Avaliação no 2.º período na Escola Secundária Carlos Amarante
Ideias
2019-06-14 às 06h00
Entranha-se-me nos ouvidos, desce-me às vísceras, e fico de humores arruinados por uns tempos. Sem mais, é este o efeito dos discursos de ocasião sobre o Interior. Não acomodo o comodismo de Estado, a preguiça assente na ideia de que o País não deveria dar grande trabalho aos empastados, nem requerer verbas para que os serviços e as condições gerais de vida fossem equivalentes em toda a extensão das oblíquas que traçássemos. Faz-se um País a bulldozer e à força de medidas que contrabalancem êxodos de seres individuais: podendo, ninguém fica à espera do progresso, parte ao seu encontro.
Admito que possa não atingir a complexidade do problema, abarcar todas as variáveis da equação, mas parece que, até hoje, nunca se deram ao incómodo de no lo explicar e, no fundo, nós também não carecemos grandemente dessa explicação. É assim, desde há centenas de anos, e não temos melhorado. Nem com a Democracia.
Pensemos, porém, em metrópoles com dez milhões de pessoas, o dobro ou o triplo, habitando em área inferior a um município de província, isto para significar que a concentração de almas não é um fenómeno que se viva com particular angústia, com um sentimento inevitável de perda de espaço vital e de desenraizamento. Isto para significar que não há portugueses para a totalidade do território, e que a despovoamento ocorre por dupla inevitabilidade. Procura, cada um por si, o que melhor o satisfaz. Idem, para os Governos, e a presente situação – repito, que se avoluma e arrasta – parece ser a que apraz. O panegírico é mera concessão de estilo.
Na letra, o Interior cruza-se com a Regionalização, que foi sendo usada como bandeira por taticismo de distritais partidárias, para subtrair parcelas do Orçamento às operações centrais, e pela CDU de outras eras que, sendo força autárquica, não movimentada verbas para floreados. O estrangulamento deu resultado, a estagnação produziu uma transferência de votos.
O Emprego e os Serviços valem por muletas adicionais, isto é, com oferta de trabalho, excedendo a procura, com escolas, hospitais, residências sénior e creches, mais instalações recreativas de fazer raiva a cidades pinceladas a maresia, o Interior prosseguiria sendo-o, por convenção, mas cessaria de o ser por conotação que rescendesse a atraso. Não vai acontecer, e a retórica em torno do Interior é para currículo e consolo do orador.
O Interior carece de investimento… Ora, dizia, o senhor Nélson de Souza, que está ministro, que não tinha sido possível executar o absurdo, herdado em papel do executivo de Passos. E que trabalheira havia dado rever a sebenta com Bruxelas!
Andamos a legislatura a ouvir reclamações de baixa execução dos quadros comunitários, isto a oposição a dizer, e o governo a contra-atacar, dizendo tudo nos conformes, e que não havia cativações, nem atrasos, etc. E eis que o novel ministro saca a cartolada da má fé ou da incompetência dos pretéritos inquilinos. Diz, o cavalheiro, que os anteriores previam investir cinco vezes mais do que no mandato inicial. Não seria só no Interior, entendo. Passado o grosso da crise, seria natural que o investimento aumentasse. Mas não, o senhor Souza acha que o deixaram em rascunho, só para atazanar o PS. E o engraçado é que ninguém o rebateu. Para mim, era uma óptima ocasião para puxar trunfo.
Misturam-se as coisas: o Governo que não temos, e a Oposição que perdeu a ideia de retomar cadeiras. Misturam-se os interiores – o verdadeiro interior somos nós, recursos que um País malbarata, abdicando de potenciar; o verdadeiro interior, o outro que o Tavares não conhece, não está nas capitais distritais e suas elites, mas em Portugais atrofiados desde o tempo da azémola e do almocreve.?
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