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O que contar da geração digital?

A necessidade de dizer chega

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O que contar da geração digital?

Ensino

2023-03-29 às 06h00

Francisco Porto Ribeiro Francisco Porto Ribeiro

Penso que a proposta de artigo desta edição estará em linha com a preocupação geral, principalmente, com as pessoas com filhos jovens. A preocupação está na apreciação do impacto, nas novas gerações, da evolução da tecnologia e o tempo de uso/recurso à mesma e aos ecrãs. Então, a pergunta inicial que se pode fazer é a seguinte: o que podemos esperar da geração digital?
Faço a perguntar porque, supostamente, esta nova geração tem acesso a mais informação e é, claramente, tecnologicamente mais desenvolvida, com outras aptidões e novas qualificações. Mas então, porquê esta preocupação a respeito do tempo de perda nos ecrãs? Porque há estudos que revelam que esta nova geração, com mais qualificações tecnológicas e com imenso tempo de ecrãs, desenvolve menos as suas aptidões cognitivas e, como tal, apresentam-se com um quoeficiente de inteligência (denominado QI) inferior aos pais. Então, será a culpa do tempo em frente dos ecrãs, da tecnologia ou do tipo de educação (leia-se, formação) que os mesmos têm? Sim, porque hoje é recorrente o recurso às novas tecnologias para resolver todo o tipo de problemas dos jovens, inclusive, nas escolas (calculadoras, portáteis, telemóveis, recurso à internet como Google ou Youtube).
Segundo o livro “A fábrica de cretinos digitais, o perigo dos ecrãs para os nossos filhos” (passando a publicidade, disponível na Bertrand ou na Wook, do neurocientista francês Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, há evidências factuais (dados concretos, apresentados de forma conclusiva) que revelam que os novos dispositivos digitais estão a afetar gravemente o desenvolvimento intelectual dos jovens em formação e das crianças de hoje. Na perspetiva do autor, a responsabilidade é dos educadores, no geral (leia-se, pais e professores), uma vez que estão a fazer recurso a um acesso facilitado de informação e a prejudicar o futuro desenvolvimento dos jovens. E segundo o autor, numa entrevista à BBC, “estamos a viver uma situação muitíssimo preocupante”. Michel Desmurget afirma, ainda, que, pós milhares de anos de evolução, o ser humano está, claramente, a regredir em termos cognitivos e de capacidade intelectuais. É sempre mais fácil arranjar um “bode expiatório” e dizer que a culpa é dos ecrãs, mas, em abono da verdade, a culpa é nossa, porque “conduzimos” as crianças para as novas tecnologias como forma de “comprar” amor e afeto, paz e sossego. O resultado é desastroso. Atenção com isso!
Para sermos exatos, sobre o que nos referimos a “tempo de ecrãs”, insere-se neste universo telemóveis, tablets, televisores, computadores e outros gadgets. Segundo o autor, nota-se já este registo em crianças após os 2 anos, em países ocidentais que, ao final do ano (termos médios), dá cerca de 2400 horas “presas” a ecrãs, seja a estudar, a jogar, em lazer familiar (filmes) ou outro modo. Esta exposição excessiva, ao contrário do que se previa, não melhora as aptidões dos jovens, muito pelo contrário. Associado a este aspeto, estão relacionadas questões de saúde, como obesidade, doenças cardiovasculares, diminuição de esperança de vida, situações comportamentais (graves, como a depressão, a ansiedade e até a agressividade), a socialização, entre outros aspetos.
Na referida entrevista à BBC, o autor considera que “os pesquisadores observaram em muitas partes do mundo que o QI aumentou de geração em geração”, denominado 'efeito Flynn', mas é uma tendência que, recentemente, tem sido revertida em vários países. Considera que, de acordo com dados de investigação, os "nativos digitais são os primeiros filhos a ter QI inferior ao dos pais, uma tendência documentada na Noruega, Dinamarca, Finlândia, Holanda, França, etc.” Defende, ainda, que estudos demonstram que, com o incremento do uso de televisão ou videogames, aumenta, em proporção inversa, à diminuição do desenvolvimento do QI cognitivo. Estes gadgets afetam os principais alicerces da nossa inteligência, nomeadamente, a linguagem, a concentração, a memória e a cultura (um corpo de conhecimento que nos ajuda a organizar e compreender o mundo). Esses impactos levam a uma queda significativa do desempenho académico, com a consequente diminuição da qualidade e quantidade das interações intrafamiliares, à perturbação do sono (também se aplica aos adultos), à superestimação da atenção com distúrbios de concentração, aprendizagem e impulsividade, à subestimulação intelectual, impedindo o cérebro de desenvolver todo o seu potencial, ao sedentarismo excessivo, afetando o desenvolvimento corporal e a maturação cerebral. Constatou-se que o tempo gasto em frente a uma tela, para fins recreativos, atrasa a maturação anatómica e funcional do cérebro em várias redes cognitivas relacionadas à linguagem e à atenção. O autor defende que o cérebro não é um órgão “estável” e que as suas caraterísticas dependem do mundo em que vivemos, dos desafios que enfrentamos, modificando tanto a estrutura quanto o funcionamento. Com isto tudo, algumas regiões do cérebro especializam-se. Outras redes são criadas e fortalecidas, havendo umas que se perdem. Ressalta que nem todas as atividades alimentam a construção do cérebro com a mesma eficiência. Num “cérebro” em construção, todo o cuidado é pouco. Fica o alerta e a proposta de leitura da entrevista, considero que seja um investimento de tempo. Recomendo a leitura, no meio de promover o upgrade de conhecimento.

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