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O recomeço

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Conta o Leitor

2014-08-19 às 06h00

Escritor Escritor

Vânia Rodrigues Oliveira

Elisa acordou como habitual às 7h30, para ir trabalhar, olhou para o seu lado e como de costume, o seu namorado, com quem vivia há um ano, estava a dormir. Esta levantou-se, dirigiu-se para o quarto de banho, e enquanto fazia a sua higiene oral, olhou-se ao espelho e recordou tudo o que ganhou e perdeu durante a vida.

Na viagem interna que fez naquele momento em que seus olhos viram o íntimo de sua alma, recordou alguns fatos importantes que foram determinantes para a formação do seu caráter. Entre muitas questões que silenciosamente colocou a si mesma, acerca do seu caminho pela vida, e da frustração que sentia pela vida, levaram-na a derramar algumas lágrimas, que logo se misturaram com a água que passou no rosto. Voltou para o quarto, vestiu-se e saiu de casa para mais um dia que parecia ser igual a todos os outros.

Durante o caminho que fazia diariamente de casa para o trabalho, Elisa recordava-se de todas as pressões psicológicas que vinha a ser vítima no último ano. A empresa com quem vinha a colaborar nos últimos anos, estava a passar por graves problemas financeiros, devido à grande crise que se instalara no sector. Elisa tinha 33 anos e um namorado que recusava terminantemente a ideia de ter filhos ou a casar com ela e a cada passo, pelos motivos mais absurdos ameaçava-a expulsar de casa, o que a deixava com um sentimento de tristeza profunda.

Toda a sua vida naquele momento era instável, ela não tinha nada que a fizesse acreditar que era possível realizar os seus sonhos. Não era descrente, mas começava a duvidar que tivesse sido escrito algo de importante na sua vida, mesmo que os seus sonhos fossem apenas ter um emprego estável e a formação de uma família.

A cada passo que dava, mais e mais recordações de sua vida lhe faziam soltar um grito mudo de revolta que nascia e crescia, nesta, que se tornou a caminhada da revolução. Quando deu por si, os seus passos transformaram-se, e a caminhada tornou-se numa marcha rápida muito semelhante a corrida, e nesse momento Elisa, sentiu-se um cavalo solto num prado a correr livremente, seu coração batia descompassado, e um sentimento de alegria, vindo não se sabe de onde, nascia do seu peito e ganhava força a cada batida do coração. O pulsar da vida nascia em si, então já suada, parou um pouco, recuperou o fôlego e continuou a caminhada.

Chegada ao local do trabalho, ligou o seu computador, decidiu então abrir o motor de busca, e colocar no barra de pesquisas as palavras que acabariam por mudar a sua vida, “A caminho do mundo perfeito”, foram as palavras escolhidas, como resultado da pesquisa, encontrou a partilha de algumas pessoas acerca da sua experiência de trabalhar no estrangeiro e de como foram bem sucedidas.

Elisa começou secretamente, a pesquisar mais e mais acerca da possibilidade de trabalhar e viver no estrangeiro. Encontrou então uma oferta de emprego que lhe pareceu ser razoável, e decidiu então contactar a empresa, que tratava do recrutamento e mostrar o seu interesse na vaga que estava disponível, apesar de ser aquém das suas habilitações, isso não era o mais importante, e trabalhar numa estufa de flores, parecia-lhe algo fascinante.
Continuou o seu trabalho, até final do seu expediente e não pensou mais na sua pesquisa ou no contato que tivera feito.

Voltou para casa, e como sempre o namorado, que se encontrava desempregado, aguardava-a para que esta fosse preparar o jantar para ambos, e para lhe cuidar da roupa, para que ele após o jantar fosse conviver com os amigos num café nas imediações do local onde viviam.

Após o jantar este se ausentou, e Elisa ao acabar de arrumar a cozinha, ligou a televisão e sentou-se no sofá e decidiu então ligar o computador, surpreendeu-se com o email que tinha recebido da empresa de recrutamento, que a informara que se ela tivesse interesse, dentro de um mês poderia começar o trabalho, para então comparecer a uma entrevista, afim de perceber se esta manteria o interesse e se o perfil dela se adequaria ao exigido para o emprego, ela marcou-a de imediato, tratou de atualizar o seu Curriculum Vitae para se fazer acompanhar e sentiu dentro de si que a sua vida estava prestes a mudar, aquela resposta fora como uma lufada de ar fresco, uma nova possibilidade, uma nova perspectiva de vida, um novo rumo que sua vida poderia tomar.

Passado uma semana, na data e local combinados, Elisa chegou à entrevista, num misto de sentimentos que a faziam sentir medo e felicidade, com a possibilidade de uma nova oportunidade, que poderia mudar a sua vida, e talvez fosse isso que ela precisasse.

No fim da entrevista, a desmotivação voltou à tona, Elisa que era uma pessoa que não acreditava no seu potencial sentira que a entrevista havia corrido mal, e que não ia afinal conseguir a vaga.
Caminhou cabisbaixa, a pensar que teria destruído a última oportunidade de sua vida, quando um homem de estatura baixa e gorro na cabeça se esbarrou com ela pedindo-lhe desculpas, continuou a caminhar e este permaneceu olhando-a nos olhos, e enquanto se afastavam, o olhar daquele homem a deixou com a sensação de perturbação e paz. Quando o perdeu de vista, ao voltar a colocar o seu olhar no chão encontrou um papel que dizia : “mas aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças. Voam alto como águias; correm e não ficam exaustos, andam e não se cansam. - Isaías 40:31”, guardou o papel no bolso e foi em direção ao autocarro de volta para a cidade onde vivia.

Nesta viagem de regresso, estava Elisa com a cabeça encostada no vidro do autocarro a apreciar a viagem e perdida em seus próprios pensamentos quando de repente, o autocarro fez um barulho estranho e começou a deitar algum fumo, e o motorista encostou e pediu para se retirarem do veículo enquanto chamava a assistência em viagens.
Para passar melhor o tempo ela decidiu então ir a uma padaria que tinha perto do local onde o veículo tinha ficado imobilizado, uma vez que tinha sido já informada que demoraria cerca de 45minutos a vir um autocarro de substituição, para levar os passageiros.

Entrada no estabelecimento foi ao balcão e pediu um café, sentou-se no banco que ficava disposto no topo do balcão e começou a folhear uma revista, quando de repente sentiu um leve toque nas suas costas, pensou que seria o motorista do autocarro, ou algum dos outros passageiros para avisar da chegada no novo transporte. Quando se virou, sentiu seu coração a disparar de emoção, suas faces a rosarem, as mãos a ficarem trémulas e um suor frio corria o seu rosto, eis então que reencontrará Rodrigo, um ex-namorado que esta jamais tinha esquecido, e que sempre guardará o retrato dele no meio do seu livro de cabeceira favorito que mantinha guardado no fundo da segunda gaveta da sua cómoda.

Apesar de já não se verem há quase 10 anos, parece que tinha sido ontem a última vez que tinham estado juntos, a conversa fluía de forma tão natural e sublime, que Elisa esquecera por momentos o quanto estava infeliz. Trocaram os contatos e prometeram voltar a reencontrar-se.
E foi assim, o princípio ou o reínicio do amor de ambos. Depois desse dia, voltaram a reencontrar-se, Elisa saiu de casa do namorado, acabando por alguns meses depois da separação ir viver junto com Rodrigo. Tiveram dois filhos gémeos com o nome de Rodrigo e Domingos, que entregaram as alianças aos pais no dia em que o matrimónio se oficializou.

Quanto aos problemas no trabalho, não houve mais, Elisa na semana em que reencontrou o seu amor, ganhou o primeiro prémio do euromilhões no valor de 36 milhões de euros e conseguiu abrir uma clínica de tratamentos oncológicos de última geração e com a colaboração dos melhores profissionais da área, que além da atividade particular que exercia tinha também uma vertente social, ajudando pessoas mais carenciadas com a associação sem fins lucrativos com quem tinham feito parceria.

Elisa aproveitou a oportunidade para reiniciar os estudos na área que sempre mais amou, saúde, formando-se em medicina com especialidade de oncologia, tornando-se uma médica reputada na área.
Elisa, hoje, é uma mulher realizada e feliz, ajudando outras pessoas que estejam a perder a fé, usando a sua história de vida para motivar outros a continuar em frente, dando palestras de motivação de forma voluntária. Orgulha-se de conhecer casos semelhantes ao seu, de pessoas que reencontraram a fé e a vontade de viver. Agradece a Deus todos os dias pela graça que obteve.

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