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Ideias

2016-02-07 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Marcelo chega à Presidência da República no cenário político de hoje, como por certo chegaria no quadro de um Estado Novo recauchutado, com verniz democrático, sem colónias, das quais acabaria por abrir mão.
Marcelo, apadrinhado e sucessor de outro Marcello! Não se sugere que no vitorioso pulse coração formatado pela velha senhora. Tampouco se murmura que, quem para os de antigamente servisse, desqualificado se acharia para os altos cargos do presente. Fica a sensação, no entanto, que a elite de outrora bate com a elite de hoje, e, se é claro que as elites governam primordialmente em proveito próprio, então, por a jeito que se encham bocas com o bendito “povo” em horas de liturgia, por bem que calhem ressurreições da “Grândola”, ou associações a encíclicas piedosas em nome dos desfavorecidos, melhor é que não inundemos o espírito de esperanças.
Soleniza Marcelo a vitória entre paredes da Faculdade, corredores por onde circula há meio século. Quantas camadas no gesto simbólico? Quereria Marcelo significar que o Saber imperará sobre a Política? Que a Lei primará com transparência sobre os conluios? Que as necessidades dos menores prevalecerão sobre os interesses dos influentes, sumariamente destituídos de prebendas ou honrarias? Que os destinos do Colectivo cortarão a direito sobre vagos direitos ditos adquiridos e obras de fachada?
Talvez Marcelo gostasse de o pensar, mas na sua vitória não ecoa propriamente a Academia, a Sociedade Civil. Ganhou, Marcelo, por ser popular, por parecer pau para toda a colher, por ter ares de independente, por bizarrias de quem se está nas tintas para a opinião que dele façam; ganhou bem e democraticamente, Marcelo, mas mais prontamente vemos a sua vitória como o triunfo do prato do dia sobre o serviço à lista, do que o resultado de uma escolha com pés e cabeça, reconhecida ao candidato uma análise congruente da realidade, validadas as ideias em benefício da Nação pelas quais se bata diante de Governos com quem coabite.
Diz, Marcelo, que fomentará, que reforçará, que promoverá, que incentivará, que conciliará, identificando cinco grandes ideias - traves-mestras de um mandato. Demasiado genérico, e no mero plano das louváveis intenções. Não atravessa Portugal uma crise por falta de boas palavras, por míngua de peitos de jurado patriotismo. Afunda-se, Portugal, por não gerar mais emprego do que aquele que degrada. Afunda-se, Portugal, porque qualquer fabriqueta de bolachas arruma malas em Mem Martins, para reabrir algures entre os checos, e não será a centena de biscoiteiros despedidos às portas de Sintra que regressará com empolada flexi-segurança à vida activa.
Brilhante seja Marcelo, não é génio que de lâmpada irrompa para garantir terno de desejos, nem fada-madrinha armada de potente vara de condão para criar economia onde acampa estagnação. Mas de Marcelo ou de Costa, em suma, de todos os tenores oficiais da política, no governo estejam ou a tal aspirem, melhor deles esperaríamos diagnósticos crus e medidas alicerçadas para vencer atrasos e desfasamentos.
Quanto a Marcelo me associe na convicção de que os portugueses têm trunfos e genica para dar a volta por cima, mais confortado enfrentaria eu o dia-a-dia se lhe ouvisse coisas a que não chegue eu pela minha pequenez ou miopia política. Por mim, da forma como o capitalismo financeiro tem evoluído, não lobrigo grandes perspectivas para países de pequenas economias, e seja Portugal enorme aos olhos de Pessoa, certo é que os gestores de fundos melhor rimam juros com puros e seguros, do que glória com história. E nós dançamos pela música que tocam.

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