Entre decisões e lições: A Escola como berço da Democracia
Ideias
2025-04-27 às 06h00
No mundo assistiu ontem ao funeral de Francisco, o primeiro Papa proveniente do continente americano.
Foi um Papa que praticou sempre, ao longo do seu pontificado, a simplicidade e a solidariedade para com os mais desfavorecidos. Procurou incessantemente os caminhos da paz, manifestando profunda tristeza pelos conflitos que assolam o mundo, com especial destaque para a destruição em curso em Gaza e também na Ucrânia e, obviamente, os problemas associados à emigração.
O destino quis que a última visita de Estado recebida por Sua Santidade tivesse sido a do vice-Presidente dos Estados Unidos da América - país cuja política atual não partilhava.
Os estados de alma de uma pessoa são difíceis de decifrar, embora existam casos em que a desilusão ou a tristeza contribuam para o seu definhar. Foi exatamente isso que aconteceu com o Papa Pio X. Tal como o Papa Francisco, também o Papa Pio X foi marcado por uma profunda humildade e dedicação aos mais necessitados. Embora separados por mais de um século, ambos os pontificados distinguiram-se pelo compromisso com a simplicidade, a justiça social e a paz.
Com raízes profundamente humildes e de origem camponesa, o Papa Pio X era o segundo de dez irmãos. O seu pontificado teve início a 4 de agosto de 1903 e prolongou-se por onze anos. Conhecido como o 'Papa Camponês', deixou escrito no seu testamento: “Nasci pobre, vivi como pobre e, certamente, morrerei muito pobre”.
Os conflitos que marcaram o início do século XX preocuparam profundamente Pio X. Ao aperceber-se de que dessas divisões poderia eclodir um conflito mundial, o Papa tudo fez para evitar que a guerra começasse. O então Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Rafael Merry del Val, referiu no livro “Memórias do Papa Pio X” que, em 1911 e 1912, o Papa lhe falava insistentemente sobre o conflito que se avizinhava. Segundo o Secretário de Estado do Vaticano na altura, Sua Santidade o Papa Pio X iniciava a conversa da manhã com a seguinte observação: “Eminência, as coisas vão mal… A Grande Guerra se aproxima… Não passaremos do ano de 1914”.
Perante a iminente ameaça da Áustria declarar guerra à Sérvia, o Papa Pio X escreveu propositadamente a Francisco José I, Imperador da Áustria e Rei da Hungria, apelando-lhe para que não iniciasse o conflito. De nada valeu este apelo, tendo o Papa lamentado que a sua mensagem tivesse sido recebida com desdém pelo líder do Império Austro-Húngaro.
Ao saber do início da guerra, o Papa Pio X chegou a afirmar que o deflagrar do conflito mundial constituía a maior dor que um soberano católico causara a um Papa desde Bonifácio VIII!
Outro momento de grande desilusão demonstrado por Pio X prendeu-se com o momento em que o embaixador da Áustria junto do Vaticano foi pessoalmente pedir a Pio X a bênção papal para o exército austro-húngaro, tendo o Papa referido que não a poderia conceder apenas a um exército, mas a todos os que se encontravam em conflito.
À medida que Pio X tomava conhecimento das atrocidades cometidas na Europa, sobretudo na Bélgica, onde mulheres, crianças e até bebés foram chacinados, o Papa chegou mesmo a afirmar que aquela guerra horrível acabaria por matá-lo. Para o “Comercio do Minho”, de 3 de setembro de 1914, “A cada nova batalha, a cada nova carnificina, mais o punhal se aprofundava no coração amorosíssimo do Pontífice, que fôra sempre o protótipo da bondade, da mansidão, da simplicidade, da paz, da caridade e do amor a toda a christandade”.
A fonte referida não tinha dúvidas que o Papa Pio X tinha sido vítima “d’essa guerra que se está ferindo no coração da Europa, guerra execravel que nada justifica, porque não tem um alvo elevado, um ideal que se possa louvar; guerra que constituiu o maior insulto cuspido na civilização e na solidariedade humana”!
Logo após o início da guerra, em julho de 1914, Pio X proferiu as seguintes palavras, pouco antes da sua morte: “Esta será a última aflição que me manda o Senhor. Com gosto daria minha vida para salvar meus pobres filhos desta terrível calamidade” (“Memórias do Papa Pio X”, Cardeal Rafael Merry del Val).
Para “O Amarense”, de 22 de agosto de 1914, não restam dúvidas que o “desencadeamento e o encarniçado prosseguimento da conflagração europeia abalaram de tal modo o paternal coração de Pio X, que deixou de palpitar para este mundo. Depois de ter trabalhado o mais que pôde pela paz, não lhe sendo dado gozal-a n'este mundo, chamou-o Deus a gozar da paz eterna”.
Este órgão pede mesmo que Sua Santidade Pio X continue com o seu “zelo nunca desmentido agora no Ceu a advogar a justa causa a que se tinha dedicado na terra”!
O Papa Pio X faleceu em Roma a 20 de agosto de 1914, apenas três semanas após o início da Primeira Guerra Mundial e precisamente no dia em que as forças alemãs marcharam sobre Bruxelas. Parece evidente que o Papa foi vítima do profundo desgosto provocado por essa terrível guerra.
Já na fase final da Segunda Guerra Mundial, a 19 de maio de 1944, o caixão do Papa Pio X foi trasladado para a Capela do Santo Crucifixo, na Basílica de São Pedro, para ser submetido a um exame canónico. Nessa altura, passados trinta anos sobre a sua morte, ao abrirem a urna, verificou-se que o corpo do Papa Pio X se encontrava praticamente intacto.
O corpo do Papa Pio X ficou então exposto durante 45 dias. Foi exatamente durante esse momento em que o corpo de Sua Santidade estava exposto no Vaticano, que as forças aliadas, nomeadamente EUA, França e Inglaterra, libertaram Roma do domínio dos fascistas e nazis, exatamente a 4 de junho de 1944.
Conhecido também por "Papa do Santíssimo Sacramento" ou “Papa da Eucaristia”, Pio X foi beatificado a 17 de fevereiro de 1952, e canonizado a 29 de maio de 1954, por lhe terem reconhecido vários milagres.
Não se deve vincular o falecimento do Papa Francisco à tristeza derivada dos conflitos que assolam o mundo na atualidade. Não obstante, é inequívoco que Sua Santidade não terá encontrado satisfação em grande parte dos acontecimentos que marcaram os anos finais da sua existência.
15 Maio 2025
15 Maio 2025
Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.
Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.
Continuará a ver as manchetes com maior destaque.
Faça login para uma melhor experiência no site Correio do Minho. O Correio do Minho tem mais a oferecer quando efectuar o login da sua conta.
Se ainda não é um utilizador do Correio do Minho:
RegistoRegiste-se gratuitamente no "Correio Do Minho online" para poder desfrutar de todas as potencialidades do site!
Se já é um utilizador do Correio do Minho:
LoginSe esqueceu da palavra-passe de acesso, introduza o endereço de e-mail que escolheu no registo e clique em "Recuperar".
Receberá uma mensagem de e-mail com as instruções para criar uma nova palavra-passe. Poderá alterá-la posteriormente na sua área de utilizador.
Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos.
Deixa o teu comentário