Correio do Minho

Braga, sábado

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O comendador José Alfredo Medeiros

Fala-me de Amor

Ideias

2015-10-02 às 06h00

Borges de Pinho Borges de Pinho

1.Quem tem estado atento às novelas, mormente à ‘Império’ que passa na SIC, sem dúvida já se viu confrontado com a personagem do Comendador José Alfredo Medeiros, numa figuração da Rede Globo em que é actor principal um tal Alexandre Nero. Dir-me-ão que não gostam nem têm tempo para telenovelas, que aliás não passam de umas ligeiras historietas para agradar ao “povão” e a uma “cambada” de incultos e “ininteligentes” (aqui não resistimos ao “in” da Assunção Esteves), que se deixam levar e perder por coisas que não interessam ao país, à democracia e a tudo aquilo que tem vindo a fazer que uns sejam mais “espertos”, mais “ricos”, mais “falados” e mais “importantes” do que outros.
Sem receio de que nos assaquem de incultura ou de baixa ou nula intelectualidade, apraz-nos dizer e confessar que vimos acompanhando as telenovelas que dão nas TVs, sem deixar de seguir, como é óbvio, todas aquelas outras “telenovelas” que se desenvolvem e se desenrolam no governo, na oposição, nos comícios, nas assembleias partidárias ou de outro jaez, e também nos vários painéis ditos “nobres” de intervenção e de comentários. Como as “Quadratura do Círculo”, “Eixo do Mal”, “Prós e Contras”, etc., etc., sendo incontornável que disto tudo, e sua compaginação, nos tem advindo um certo gozo interior, e bem profundo, já que têm vindo a revelar e a retratar as múltiplas e reais “novelas” da nossa vida e dia a dia, novelas essas que na vida pública, política, governação e exercício de certas funções não passam de “reprises” do exibido nas TVs, ainda que com outros autores e personagens.
Voltando ao Comendador José Alfredo Nogueira, não sabemos ao certo quando foi condecorado nem por quem, mas temo-lo como uma personagem “esperta”, “vivaça”, “desenrascada” que, começando no garimpo, conseguiu uma fortuna e um poder incalculáveis, aliás por meios muitas das vezes suspeitosos e com interferência mesmo na Justiça e na própria vida do país. Do Brasil, claro, que nada tem que ver com Portugal, a não ser a língua, e se apresentar sobretudo como um mercado exportador de jogadores de futebol, de dentistas, de actores e de “fazedores” de tudo e do nada, etc., etc., sempre simpáticos e com um linguarejar de agradável doçura. Enfim!...
Mas vem isto a propósito do dia 10 de Junho, e do “abandalhamento” a que se chegou com a atribuição de comendas pelo homem de Boliqueime, a ponto de ter levado Joana Amaral Dias a pronunciar-se “sobre a putrefação da República” (CM, 16,6). Efectivamente lembra-nos ela que “no século XIX Almeida Garrett ridicularizou a distribuição estonteante de títulos nobiliárquicos com a fórmula «Foge, cão, que te fazem barão. Para onde? Se me fazem visconde?»” e que “agora só nos falta um satírico desse gabarito, posto que Presidente das Medalhas já temos”. E tudo isto porque “Cavaco acabou de condecorar - já depois de ter premiado figuras gradas da nossa bêbeda democracia como Zeinal Bava - a própria troika (através do ex-ministro das Finanças Teixeira dos Santos) e, claro, o estilista de sua amantíssima esposa”. Está correcto!... O que é precisos é “criar” comendadores, outros “Alfredo Medeiros” de vida mais ou menos duvidosa e nem sempre límpida, no momento mais ou menos oportuno, que não há qualquer problema. Mais tarde, se surgirem factos ou razões que não sustentem as “comendas” e até as desaconselhem, há sempre o Conselho das Ordens (será assim que se diz?) para retirar as medalhas. Não foi o que já aconteceu com alguns “comendadores” como o Carlos Cruz e outros conhecidos? Aliás, apenas por curiosidade se anota que, quanto a Helder Bataglia, o “homem-forte da ESCOM, braço-direito de Ricardo Salgado” e de quem se diz “envolvido na «Operação Marquês» no caso do empreendimento de Vale do Lobo e esconsas transferências de dinheiros (fala-se que para Sócrates via Grupo Lena e S.Silva), “em 2007, Cavaco Silva condecorou-o com a comenda da Ordem do Infante D. Henrique”. Mais um comendador José Alfredo Medeiros!? É esperar para ver!...


2. Anotámos e registámos a ligeireza da “rectificação”(?!) feita na TVI a 28.6 pelo “omnisciente” e “impoluto” comentador Prof. Marcelo (escreveu-se mesmo comentador e não comendador, sublinha-se, ainda que não nos restem dúvidas de que o será muito em breve, se já não “tiver levado” mesmo com uma “comenda”!) sobre uma afirmação sua feita no mesmo espaço televisivo cerca de 15 dias antes, mas que intencionalmente ou não (?!) deixou “marinar” por demasiado tempo, com todos os seus efeitos perversos nos que ainda se dão ao trabalho de o ouvir. Reportamo-nos, como é óbvio à afirmação falsa e mentirosa que exalou sobre quem havia feito entrega à revista «Sábado» da gravação do interrogatório a Sócrates, em que disse que a entrega fora por fonte do MP e que tal havia sido admitido em texto da mesma revista, para uns dias depois procurar “rectificar”, “explicando que ouvira os comentadores de “Quadratura de Círculo” e do “Eixo do Mal” a dizerem isso e que, «como não foi desmentido, assumi que era verdade»” (CM, 16.6.).
Afinal, o homem que se diz saber de tudo e que fala sobre tudo, e que alguns querem fazer presidente da República (“miserere nobis”), debita informações, palpites e afirmações e tece cenários com base no que vai ouvindo de outros comentadores e não só, sem ter aquele cuidado, aquela reserva e aquela prudência que um tema, para mais muito melindroso e de impacto jurídico num Estado de Direito, de todo em todo reclamava.
E tendo feito tal afirmação na TV, deixou passar 15 dias para vir dizer, assim um pouco a despachar, e de uma forma aleatória e com certa ligeireza, que quem entregara a gravação à “Sábado” não fora o MP mas que a gravação era a do MP. Sem mais nem menos, como se com tudo isto arrumasse o assunto que, diga-se, até é relevante para todo um povo, já que, apesar de tudo e de todos, sobretudo dos comentadores, ainda acredita na democracia, na separação de poderes, e ... na Justiça.
Seguindo Eduardo Dâmaso, e a sua nota sobre “lixo de referência”, “Marcelo foi o reprodutor do lixo produzido a montante. Lixo de referência” (CM 16.6), “a mais recente vítima dessa cultura de irresponsabilidade” que aliás emerge “de gente que sabe de tudo”, que enxameia as TVs e que “são os construtores das verdades mediáticas que (...)nem sempre coincidem com a verdade propriamente dita”. Comentadores que não se limitam ao comentário mas que por norma enveredam por toda uma intoxicação.
E o nosso “Prof.Pardal”, que sabe de tudo, que fala sobre tudo, caiu na esparrela, errou, e deu mais um passo, no nosso entender, no caminho da crescente descredibilização, desinteresse, banalidade e vacuidade em que se tornou a sua presença na TVI, com os seus sorrisos,os seus tiques, suas brincadeiras, suas piadas, suas gravatas e ... vaidade. Presidente da República, isto?! Livra!...

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