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O que podem esperar os portugueses em 2023?

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O que podem esperar os portugueses em 2023?

Ideias

2023-01-28 às 06h00

António Ferraz António Ferraz

Neste texto, traça-se algumas perspetivas para a economia portuguesa no corrente ano de 2023. Será de esperar uma dura realidade para os portugueses? Para tentar dar uma resposta a essa questão passa-se a abordar abaixo os seguintes aspetos económicos (1) inflação; (2) nível de atividade económica; (3) desemprego; (4) pobreza ou exclusão social. Por fim, procurar-se-á tirar algumas conclusões sobre o desempenho esperado da economia portuguesa em 2023.
(1) INFLAÇÃO: após uma taxa de inflação de 7,8% em 2022 (a maior dos últimos 30 anos), o Instituto Nacional de Estatística (INE) revela que a taxa de inflação em 2023 será de 5,8%, portanto, mais baixa que no ano anterior), mas ainda assim, um valor relativamente elevado. Porquê? Devido, ao efeito inércia da escalada dos preços, a pressão de subida dos preços dos produtos energéticos e dos bens alimentares não processados (componentes mais voláteis da taxa de inflação) e a incerteza quanto ao desfecho do atual conflito Rússia e Ucrânia (países que são grandes exportadores de produtos energéticos e de cereais)
E, o que dizer da possível relação entre o aumento dos salários nominais e o nível dos preços? Desde logo, frise-se que Portugal tem vindo a assentar a sua economia nos baixos salários. Portanto, para nivelar os salários dos trabalhadores portugueses com a média da União Europeia (UE-27), subidas salariais, à partida, são desejáveis dentro de certas condições. Depois, tem-se vindo a assistir em Portugal nos últimos anos a subidas dos salários nominais (setores público e privado) abaixo das taxas de inflação. Desta forma, registam-se reduções dos salários reais e, logo, do poder de compra dos trabalhadores. Mais, os custos salariais na estrutura dos custos de produção das empresas portuguesas (à exceção das micro e pequenas empresas) possuem um peso menor em comparação com os outros custos de produção, caso, por exemplo, dos produtos energéticos. Do exposto, pode-se concluir não ser expetável o surgimento de uma espiral salários/preços em 2023 (tal como em 2022).
Mais realista, será, sim, a ocorrência de uma espiral impostos/preços em 2023 (como sucedeu em 2022), devido a cobrança de elevadas receitas fiscais em consequência da escalada dos preços, em particular, nos impostos indiretos (IVA, ISP, etc.). Ora, a escalada dos preços tem vindo a tornar-se num problema ainda mais gravoso para os portugueses dado que as componentes mais estáveis da inflação (todos os bens e serviços, excluindo os produtos energéticos e bens alimentares não processados), a chamada taxa de inflação “core” ou subjacente também ela foi elevada de 5,6% em 2022. Note-se que a subida dos preços das componentes mais flexíveis da inflação foram em novembro de 2022 de 24,7% nos produtos energéticos e de 20,0% nos bens alimentares não processados.
(2) NÍVEL DE ATIVIDADE ECONÓMICA: as projeções oficiais apontam para que em 2023 se deva assistir a um forte abrandamento da atividade económica, passando de um taxa de crescimento económico (do PIB) de 6,7% em 2022, para uma taxa que varia entre os 0,7% (Comissão Europeia) e 1,5% (Banco de Portugal). Porém, não será de excluir a hipótese mais grave de ocorrência de uma recessão económica (taxa de crescimento económico, do PIB, negativo). Assim, desde o 2º trimestre de 2022, que a economia portuguesa tem vindo a conhecer um processo de desaceleração económica em função: (a) da continuação da subida dos preços dos produtos energéticos e bens alimentares não processados, face ao arrastar do conflito Rússia-Ucrânia; (b) da possibilidade de novas subidas das taxas de juro do BCE, implicando com isso em novas perdas de poder de compra dos portugueses, com a consequente retração do consumo das famílias, o que tem sido o “motor” da economia portuguesa.
(3) DESEMPREGO: deve continuar a aumentar em 2023. Em novembro de 2022 a taxa de desemprego em Portugal subiu para 6,4% da população ativa (331,6 mil pessoas), o número mais elevado desde julho de 2021 (6,6%) e que compara com 6,0% no mês de outubro e 6,2% face a igual mês de 2021 (INE). Mais, a taxa de desemprego jovem (entre a população dos 16 aos 24 anos) elevou-se passando de 17,9% em outubro para 18,2% em novembro de 2022, enquanto a taxa de desemprego entre os adultos (dos 25 aos 74 anos) subiu de 5,2% para 5,5%. Enfim, denota-se agora uma dinâmica de elevação da taxa de desemprego em Portugal em 2023.
(4) POBREZA OU EXCLUSÃO SOCIAL: a taxa de risco de pobreza ou exclusão social, definida pela taxa de pobreza (conjunto de pessoas que ganham menos de 60% da salário médio nacional) ou vivendo em agregados com intensidade laboral “per capita” muito reduzida ou em situação de privação material e social intensa foi em 2021 (dados disponíveis) de 19,4% da população face aos 22,4% em 2020, ou seja, uma descida de 3,0 p.p.), mas, mesmo assim, abrangendo uns inaceitáveis mais de 2 milhões de portugueses. Com isso, em 2021, Portugal passou a ocupar a 8ª taxa de pobreza ou exclusão social mais elevada da UE-27 (contra um 13º lugar em 2020). Não é assim de estranhar que com a continuação da crise económica e social mundial em Portugal haja uma pioria da taxa de risco de pobreza ou exclusão social em 2023.
Concluindo, em Portugal e em 2023 apenas existe uma certeza a de não se poder evitar um forte abrandamento do da taxa de crescimento económico (do PIB), não se afastando na pior das hipóteses uma recessão económica. Assim, as dificuldades para os portugueses deveram se sentir já no primeiro semestre de 2023 em resultado da baixa do indicador “clima de confiança dos consumidores” e do esgotamento das poupanças acumuladas pelas famílias na pandemia. Com a quebra do consumo das famílias e das receitas do setor do turismo prevê-se que em 2023 haja uma situação económica difícil.
Ou seja, num quadro de elevada instabilidade económica e social europeia e mundial muito provavelmente os portugueses se depararão com uma dura realidade em 2023.

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