Fala-me de Amor
Ideias
2015-10-18 às 06h00
É dos cânones da BD: paf! é tabefe plantado nas bochechas ou cachola; poufff! é bóia, pneu ou balão, tornado imprestável por força de incómodo furo - percalços da vida!.. E do PAF, desembocam Coelho e Portas em contrariante poufff. Exclamaríamos: foi um ar que lhes deu! Méritos se creditem pela sigla, no entanto: com eles a manobrar a jangada, ou outros - à frente se queira Portugal! Ave PAF, proclamemos a uma só voz, de coração ao rubro e em plenos pulmões. Quiçá o brado os atice, os disponha - sabe deus se por engano, ou assomo incurável de patriotismo - a dar genuína prioridade ao interesse colectivo.
Reconheço que nem sempre sei a quantas ando. Seja da latitude ou da má vida, mas misturo imaginação com factos reais, sonhos com detalhes oriundos de rigorosa observação. Passa-me pela ideia que a campanha eleitoral da PAF era gerida por um publicitário, ou particularmente calhado director de comunicação. Acredito que tivessem perdido horas de sono até que chegassem a sigla de jeito. E ei-la: PAF! Mas é onomatopaica de solha, de estaladão, - terá arguido semiólogo atento -, e não faltará quem se lembre das lagostas que anichou. O argumento era poderoso, mas a dúbia sigla lá ficou. De caminho, alguém terá lembrado que o PS se tinha limitado a trocar de choninhas, que o Costa não descolava nas sondagens, que era frouxo: enfim, um poufff!
Papeis contados. Perdem os pafes mais do que ganham. Por si, não vão a lado nenhum, e não há fórmula que leve o Costa Poufff a dar prioridade ao tráfego que se apresente pela direita. Fará, quando muito, um compasso de espera, a ver no que param as modas, e para ganhar embalo. Mas só se for tonto de todo, só se quiser arruinar a carreira política, é que ignorará os apelos inéditos que o suscitam pela esquerda. Movem-se comentadores, politólogos e cidadãos afáveis: que um arranjo à esquerda é contranatura, dizem. Renovam-se anátemas: a esquerda da esquerda rescende a ditadura do proletariado, é imbecil e ruinosa, os investidores fugirão de medo, os capitais entrarão em hibernação. Em suma: portugal sucumbirá! Logo agora, que tudo se compunha...
Conhecemos o socialismo como ideal e como prática. Sabemos que a prática perverteu e derrotou o conceito. Sabemos que partidos, que garbosamente ostentavam a designação “socialista”, fizeram tábua rasa das bases doutrinais, acomodando zelosamente, sem complexos ou má consciência, as imposições crescentes da informe oligarquia financeira. E não houve correcção de excesso ideológico esquerdista que não fosse feita em nome da eficácia da máquina social, em favor da agilidade económica; no limite, em benefício do cidadão anónimo.
E foi assim que os arautos das arraias miúdas, preservando nomes simpáticos, como socialista ou social-democrata, se entregaram ao lucrativo desporto de satisfazer os caprichos do sacro capital, dos bem-aventurados mercados. Caricato é que se continue a agitar o papão das misérias da esquerda, quando as virtudes maltrapilhas das direitas estão aí, claras e de boa saúde. Não há como dize-lo de outra forma: o socialismo baixou à cova há um quarto de século, e de então para cá não temos conhecido senão uma deterioração progressiva das condições salariais, uma retracção da qualidade de vida, um aumento das desigualdades sociais, uma escandalosa concentração da riqueza. O socialismo era mau para a economia, e um entrave à plena realização humana? E então o capitalismo de última hora? Em 25 anos de hegemonia não houve asneira grossa que banqueiro fino ou diplomado operador bolsista não tivesse cometido, escavacando orçamentos de países inteiros.
Governar à esquerda ou à direita? Quer lá o povo saber, desde que a coisa marche. Só não me venham com a arenga dos mercados, que é ladainha que já mete nojo.
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