A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2011-03-13 às 06h00
Mais do que queixas, valorizo soluções; mais do que exigências, aprecio trabalho. Poderia, neste contexto, minimizar o protesto desta “geração à rasca”. De todo. Estamos todos à rasca. Jovens adultos, adultos em idade activa, reformados. Não é bem este o mundo onde queremos viver. É preciso dizê-lo, mas também urge fazer alguma coisa para inverter o actual caminho. Ontem, o povo saiu à rua. Em Lisboa e no Porto, as ruas foram particularmente ruidosas. Pena não ter ficado ali uma mensagem forte. Apenas vi uma multidão deslizar vagarosamente pelas artérias das cidades. Sem dizer nada de importante. Fiquei preocupada com esta geração em crise, aparentemente à deriva.
Ao longo da tarde, fui seguindo, pelos directos dos canais de informação, a manifestação da chamada “geração à rasca”, que começou por ser dos mais jovens, mas que cedo foi assaltada por outros grupos etários. Porreiro, poder-se-ia dizer. Sentada em frente ao ecrã da TV, ia esperando que a rua se transformasse num espaço público dinâmico, em permanente desassossego. Em vez disso, fui olhando uma massa que descia a Avenida da Liberdade, em Lisboa, sob um fundo de ruidosas buzinas. No meio desse grupo, emergia uma camioneta aberta onde se viam os “Homens da Luta”, misturados com ex-participantes da “Casa dos Segredos” da TVI, que capitalizavam, deste modo, notoriedade pública e mediática. Assim enquadrados, aquela tribo parecia estar num concerto de rock. Estranho…
Mudei o meu ângulo de atenção, centrando-me nos cartazes… Há duas semanas, no “Expresso”, os promotores desta manifestação prometeram que cada manifestante se muniria de uma folha de papel com uma mensagem significativa. Houve, decerto, um esquecimento colectivo a esse nível. Os poucos cartazes que vi ostentavam palavras de ordem costumeiras. Pobre.
Não podia ser assim tão exigente. Vamos lá. Os repórteres iriam certamente ouvir a rua. A pergunta foi sendo reiterada nos diferentes canais. Todos os jornalistas queriam saber as razões que levaram aquelas pessoas ali. Não ouvi qualquer resposta articulada. “Vim por causa do sistema”, “vim para tirar o primeiro-ministro do Governo”, “vim para me juntar a esta gente precária”… Só isto?... Haveria de esperar pelas intervenções de encerramento.
Pelas 18h00, começaram os discursos. Os promotores desta manifestação leram repetidamente o manifesto conhecido há algum tempo, houve quem subisse ao palco e gritasse que “o povo unido jamais será vencido”, cantou-se o hino nacional e o refrão da música vencedora do festival da canção: “Luta, luta, camarada luta”. No final da música, ficaram todos à deriva. Sem ninguém a orientar esta comandita, não parecia haver ali nada de substancial para dizer. Olhava a TV e mais parecia estar a assistir a uma Reunião Geral de Alunos numa qualquer escola secundária.
Deixei a TV e fui dar uma volta pelos sites dos jornais. No “Público”, lia-se: “milhares juntam-se ao protesto geração à rasca em todo o país”. No “Expresso”, anunciava-se uma “geração rasca em peso na rua”. Na TSF, anunciavam-se “milhares de pessoas de diferentes idades no protesto ‘Geração Rasca”.
Na rua, a repórter da RTP perguntava se esta manifestação poderia ser uma réplica do 25 de Abril. Poderia, mas faltou-lhe os discursos de substância. Poderia, mas faltou-lhe uma geração com garra, capaz de pegar neste país deprimido e virá-lo de pernas para o ar. Poderia ser uma espécie de 25 de Abril, se todos nós tivéssemos consciência de que descer a Avenida da Liberdade em Lisboa ou ocupar a Praça da República em Braga exige mais do que uma predisposição para um passeio, exige de cada um de nós uma vontade efectiva para mudar este país.
O povo saiu, ontem, à rua. Foram muitos, é verdade. A manifestação foi pacífica, há que enaltecer. Falta saber se alguma coisa mudou…
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