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O ensino articulado de dança e música exigem muito, mas devolvem ainda mais!

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O ensino articulado de dança e música exigem muito, mas devolvem ainda mais!

Voz às Escolas

2025-07-02 às 06h00

Paulo Antunes Paulo Antunes

O título resume a experiência de uma década no Agrupamento de Escolas de Maximinos. Somos uma escola pública TEIP, situada num território onde o rendimento das famílias e as expetativas escolares, historicamente, não jogam a nosso favor. O regime articulado de música e de dança, em parceria com a Escola Artística Conservatório Calouste Gulbenkian de Braga e com o Ginasiano Escola de Dança, nasceu para contrariar esse destino: dar aos nossos alunos acesso gratuito a formações artísticas de excelência, sem filtros económicos, culturais ou de mérito prévio.
O tempo provou que a decisão foi acertada, já que a arte pode ser um motor de sucesso e não, mero ornamento curricular.
Desde então, as nossas avaliações internas revelam taxas de transição e de conclusão de ciclo sistematicamente superiores nas turmas de regime articulado, apesar de nelas se concentrarem muitas das vulnerabilidades sociais do agrupamento. Isto acontece porque a aprendizagem musical ou coreográfica é, por natureza, uma escola paralela de disciplina, atenção focada, trabalho de grupo e resistência ao erro. São atributos que, transferidos para o restante currículo, se traduzem em resultados mensuráveis.
A evidência empírica internacional vai no mesmo sentido. Na Conferência Mundial da UNESCO sobre Cultura e Educação Artística, realizada em Abu Dhabi em fevereiro de 2024, os ministérios da Educação de mais de noventa países aprovaram um quadro global que integra as artes nos sistemas de ensino «para potenciar criatividade, compreensão cultural e desenvolvimento de competências».
O documento recorda que a presença regular de música e dança na escola melhora a assiduidade, motivação e autoconceito académico — três variáveis críticas nos Territórios Educativos de Intervenção Prioritária.
Se olharmos para a investigação compilada pelo relatório Art for Art’s Sake? da OCDE, percebemos porquê. A análise conclui que há «provas robustas» de que certas modalidades artísticas reforçam competências específicas — o teatro fortalece a compreensão textual, a música apoia a consciência rítmica ligada à leitura, e a dança aprimora a perceção espacial — ao mesmo tempo que fomenta a criatividade, pensamento crítico e persistência, desde que a pedagogia seja de qualidade. Neste contexto, já temos na forja o Projeto MOL.I.ÈR.E - MOLdar, Incluir, ExpressaR com Empatia para o próximo ano letivo.
Mesmo quando os ganhos em resultados académicos tradicionais não são gigantes, são consistentes e, sobretudo, vêm acompanhados de benefícios socio emocionais dificilmente replicáveis noutros domínios.
Para nós, porém, a questão maior é a justiça social. Estudos recentes sobre desigualdades no acesso às artes mostram que a falta de oferta em contextos de pobreza amplia ainda mais o fosso de oportunidades; onde não há financiamento, ficam para trás os jovens com maior risco de insucesso ou abandono.
O ensino articulado, ao ser gratuito e integrado no horário letivo, neutraliza essa barreira: transforma o palco numa zona franca onde o código postal não dita o futuro.
Contudo, nem tudo corre sobre rodas. A realidade do terreno mostra limitações estruturais que a política pública precisa de enfrentar. Primeiro, o financiamento que não assegura instrumentos, transporte para apresentações externas, manutenção de pisos de dança ou licenças de espetáculos e partituras digitais. Segundo, a avaliação externa da IGEC centra-se em indicadores convencionais e não analisa a qualidade artística ou o impacto comunitário do projeto, o que deixa o êxito dependente da motivação local.
Os decisores políticos têm, pois, aqui um dossiê claro. Um Plano Nacional de Ensino Articulado, com metas de cobertura e verba consignada no Orçamento do Estado, seria um ponto de partida. Urge também criar redes regionais de recursos, onde escolas, conservatórios, autarquias e teatros municipais partilhem estúdios, técnicos e logística.
Quando um aluno de Maximinos executa Bach ou interpreta Pina Bausch diante da comunidade, está a reivindicar mais do que talento; está a exercer o direito a um currículo que reconhece todas as dimensões do ser humano. É por isso que, numa escola pública e inclusiva, o ensino articulado não é luxo nem extracurricular — é ferramenta de equidade, alavanca de sucesso e catalisador de cidadania. Continuemos, então, a exigir-lhe muito. Porque, como sabemos, ele devolve sempre ainda mais.

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