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O momento certo

Premiando o mérito nas Escolas Carlos Amarante

Conta o Leitor

2018-08-23 às 06h00

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Autor: Carlos Ribeiro

Hoje é o dia certo, o momento certo!Enquanto crescemos num mundo perfeito e abençoado, amados por todos os que nos rodeiam, raramente conseguimos ter a perceção de que, um dia, teremos que escolher. Escolher o momento certo de tomarmos decisões que vão definir a nossa existência. Pequenas ou grandes coisas vão acontecendo todos os dias, umas porque assim decidimos e outras porque outros, ou simplesmente a vida, decide por nós. Claro que quando não gostamos ou não queremos podemos rebelar-nos, gritar ou tentar contrariar, o que nem sempre conseguimos.
Famílias que se desmoronam, criando fossos intransponíveis e imperdoáveis, muitas vezes sem qualquer motivo aparente para a sociedade mas real para quem as sente, governos a provocarem especulações e diferenças sociais, criando barreiras entre iguais, povos que por um pedaço de poder se degladiam até destruírem uma infinidade de vidas humanas, empresas que humilham a sua força laboral tratando-a como uma máquina, ou desfazendo-se dela como fruta podre, sistemas sociais e de saúde a esquecerem-se da sua função primária e substituindo-a por interesses económicos de cariz duvidoso. Enfim, o nosso mundo quase perfeito...
Quando era criança e, mais tarde, adolesceste, a exemplo da grande maioria da minha faixa etária, acreditei que um dia iria conseguir mudar o mundo! Ou, pelo menos, uma parte dele de modo a erradicar as coisas más e melhorar as coisas boas. Fui crescendo e lentamente percebendo que, afinal, pouco ou nada iria mudar. As ilusões são próprias da idade, dizem os velhos... mas serão? Ou será que podemos ter ilusões e acreditar que fazemos a diferença, seja qual for a idade que tenhamos? Eu acredito que nada tem a ver com a idade, mas simplesmente com a nossa vontade e coragem, associadas à nossa capacidade de não fecharmos os olhos ao que nos rodeiam e não passarmos por esta vida invisíveis e incógnitos! Qualquer idade é a idade certa, qualquer momento é o momento certo de fazermos aquilo em que acreditamos...
Por inércia e ignorância a maioria das vezes, vivemos imaginariamente tranquilos à espera que as coisas se mantenham tal como as conhecemos, fazendo de conta que não percebemos que é preciso tomarmos decisões. Temos medo! Medo do que não conhecemos, receando que possa não só não melhorar, mas piorar a nossa vida!
O meu pai era um sábio... Viveu a sua curta vida de uma forma simples e honesta, sem grandes ambições, construindo o seu mundo à volta da família e do trabalho. Chegou ao Continente com quarenta e oito anos de idade tal como tinha partido para a aventura africana trinta anos antes; sem nada! A não ser a família: mulher e três rapazes adolescentes. Com uma coragem e determinação invulgares, tentou recomeçar tudo de novo aceitando o facto de ter a sua família dividida por casas de familiares compadecidos. Esperou e foi planeando cada momento, adiando uns e concretizando outros de modo a retomar a vida onde ela tinha parado. O azar, ou um destino cruel, não estavam de acordo com os seus planos e um ano depois foi-lhe diagnosticada uma leucemia que o arrastou para intermináveis consultas, exames, tratamentos e internamentos durante doze longos anos. A escolha dos momentos de concretização de planos e sonhos foi substituída por momentos de angústia, dor, impotência e sofrimento sem fim. A relativização do momento e da escolha do que quer que fosse passou a ser normal, com projetos para um único dia que se resumia em sobreviver mais um, mais um e mais um. Até que um dia, o seu último momento chegou...
Nós aprendemos sempre! De uma maneira ou de outra, começamos a aprender a valorizar cada um dos pequenos nadas que antes nem dávamos conta de existirem. Tantas coisas boas que vivemos diariamente como um perfume de uma flor, um chilrear de um pássaro, uma brisa suave no fim da tarde, um riso inocente de uma criança, um abraço, qualquer outro momento que banalizamos ou que nos passam ao lado. Pior do que isso, damos como certos! E vamos crescendo, tornamos-nos adultos e fazemos as nossas próprias escolhas; quando e com quem namorámos, casámos, temos ou não filhos, comprámos uma casa ou um carro ou não, viajamos ou ficamos por perto, enfim, temos a sorte e a oportunidade de podermos escolher. O que não temos, muitas vezes, é a capacidade e a paciência de percebermos o momento certo para concretizarmos as nossas escolhas… e baralhamos tudo, atropelando pessoas de quem gostamos, renegando amizades de uma vida inteira, banalizando momentos que nunca mais se repetem, afastando pessoas que sempre nos apoiaram e caminhamos, e caminhamos, e caminhamos... cada vez mais sozinhos!
E, um dia envelhecemos! Mais calmos e sábios, começamos a levantar o véu do que realmente significa viver em comunhão, em sociedade e, não poucas vezes percebemos o quanto erramos. Quantas vezes por orgulho e estupidez, não dissemos às pessoas que amamos o quanto elas eram importantes para nós, quantas vezes por preconceito não abraçamos alguém que sentia a nossa falta, enfim, o quanto a nossa vida é feita de escolhas certas e erradas!
E, finalmente, percebemos que o momento certo não existe...

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