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Ideias
2025-05-21 às 06h00
As recentes eleições legislativas em Portugal redesenharam de forma inequívoca o mapa político. Realçando uma realidade que, embora preocupante para alguns, espelha o descontentamento e as expectativas de uma parcela significativa da população. A emergência de um novo ciclo político, com a AD mais forte, o Chega em ascensão meteórica e o colapso do PS. Um desafio de grande dimensão, mas também, uma oportunidade singular para redefinir os alicerces da nossa democracia.
A coligação AD (PSD-CDS-PP) conseguiu reforçar a sua posição, ainda que sem a maioria absoluta. Evidenciando uma preferência mais moderada e estável, e de continuidade na governação. Por outro lado, o crescimento exponencial do Chega é um sinal presistente de um mal-estar profundo, abalando o que muitos consideravam ser um regime estável. "Os portugueses disseram basta a este sistema e querem uma mudança real", na perspetiva de André Ventura, líder do Chega. Uma declaração radical, embora polarizadora, parte do pressuposto, de que uma parcela significativa da população, manifestou a sua desilusão em relação aos partidos tradicionais. Uma posição que implica, em primeiro lugar, que o Parlamento, o Governo e os demais órgãos de soberania, não se devem deixar influenciar e retrair pela perceção, de que o Chega "pôs o sistema a tremer".
É crucial que os partidos democráticos compreendam que o mundo mudou e que a inação ou a manutenção de velhas práticas apenas alimentará o descontentamento. Tal como afirmou Manuel Carvalho, diretor do Público, alertando que "se os partidos democráticos não perceberem que o mundo mudou, na próxima será pior". Contrariando desde logo, a frustração com a "gigantesca hipocrisia" da dita esquerda, que "fingiu defender" os serviços públicos enquanto os deixava degradar, é um sentimento generalizado entre muitos eleitores. Os anos de governação socialista, marcados pela "geringonça" e pela maioria absoluta, deixaram um legado de falhas que agora se manifestam. A perceção de que a "verdade foi sacrificada no altar da habilidade política" foi um golpe na credibilidade dos partidos, que integraram esta oportunidade desperdiçada.
O colapso do Partido Socialista, após oito anos no poder. Inicialmente com a "geringonça" e, depois com maioria absoluta. É, o dado mais marcante destas eleições antecipadas. A saída de cena de Pedro Nuno Santos, que assumiu a liderança após a demissão de António Costa, é um sintoma da erosão da confiança neste partido. Muitos analistas, apontam a degradação dos serviços públicos como um fator crucial para este declínio. Maria João Valente Rosa, comentadora da SIC Notícias, sublinhou que o PS pagou um preço alto, pela perceção de uma deterioração visível, apesar do discurso de defesa do SNS, da escola pública da habitação e do Estado social, que a realidade dos últimos anos, mostrou nestes setores.
Apesar das mudanças, o convencionado "Bloco Central" – a soma de PS e PSD – ainda se mantém, próximo dos dois terços do parlamento. Sugerindo que o centro político, embora abalado, ainda detém uma parte considerável do eleitorado. Contudo, o crescimento dos partidos de protesto é uma realidade que não pode ser ignorada, neste contexto. O Chega com uma dimensão reforçada, que se assumirá uma força de bloqueio, se tiver o apoio do PS.
O Bloco de Esquerda de forma drasticamente enfraquecida, foi reduzido à dimensão do PAN, não deixando de engrossar o ruído, num Parlamento marcado pela emergência de uma tripolarização mais radicalizada. Cabendo ao Partida Socialista, nesta perspetiva, a influência positiva, destes novos fatores, que desafiam a construção de pontes e consensos, fundamentais para a estabilidade política e a governabilidade
Tal como observou, o politólogo José António Passos, em análise na RTP, "o Chega capitalizou o descontentamento e a frustração de uma parte do eleitorado que se sente esquecida e não representada pelos partidos tradicionais. É um sinal de alerta inequívoco para todo o sistema”. A resposta aos desafios ao novo ciclo político, começa agora. garantia de que a história de democracia e liberdade não seja afetada, em face à ascensão de forças que, para alguns, representam um risco para os valores democráticos.
Neste sentido, a classe política tem o dever de demonstrar que está à altura da responsabilidade que lhe foi confiada e, em relação ao futuro da democracia. As eleições democráticas, na sua essência, são sempre justas na expressão da vontade popular, mesmo que as escolhas feitas "nem sempre sejam soluções" imediatas para os problemas complexos que o país enfrenta. A resposta que for dada nos próximos tempos, através da capacidade de diálogo, da formação de alianças e da implementação de políticas eficazes e transparentes, moldará, de forma decisiva, o futuro de Portugal.
O teste à capacidade de diálogo, de compromisso e de ação da classe política, está em curso. A forma como os líderes políticos souberem navegar nesta nova conjuntura, respondendo aos anseios dos cidadãos sem ceder a extremismos e priorizando o interesse nacional, vai moldar, de forma decisiva, o futuro da governação e do País. A responsabilidade é, de facto, de "todos e com todos, todos, todos", conforme afirmou Luís Montenegro, na senda da construção de uma “maioria maior”, popular, humanista e personalista. Exigindo uma participação cívica informada e uma vigilância constante sobre a ação dos nossos representantes eleitos. Só assim será possível transformar este desafio num futuro mais próspero e justo para Portugal.
Pilares fundamentais de uma social democracia transformadora, que mantem a sua afinidade com a idiossincrasia portuguesa, como defendeu Francisco Sá Carneiro. Numa cumplicidade com a democracia social de Diogo Freitas e Amaro da Costa, que está inscrita no código genético da Aliança Democrática. Um desígnio que se tem assumido, como uma alternativa doutrinária ao socialismo democrático, que Mário Soares consolidou, na sua visão de um Portugal plural e inclusivo. Polarizado pela CDU, como uma força fundadora do regime democrático, num registo ideológico conservador, sustentado na luta dos trabalhadores e do movimento sindical, que tem resistido e merece ser respeitado. A Iniciativa Liberal cresceu abaixo das expetativas. O Livre registou um crescimento notável, num sinal positivo.
Agora o tempo é do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que começou ontem a ouvir os Partidos Políticos, com assento parlamentar. Na expetativa, que a nova conjuntura política portuguesa será capaz de reconciliar os velhos problemas com as novas oportunidades, na certeza de que não vamos repetir os erros do passado. Um futuro que, está agora nas mãos dos representantes, que os portugueses elegeram.
“…Cabendo ao Partida Socialista, nesta perspetiva, a influência positiva, destes novos fatores, que desafiam a construção de pontes e consensos, fundamentais para a estabilidade política e a governabilidade”.
23 Junho 2025
23 Junho 2025
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