se intimidem em colocar mais gente nas nossas equipas, não se sintam envergonhados nem inibidos, acreditem que gostamos de trabalhar com gente e para a nossa gente. Aumentem o número das nossas equipas, invistam na garantia de cuidados seguros, estáveis e completos.

O que me surpreende é o facto de que só agora estas questões terem sido assinaladas, a nível ativo, pela sociedade em geral. O que se passou entretanto? Quais os motivos de tanto alarme e preocupação? Finalmente a população inicia a sua exigência de acompanhamento ao nível da saúde de forma mais concreta e com as competências que merecem? Espero que sim.

Aliás, já tenho referido essa questão quase inúmeras vezes: é necessário o poder dos povos, das comunidades e dos diferentes grupos para que a saúde seja olhada com respeito e preocupação. É esse mesmo poder dos povos que deve encarar as legislações que não se encontram a ser cumpridas, os cuidados paliativos que não existem e que poderiam ser a base das grandes questões filosóficas que prendem a atenção social momentânea, as redes de cuidados continuados em saúde mental que são tão - extremamente - urgentes e demasiadamente necessárias e que ainda estamos à espera que aconteçam.

Provavelmente, antes de avançarmos mais nas tais questões filosóficas e éticas já mencionadas, de tomada de decisão e decisão de vidas, provavelmente deveríamos olhar para o nível de maturidade da sociedade e verificar se estamos aptos ou não aptos para escolhermos seja o que for. As bases (quase inexistentes) devem estar seguras, a legislação atual necessita de ser cumprida, as populações necessitam de ser mais acompanhadas, cuidadas e formadas - provavelmente antes de entrarmos em questões fulcrais que necessitam de um esclarecimento prévio, e que podem ser perigosamente irreversíveis. Aí existem muitos caminhos e trilhos a percorrer, perfeições que estão bastante longe de acontecer e que necessitam do interesse de todos - para todos.

Por isso atenção Senhores Governantes, Assessores e Gestores, as questões andam no ar, todavia é provável que não sejam as mais corretas. Oiçam-nas, organizem-nas e priorizem-nas, invistam no esclarecimento público e na tomada de decisão clara e consciente, com fundamento e conhecimento. Afinal de contas, sempre ouvimos dizer que “a pressa é inimiga da perfeição”…

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