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Escreve quem sabe
2021-01-24 às 06h00
A bicha solitária passou à história, mas era um horror passado de boca em boca. Tempos em que a higiene era outra, em que calça se baixava onde a apertado calhasse, onde um fresco de couve galega pudesse vir por toque de toalhete balsâmico. A pobreza era muita, mas os horizontes eram abertos, estreladas as noites, onde quer havia um tanque. Enfim, nostalgias de correr a pena.
Chegava a bicha aos homens, mais do que às mulheres, ou nelas menos se notasse, dada a propensão feminina para o ganho de peso, e a masculina para o enchupamento, ao que não deixava de ajudar o tabacame que se metia a beiços, que isto tampouco se vê por aí dedo queimado, unha e bigode pintado a nicotina. Passava homem emagrecido num ai-Jesus, e ou era a tísica, ou era a bicha, sem que bruxedo ficasse de parte, bastava que houvesse história de saias com desonrada ou despeitada rancorosa. Outros tempos.
Então como agora, parasita haja, e do hospedeiro prospera, depauperando-o, amarfanhando-o, consentindo-lhe que sobreviva tão-só para que o sustente. É da natureza das coisas que uma toxina liberte, uma espécie de analgésico, tal que conta não se dê o parasitado do seu definhamento, que o negue, se porventura o notar, que por vício próprio o assuma, no limite, fechando-se em vergonhas.
Com tanto a seu favor, é natural que o parasita floresça, que cresça e bote família, que por cura chegue a passar os males que produz, mezinha que emborcamos como outros beberam mercúrio, tido por insuperável barreira contra venenos de rival. Ironias e crendices, cada época com as suas.
Quem não esclarece, estupidifica. Quem não defende, debilita. Quem não opera, parasita. Credo simples o meu, vida fácil a minha, que menino chorão não me põem nos braços para que o aplaque. Talvez eu não estivesse à altura, porque macio não me fosse o colo, porque estridente me soasse a voz, porque um nervoso miudinho de apanhado em falso me transparecesse na respiração. Porém, falhasse eu, e por certo dou que num instante me licenciariam de tão melindrosa incumbência.
Por estes longos dias, à toa anda, quem conduzir deveria, na sorte confiou, quem abdicou de prevenir, culpas semeia, quem a espelho gritante não passa. Que convicção assiste a quem tranca escolas de segunda para quinta? Que abertas teriam que estar, porque santuários eram em que vírus não entrava, porque fechar escolas era comprometer a evolução dos mais desfavorecidos, aqueles por quem o governo tanto propugna. Lesto é a mudar de retórica aquele que em nada acredita, aquele que em nada aposta, salvo no seu bem-estar.
Uma coisa é o vírus, outra coisa é a mixórdia de remendos e pensos-rápidos de nulo efeito que nos atiram para cima. E não adianta dizer que no estrangeiro também andam em palpos de aranha. De fora, sabemos que tampouco estarão bem, embora não saibamos com que linhas se cosem. Terão as mesmas restrições de mobilidade? Ainda que as tenham, e que mal eu pergunte: se o caos toca a Braga na extensão de Barcelos, porque é que alma itinerante não pode passar de um concelho para o outro? Se toda uma região está a vermelho, o que é que se previne, ao certo, quando se estipula que um cidadão não possa arejar onde bem entende? A regra básica não é a tal dos dois metros?
Não têm solução, não têm resposta. Atiram à toa, acertam onde calha, aplaudem-se por poses combativas sem troféu. Não justificam cargos nem confianças. Não produzem, limitam-se a digerir. Parasitam.
Os demagogos de hoje afinam pelas bichas solitárias de ontem: encovam-nos. Disse.
03 Março 2021
02 Março 2021
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