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O bracarense que assassinou Miguel Bombarda

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Ideias

2016-10-02 às 06h00

Joaquim da Silva Gomes Joaquim da Silva Gomes

Passam amanhã 106 anos desde morte do Professor Miguel Bombarda, um dos médicos mais prestigiados de finais do século XIX e princípios do século XX.
O Prof. Miguel Bombarda foi um reputado médico, tendo publicado, em 1877, a notável tese “O delírio das perseguições”. Foi professor na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, diretor do Hospital Psiquiátrico de Rilhafoles e fundador da Liga Nacional contra a Tuberculose.
Para além de se notabilizar na área da medicina, Miguel Bombarda foi também um grande opositor ao regime monárquico, que o achava responsável pela crise que o país atravessava. Foi, ainda, um dos grandes mentores da revolução republicana que a qualquer momento poderia eclodir em Portugal.
A morte de Miguel Bombarda causou grande perturbação em Portugal, também, pela forma como ocorreu: foi assassinado a 3 de outubro de 1910, no seu próprio consultório e por um seu doente!
O autor da morte de Miguel Bombarda foi Aparício Rebelo dos Santos e existiam algumas dúvidas quanto aos seus dados biográficos. Nos arquivos da Universidade de Coimbra, onde estudou, encontra-se o registo que o identifica como sendo natural de Braga e há, também, referências à sua data de nascimento, a 5 de julho de 1878.
Por estas razões, mas também por ser considerado, por muitos, como o doente mais célebre da história da psiquiatria do nosso país, tornava-se imperioso clarificar alguns dados biográficos de Aparício Rebelo dos Santos.
Consultados os registos que se encontram na Biblioteca Pública de Braga, podemos confirmar que Aparício Rebelo dos Santos nasceu na freguesia de S. João do Souto, concelho de Braga, às duas horas da manhã do dia 5 de agosto de 1878. O seu pai, José Aparício dos Santos, é natural da freguesia da Sé, concelho de Braga, e a sua mãe, Elízia Rebelo dos Santos, natural da freguesia da Sé Velha, concelho de Coimbra. Residiam na rua dos Chãos, em Braga. Aparício era neto paterno de avós incógnitos e os avós maternos eram Manuel Simões e Margarida de Almeida Rebelo.
Foi baptizado no dia 8 de setembro de 1878, na Sé de Braga, “a quem dei o nome de Apparício, que nasceo nesta freguesia de São João do Souto, pelas duas horas da manhã do dia sinco d’Agosto do anno supra, e com licença do Sinhor Arcebispo Primaz por cauza da mora”! (Livro 153, nascimentos, S. João do Souto, n.º14, p21v e 22.)
Aparício Rebelo dos Santos teve como padrinhos de baptismo Ventura Malheiro, solteiro, natural de Barcelos e residente na rua dos Chãos, e Flora Aparício Rebelo dos Santos, “Mana do Baptizado”. O registo de baptismo foi conferido na presença dos padrinhos e assinado pelo abade Manuel José dos Santos e ainda Ventura Malheiro, uma vez que a madrinha não sabia ler.
De referir ainda que o pai de Aparício Rebelo dos Santos conseguiu uma fortuna considerável no Brasil, para onde tinha emigrado, ao ponto do rei D. Carlos lhe ter concedido o título de visconde.
Quanto a Aparício, cedo desejou seguir uma carreira militar. Cumpriu a recruta entre 1898 e 1900, ascendendo posteriormente a Alferes e depois a Oficial. De seguida, foi para a Universidade de Coimbra, local onde começaram a revelar-se os seus primeiros problemas neurológicos. Apesar destes sinais de doença, regressou ao serviço militar, atingindo o posto de Tenente, a 1 de dezembro de 1907. Contudo, o seu estado de saúde foi-se agravando, ao ponto de ser internado no hospital de Rilhafoles, em março de 1909, com sintomas de perseguição e comportamentos violentos.
Uma vez que o seu pai tinha um grande poder financeiro e alguma influência social, conseguiu a autorização para levar o filho a Paris para ser visto pelo dr. Ballot e pelo dr. Babinsky, respeitáveis especialistas neurológicos franceses.
Regressado a Portugal, consciencializou-se que os médicos franceses tinham curado o seu filho, mas os problemas não só se mantiveram como se agravaram nos meses seguintes. Quando Aparício saía de casa, era muitas vezes vigiado de perto, quer por amigos, quer pela própria polícia.
Perante um cenário cada vez mais desanimador, José Aparício dos Santos resolveu então levar o seu filho a uma consulta com o Professor Miguel Bombarda, que anteriormente já o tinha visto.
Mal entrou no consultório, Aparício Rebelo dos Santos nem sequer cumprimentou Miguel Bombarda. De imediato sacou de uma pistola e disparou contra o médico, que acabaria por morrer seis horas mais tarde, no hospital de São José, em Lisboa.
Depois do crime que cometeu, este bracarense não revelou um único arrependimento pelo ato que cometera. Quando foi preso pelo polícia ainda gritou: “- Pode largar-me, que já acabaram as balas. Não tenha medo”!
Ainda no Hospital de Rilhafoles, um enfermeiro chegou a questionar Aparício Rebelo dos Santos se estava arrependido do que acabara de fazer, tendo este respondido: “- Não estou arrependido. Havia de o matar, fosse aonde fosse”.
Por lhe ter sido diagnosticado um problema mental, o bracarense Aparício Rebelo dos Santos nunca foi presente a um tribunal.
Faleceu em 24 de abril de 1943, na Casa de Saúde do Telhal.

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