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O Centro Escutista de Carrazeda de Ansiães e o seu Criador

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O Centro Escutista de Carrazeda de Ansiães e o seu Criador

Escreve quem sabe

2024-11-29 às 06h00

Carlos Alberto Pereira Carlos Alberto Pereira

Tenho para mim que, para conhecer o chefe Bastos, é necessário conhecer a sua obra, mas que esta só é completamente compreendida se conhecermos o seu criador, este binómio obra e criador são inseparáveis. Nesta dicotomia a obra e o criador, há um verso de Fernando Pessoa: «Deus quer, o homem sonha e obra nasce» que ilustra de forma admirável a dimensão deste Dirigente que nunca se cansou de contribuir para a felicidade dos outros, preparando, desta forma, a felicidade do encontro com o Senhor, no Eterno Acampamento.
No final da década 80 e na de 90, por incumbência da Junta Central, fui responsável pela realização quatro cursos de Iniciação Pedagógica para os dirigentes da Região de Bragança. Foi nesta altura que comecei a ouvir falar de uma realidade emergente: o Centro Escutista de Carrazeda de Ansiães ou, como diziam alguns, o Campo do Chefe Bastos, que também conheci nessa altura. As opiniões eram bastante antagónicas! Assim, um dia, meti-me no carro com a família e, a propósito das amendoeiras em flor, rumei a Carrazeda e fui visitar o “tão falado” Campo Escutista.
Fiquei admirado com o que vi e decidi colocá-lo na rota dos acampamentos de carnaval da III Secção do meu Agrupamento.
Por isso, para mim, recordar o Chefe Bastos, neste contexto, 10 anos depois da sua partida para o Eteno Acampamento, não é celebrar a morte, mas sim celebrar a vida. Sim, a vida de um homem que ainda hoje nos marca e inspira, de forma indelével, e da qual todos nós beneficiamos e continuaremos a beneficiar.
Como homem de fé, ele sabia que a morte era a passagem para a verdadeira vida, hoje podemos afirmar com toda a convicção que este nosso amigo e irmão escuta é um daqueles que constituem «o peito ilustre Lusitano» que Luís de Camões canta em «Os Lusíadas» e por isso, também o chefe Bastos está entre aqueles que o poeta refere nos seus versos: «E aqueles que por obras valerosas / Se vão da lei da Morte libertando:»
O Bastos é um daqueles dirigentes que, pela sua ousadia e espírito de missão, são capazes de materializar feitos como poucos. Projetar um Centro de Formação num concelho do interior, parece um sonho ousado, meter mão à obra e materializar este sonho é obra de predestinados, com uma fé inquebrantável, aliada a uma capacidade de realização e a um espírito de sacrifício notáveis capaz de mover montanhas.
O dirigente Zeferino Bastos sonhou, projetou e construiu o Centro de Formação de Carrazeda de Ansiães, sem nunca deixar que estas preocupações prejudicassem o trabalho profissional e no agrupamento. Esta soberba capacidade de trabalho, por uma causa comum, faz deste dirigente um escuteiro singular que, pelo seu sentido de serviço a Deus, ao próximo e à sociedade, transforma-o num modelo de vida para todos nós. É também um modelo de vida porque nunca se esqueceu de ser fiel à “Promessa”, de cumprir a “Lei do Escuta” e de viver os “Princípios do Escutismo”.
Recordo um dos seus sonhos: “a capela de campo”, como ele me confidenciava, numa das minhas visitas, «a capela, assim definida, permitirá que os tempos de oração surjam com naturalidade na vida dos escuteiros em campo», ilustrando, desta forma, a qualidade da sua visão do Educador Católico.
Dentro de toda esta agitação da sua vida escutista, profissional e social, a família tinha um lugar muito especial. O tempo que lhe dedicava era um tempo de qualidade, de partilha intensiva, de preocupação com o bem-estar de todos, com a educação e a vivência dos valores cristãos.
O Bastos sabia que a família era o «Porto de Abrigo da sua própria vida» e, se na distribuição de tempo, esta nem sempre tinha a maior fatia, já no seu coração a família tinha um espaço reservado de maior dimensão.
Podemos até pensar que perdemos o obreiro incansável do centro de formação, mas tenhamos a certeza que, este espaço ganhou “Alma”, sim, a Alma que ele queria, que é eterna e que vai perdurar para sempre.
Por isso, quero terminar lembrando a imortalidade da vida e da obra do chefe Zeferino Bastos, com a convicção profunda que ele contribuiu, e continua a contribuir, para a felicidade de muitos e que a sua vida foi um contributo inestimável na Construção de um Mundo Melhor.
Testemunhar ainda que este cidadão informado, consciente e crítico, foi um verdadeiro obreiro do futuro, tal como o definiu o Papa Bento XVI, na Mensagem para a Jornada Mundial da Juventude de 2007: «O futuro está nas mãos de quem sabe procurar e encontrar razões fortes de vida e de esperança.»

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