Na minha primeira crónica deste novo ano, 3 de janeiro de 2023, elenquei palavras relativas à postura do professor, de A a Z, e à importância do tipo de relação pedagógica que estabelecemos. Desde essa crónica e até Julho aprofundaremos as diferentes palavras de A a Z, pela mesma ordem apresentada: a do alfabeto português, atualizando e referenciando os momentos mais marcantes da vida da escola, no presente, na atualidade, no “agora”. 

E – EMPÁTICO: aptidão para se identificar com o outro, sentindo o que ele sente, desejando o que ele deseja, aprendendo da maneira como ele aprende.

Este sem dúvida na ordem do dia. O professor empático. A empatia é tão importante para o sucesso académico como para o desenvolvimento socioemocional dos alunos. Não é ser “amigo” dos nossos alunos como tantas vezes refiro, mas antes conseguir colocar-me neles, perceber o impacto do que faço e principalmente do que digo. Se assim acontecesse não diríamos tantas coisas na sua frente… não diríamos tantas coisas como se eles fossem surdos …. não diríamos tantas coisas como se eles não sentissem, desprovidos de emoções e de sentimentos. O professor empático percebe o alcance, o impacto das suas palavras e das suas ações nos seus alunos. O professor empático é simpático, não diz tudo o que pensa, pensa em tudo o que diz, tem autoridade e sentido de humor, interessando-se verdadeiramente pelos seus alunos, criando um ambiente de apoio e confiança. Ahh… importante também. O professor empático é também o coordenador empático, o adjunto empático, o diretor empático. E às vezes estes últimos não o são, não.

F – FLEXÍVEL: porque dócil. É ágil e elástico, adaptando-se facilmente aos acontecimentos, realizando diversas atividades.
O professor flexível, entendendo aqui a flexibilidade no domínio curricular, é o professor que cria um ambiente de aprendizagem mais dinâmico e participativo, estimulando a criatividade e a curiosidade dos alunos. Sala de aula que não conversa, que não participa, em pequenos grupos, em grande grupo, que não permite “barulho”, não é uma sala de aula. É tão fácil fazer o paralelismo entre a formação de professores e a flexibilidade do formador, promovendo na formação que os professores façam pequenos trabalhos em grupo, dentro da mesma sala, conversando, interagindo, “pensando alto”. Há momentos mais expo- sitivos, outros em pequeno grupo, outros em grande grupo. E sabem o que normalmente os professores escrevem na sua autoavaliação? Que aprenderam imenso nos tempos de partilha em pequeno grupo sendo esses momentos de mais-valia. Engraçado… pois no dia seguinte, chegam à sua sala de aula e exigem que os seus alunos aprendam calados, quietos, virados para o quadro, ou com o nariz enfiado no seu manual ou na ficha de trabalho. Sobre esta, ficha de trabalho, “uma modernice” dos professores ditos flexíveis, que não usam manuais porque sim, pois apenas os substituem por “fichas” soltas. A flexibilidade curricular está muito para além dos manuais ou das fichas. Está no ambiente dinâmico e participativo da sala de aula, porque o professor acredita na criatividade e na curiosidade dos seus alunos. É um professor dócil.

G – GRANDE: exprime um comportamento nobre, honesto. Notável na sua relação com os alunos.
É o professor líder, modelo e inspiração para os seus alunos. O professor que sabe, o mestre rebouliano, que se informa, que estuda continuamente as matérias que leciona, que aprofunda o seu domínio curricular. E que passa para além disto. Não é apenas grande no domínio curricular, mas é-o também na habilidade em motivar e inspirar os seus alunos a alcançar os seus objetivos. Aguilar, em 2015, relacionava a grandeza do professor associada a traços como comprometimento, paixão, liderança e excelência. Comprometimento constante com a melhoria contínua e a procura da excelência. Têm relacionamentos positivos com os alunos, demonstrando confiança e respeito mútuo. A grandeza do professor envolve a melhoria contínua, a capacidade de liderar e inspirar os alunos e a habilidade de se relacionar emocionalmente com os alunos. É uma habilidade que pode ser desenvolvida ao longo do tempo através da reflexão crítica e do compromisso com a excelência. Por onde anda a paixão, a liderança e a excelência dos professores? Pelas ruas da amargura… alguns dirão. (Um pequeno parêntesis para referir que neste momento, o professor grande, líder, modelo e inspirador, não faz parte do léxico dos nossos governantes).

H – HUMANISTA: aberto e disponível, apoia os outros, não se sente ameaçado quando outros são capazes e bons. Resume um pouco as três qualidades anteriores: empático, flexível e grande. O professor que entende que cada aluno é único e tem necessidades e interesses únicos também. O professor que valoriza a diversidade e a individualidade de cada aluno. E que quando um aluno, que ultrapassa em larga escala os conteúdos previstos para a sua aula, necessita de enriquecimento ou aprofundamento curricular, o professor humanista promove, incentiva, sem qualquer medo ou sensação de ameaça, que o seu aluno possa ir mais além, possa aprender todos os dias coisas novas, porque o limite…. Apenas não existe! Muito menos numa sala de aula!