Um batizado especial
Ideias
2019-01-10 às 06h00
Há anos assim, como este nosso ainda inicial 2019!
Três eleições, em Maio (europeias) e em Outubro (legislativas e regionais, na Madeira), permitem-nos qualificar politicamente 2019 como sedo um ano eleitoral. Teremos uma atividade política de permanente campanha. O que – e ao contrário do que se ouve recorrentemente – também poderá ter um lado positivo! É verdade que os anos eleitorais são normalmente perigosos. Todos os atores políticos tendem a subordinar as respetivas atuações aos objetivos eleitorais, a agir em permanente campanha e, sobretudo, quem exerce o poder, a desleixar o realismo e o rigor, nomeadamente financeiro. A nossa história recente elucida-nos sobre esses riscos. No entanto, em democracias em que a transparência da atividade política – nomeadamente, da governação – nem sempre está solidamente institucionalizada, os tempos eleitorais permitem balanços, acerto de contas políticas e exposição pública mais intensa daquilo que foi feito e do que se pretende fazer. Convoca também os cidadãos interessados para o debate e, nessa medida, a campanha poderá ser um incentivo ao aprofundamento da cidadania.
Creio que o ano eleitoral que agora se inicia irá confrontar-nos definitivamente com a questão do populismo e da erosão da democracia. E, neste ponto, apesar de tudo, a tendência europeia poderá divergir daquilo que será o comportamento dos eleitores portugueses, no que respeita às eleições legislativas internas. Com efeito, até agora, o panorama político português não tem dado indícios claros de que poderá existir uma fragmentação irreversível e uma recomposição do sistema partidário, solidificado e tradicional. Claro que teremos a curiosidade em ver como reagirão os eleitores a dois movimentos/partidos recém - criados e que pretenderão explorar possíveis erosões do sistema (pelo menos, com propriedade, poderão eles próprios pressupor e auto motivar-se com isso mesmo): a Iniciativa Liberal e o Aliança. Essas possíveis fendas resultarão da inexistência de alternativas claras e afirmativas no campo de ação política de onde são originários. De resto, no caso interno, penso que esse será um dos pontos mais interessantes de reflexão, decorrente das legislativas de Outubro. Temo, ao invés, que no que respeita às eleições europeias e pensando em situações concretas de vários Estados membros, os resultados possam voltar a sublinhar o crescimento do voto anti-sistema e extremista/populista. Um voto de “colete amarelo”!
Mas, por agora, vamos deixar a análise (mesmo prospetiva) das consequências dos atos eleitorais que marcarão 2019. Partilho apenas uma reflexão sobre o fenómeno do populismo. Em próximas oportunidades, terei a possibilidade de refletir e de partilhar com o Leitores algumas conclusões sobre o significado daquilo que, por facilidade de expressão, designamos (um pouco vagamente) por populismo. Gostava apenas de notar que muitos dos resultados eleitorais (para mim, inquietantes) que nos têm surpreendido (ou talvez não, bem vistas as coisas) – ex. Trump, Bolsonaro, mas também na Europa, como é o caso de Itália, o Brexit, Andaluzia, etc. – poderão também ser uma simples, imediatista, emotiva reação de uma maioria do eleitorado (de uma notória maioria, no caso brasileiro) a situações de excessos de todo o tipo, corporizados pelos partidos tradicionais. Excesso de relativismo politicamente correto, excesso de incompreensão dos problemas reais e das “pessoas reais”, excessos de direitos conferidos a grupos em detrimentos de outros grupos, sem armas de arremesso contra os poderes instituídos e sem acesso à imprensa. Excessos de narrativas ilusórias que não só não resolvem nada, como nada dizem ao cidadão comum.
Em parte, o que vemos em certos resultados eleitorais que nos impressionam é, também, um “efeito pêndulo”.
Uma reação por mera contraposição e mesmo sem outra consequência que não seja…reagir.
De uma maioria – em alguns casos larga maioria – de eleitores/cidadãos comuns que se consideram (e bem!) ignorados e asfixiados pela narrativa dominante.?
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