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Ideias
2023-01-23 às 06h00
Há cada vez mais problemas no Governo. Uma parte muito saliente desses problemas diz respeito a escolhas e nomeações que depois se vieram a verificar inadequadas. Este número inusitado de incidentes ligados ao perfil dos seus membros está a enfraquecer muito o Governo na arena política. A consequência deste enfraquecimento é a diminuição da eficácia da governação e o de fazer com que a discussão política fique refém destas questões relativamente menores, em vez de se discutir as alternativas para o desenvolvimento do país.
Como se pode, então, resolver isto? O remédio encontrado foi o de pôr os futuros nomeados a responder a um questionário de despiste de situações potencialmente problemáticas. Bem à portuguesa, esta solução foi apresentada à pressa. Mas, dado o cardápio tão grande e diverso das situações ocorridas, acabou por resultar num inquérito bastante abrangente. Vai resolver alguma coisa? Julgo que não porque não resolve o problema estrutural que se vem a agravar há décadas.
Com as devidas adaptações, a solução escolhida não é muito diferente do recrutamento usado em muito organizações, que se baseia na análise de CVs e que, em muitos casos, é complementada com uma entrevista dos candidatos. Seguindo esta lógica, até se poderia entregar o recrutamento dos cargos políticos a empresas especializados, que é exatamente o que fazem muitas organizações do setor privado. Na verdade, isso também já é feito no setor público desde a criação em 2011 da CRESAP – Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública, com a missão de proceder ao recrutamento e seleção dos dirigentes de topo da administração pública. Também neste caso, pouco mudou desde que a criação da comissão.
No meio destas discussões de remendos que pouco ou nada resolvem, muitos clamam que não se deve fazer política com estas questões menores. Mas, é até bastante natural que os políticos façam política. Outros clamam que o problema está na existência de políticos profissionais. Mas isso também é errado. É difícil imaginar que alguma coisa fosse melhor se tivéssemos a governação feita por políticos amadores ou em part-time.
A escolha dos que nos governam é uma questão essencial da política, da democracia e da governação. A escolha dos que são nomeados para cargos de governação faz-se, como é natural, partir do grupo mais alargado dos que intervêm ativamente na política. O modo como se faz o recrutamento, designadamente nos partidos políticos, tem muitas singularidades em Portugal desde há décadas. As carreiras políticas começam demasiado cedo, o que faz com que a política como também comece antes do tempo de adquirir conhecimentos e, principalmente, de ter alternativas profissionais que permitam, se necessário, sair. Esta espécie de ‘trabalho infantil está centrada na institucionalização da juventudes partidárias, que me parecem ser a questão central para evitar os problemas do perfil das nomeações.
O problema não é a escolha das pessoas para os cargos políticos. É a escolha das pessoas para a política.
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