Ser ou não ser
Ideias
2017-11-13 às 06h00
No entretanto em que vivemos, dividimos as nossas determinações entre o usufruto do presente, a preservação da herança do passado e a viabilização de um futuro coletivo. As últimas décadas recentraram as sociedades no usufruto do presente, garantindo, como nunca antes, que um número cada vez maior de cidadãos tem acesso ao ensino, à saúde, à segurança, à justiça e a bens de conforto e lazer.
Neste processo de generalização do acesso a serviços e bens elementares, as cidades cresceram a um ritmo inédito de forma a corresponder às necessidades prementes de habitação e serviços daqueles que ali chegaram vindos das áreas rurais e do estrangeiro.
No princípio foi o caos - o crescimento foi desordenado e alimentou-se da destruição irremediável de parte significativa do nosso património histórico e natural. As cidades tornaram-se labirintos de prédios mal desenhados, mal dimensionados e sem equipamentos verdes ou desportivos que garantissem uma aprazível fruição do espaço urbano pelos seus habitantes. Os espaços de utilização coletiva, forma elegante de nos referirmos aos centros comerciais, foram desenhados para chegar e sair de carro, através de redes de “vias rápidas” que se têm tornado demasiado lentas para justificarem a sua denominação. Os espaços verdes ou simplesmente não existiam ou estavam longe de corresponder às expetativas de quem os utilizava. As lixeiras avolumavam-se nos perímetros urbanos e os cursos de água transbordavam de poluição.
Depois de muitas batalhas cívicas, políticas e académicas, o caos inicial foi cedendo a alguma racionalidade. A preservação do património natural e arquitetónico começou a estar na agenda dos agentes políticos e surgiram os planos de ordenamento do território para garantir que a edificação do presente não inviabilizava a construção do futuro. Apesar de tantas vezes adulterado e violado nos nossos dias, as atualizações ao Plano Diretor Municipal têm servido como tentativas de garantir esse compromisso equilibrado entre passado, presente e futuro.
Temos hoje em Portugal núcleos urbanos tendencialmente mais verdes, mais livres de lixeiras e de rios poluídos e com centros históricos melhor preservados do que nunca. Apesar disso, há uma pergunta que não podemos deixar de fazer todos os dias: que presente deixamos como passado para as gerações que nos sucedem no futuro?
Talvez a reposta não seja tão positiva como desejaríamos. A poluição do nosso tempo é inodora e as sequelas que estas cidades mal desenhadas nos deixam estão nos amigos que perdemos atropelados, na ansiedade que a poluição visual propicia e na depressão que se insinua da carência de espaços verdes nesta selva urbana em que vivemos.
Temos demasiados carros e, apesar dos nossos automóveis estarem 90% do tempo parados, passamos a vida a desejar mais carros, a reclamar novos estacionamentos e a reivindicar mais vias rápidas para veículos individuais. Esgotamos o planeta até à míngua e, ainda assim, permanecemos ávidos de consumir, de possuir e de ter.
Num tempo em que muitas das cidades do mundo ocidental começam a reduzir o espaço que os carros roubam às nossas cidades, à nossa saúde e às nossas vidas, continuamos a construir parques de estacionamento nos centros urbanos de Braga e de Guimarães. É que, por muito que quem decide não veja, o futuro é partilhado. Porque na partilha de recursos é que está a garantia de um futuro sustentável para o nosso planeta e para as novas gerações.
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