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O fim da alternância

Portugueses bacteriologicamente impuros

O fim da alternância

Escreve quem sabe

2024-03-19 às 06h00

Vítor Esperança Vítor Esperança

Em Democracia são possíveis diferentes resultados para soluções de governação. Na que experimentamos que vai fazer 50 anos, têm-se destacado quatro partidos que representam as principais identidades políticas de tradição europeia, entre comunismo, socialismo, social-democracia e democracia cristã. Embora existissem vários partidos, houve dois partidos políticos que lideraram as escolhas dos portugueses: O Partido Socialista e o Partido Social Democrata, formando o tal “arco de governação”. A vitória de um deles em cada ato eleitoral permitia-lhes o acesso ao poder e o direito e dever de governar o país na correspondente legislatura. Tivemos sempre uma alternância democrática entre um e outro. Este modelo de alternância também se verificou quando aqueles partidos se coligaram com outros, liderando todavia cada um os dois blocos políticos para governar. As mais conhecidas foram as da Aliança Democrática (PSD, CDS e o PPM) à direita, e as do (PS, BE, e PCP) à esquerda que ficou conhecida por “Geringonça”. Tudo isto parece ter acabado no passado dia 10.
O aparecimento de um partido com forte expressão eleitoral à direita, o Chega, pode surgir como que um novo bloco político alternativo, uma vez que nenhum dos anteriores dois blocos já referidos o quer nas suas coligações. Esta situação altera o modelo da alternância entre esquerda e direita. Assim, assistimos à formação de um novo bloco político, que classifico como representante de uma direita populista e nacionalista.
Isto não constitui surpresa para aqueles que vêm acompanhando as novas tendências da política mundial. Na Europa, ainda nenhum dos partidos assim classificados conseguiu liderar qualquer governo, mas essa realidade, vivida já na América latina, pode vir a acontecer e Portugal certamente não será uma exceção, uma vez que assistimos na Europa e em Portugal ao crescimento dos descontentes e desiludidos com os tradicionais partidos democráticos, que parecem não saber dar resposta ao aumento das desigualdades entre os muito ricos e os restantes, com crescimento do número dos que já têm muita dificuldade em fugir à pobreza, nem fazer diminuir a percentagem do desemprego nos mais jovens, a que se juntam os problemas de sustentabilidade do Estado Social.
Tudo isto é empolado pelos mais atingidos que apontam culpas às minorias, nomeadamente as que se vêm formando em núcleos de imigrantes de países com uma cultura social e religiosa diferente dos valores defendidos pela tradicional identidade judaico-cristã europeia.
Portugal deu agora conta que não são assim tão poucos os que se mostram recetivos para apoiar os partidos políticos que fazem daqueles problemas a principal bandeira de protesto, designadamente aquele que conseguiu a expressiva representação de 48 deputados. Esta nova realidade só será possível de ser revertida, ou diminuída a sua expressividade, se os partidos democráticos tradicionais de liderança governativa decidirem refletir sobre esses fenómenos, corrigindo posturas políticas de guerrilha entre eles, como que tudo ainda estivesse sustentado em modelos sociais e políticos dos séculos passados.
É preciso que o país seja governável e isso exige entendimento imediato entre os dois partidos maiores que - ainda - representam mais de 60% do eleitorado.
Não é necessário a formação de um novo bloco a que chamam “centrão” mas, será necessário dar tempo ao país para que não se entre numa situação pantanosa de ingovernabilidade. Apesar das muitas diferenças entre o PS e o PSD, são muitas mais as que os aproximam, designadamente aquelas que sustentam as principais orientações políticas de um Governo respeitado pela União Europeia e por todos quantos podem fazer alterar as condições financeiras que se nos aplicam. Se discordam fortemente de algumas opções políticas apresentadas em programa eleitoral que os separam, negoceiem alternativas intermédias que satisfarão minimamente as partes. Não se fechem nas trincheiras da oposição mútua, da discórdia de tudo, alegando princípios ideológicos que se encontram aprisionados pela luta retórica da partidarite. Não nos podemos dar ao luxo de desperdiçar tempo, complicando os investimentos que estão dependentes da provável última oportunidade de beneficiarmos dos fundos estruturais que se encontram planeados no PRR.
O maior erro que podem cometer é tornar este país ingovernável, dando razão ao novo bloco político populista. Lembrem-se que esta tendência política prosseguirá a sua estratégia, estratégia que será tanto mais fácil, quanto maior for o desentendimento dos mais fortes opositores. Não bloqueiem o país com a justificação de diferenças intransponíveis. A única e verdadeira barreira intransponível em Democracia, é a sua própria substituição.
Esta solução intermédia não dispensa que os tradicionais partidos de governação, analisem o que está a acontecer e de fazer uma introspeção das razões que a justificam, incluindo as das suas próprias fraquezas de organização interna.
O Mundo está em mudança profunda e acelerada. Quem não se adaptar a esta mudança será excluído.
Os Partidos Democráticos continuam agarrados ao status do politicamente correto, considerando estes resultados como estágios conjunturais. Não, são mesmo mudanças estruturais. Mudanças de paradigmas. Mudanças de poder. Mudanças na economia e no comércio global, onde as alterações climáticas e as disparidades demográficas contam. Há muito trabalho a fazer.
Devem iniciar, sem receios, as grandes reformas que aceitam serem já necessárias, nomeadamente as da representatividade dos cidadãos nos Partidos e no Parlamento, melhorando ainda o sistema eleitoral. Devem dar prioridade à reforma da organização da Justiça. Devem analisar a sustentabilidade dos sistemas públicos de saúde, educação, solidariedade social e segurança. Devem olhar para os jovens que com melhor formação, não se conseguem empregar. Provavelmente as nossas instituições de ensino continuam organizadas em modelos que defendem mais os interesses internos de governança do que os da procura de mercado.
Devem olhar para o investimento público como criador de melhorias significativas de vida e de criação de oportunidades e a de fazer diminuir os desequilíbrios que a sociedade livre naturalmente cria.
Olhem a História e aprendam. Se não mudarem e tentarem fazer melhor escolhendo reformar, alguém fará essas mudanças e reformas através de revoluções. Lembrem-se que o Poder nunca esteve ou estará vazio.

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