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O Regresso (Triunfante) da Mesinha de Escrever

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O Regresso (Triunfante) da Mesinha de Escrever

Ensino

2024-02-14 às 06h00

Ana Filomena Curralo Ana Filomena Curralo

A palavra "escritório" tem a sua origem etimológica vinculada a uma peça de mobiliário específica da idade média: a escrivaninha, ou “mesinha de escrever”. Na cultura ocidental, esse móvel passou a integrar o equipamento de salas, quartos e gabinetes, raiz histórica que influenciou a identificação das atividades geralmente executadas nesses espaços, como a leitura, a escrita, a contabilidade, o cálculo, etc., como "atividades de gabinete".
No século XV, a renomada Galeria Uffizi, em Florença, Itália, era uma das galerias de arte mais significativas do mundo. No século seguinte, desempenhava o papel de escritório de contabilidade da influente família Medici, com importantes operações financeiras à época. A remodelação decorreu de 1560 a 1570, projetada pelo pintor e arquiteto Giorgio Vasari (1511-1574).
Com a revolução industrial, o final do século XIX viu surgir o taylorismo, teoria administrativa científica do trabalho elaborada por Frederick W. Taylor (1856- 1915), cujas ideias influenciaram a organização e gestão do trabalho, e também a configuração espacial dos locais dessas atividades de trabalho. A racionalização do mobiliário padronizado e a rigidez do layout espelhavam a disciplina e linearidade do processo laboral, originando um novo tipo de escritório, denominado layout americano ou taylorista.
A importância da adequação dos espaços destinados a espaços de trabalho passou a justificar a atenção de arquitetos e designers de interiores, com a análise das formas de trabalho e a conceção de ambientes adaptados às necessidades dos utilizadores, visando uma melhor qualidade de vida nos ambientes de trabalho. Frank Lloyd Wright (1887-1959) é considerado o primeiro arquiteto a encarar a integração do projeto arquitetónico e do design dos ambientes. Segundo as directrizes da Escola de Chicago (EUA) o primeiro escritório moderno foi o edifício Larkin Building, em Buffalo, Nova Iorque (1906), reconhecido pelas inovações como ar-condicionado central, móveis embutidos e divisórias. O átrio central apresentava um pé-direito elevado e iluminação natural através de uma ampla clarabóia. Nas galerias em seu redor localizavam-se os escritórios individuais dos funcionários de escalão mais elevado.
Na Europa, mais especificamente na Alemanha, em 1958, surgiu um novo sistema de planeamento de escritórios, o Bürolanschaft ou Office Landscape - o escritório panorâmico. Desenvolvido pela empresa de consultoria administrativa Quickborner Team, este sistema baseia-se numa planta livre com o objetivo de fomentar a comunicação rápida, a interação e a cooperação. Eliminando barreiras sólidas pretende-se criar um ambiente de trabalho menos monótono, onde as chefias partilham o mesmo espaço, diluindo a noção de hierarquia.
Nos anos 80, as tecnologias informáticas revolucionaram os instrumentos e os espaços de trabalho. Os próprios edifícios tiveram de se sujeitar a novas normas e requisitos que passaram reger a organização física dos novos escritórios. Porém, a mobilidade informática, com a internet sem fios, potenciou a flexibilização do local de trabalho e uma nova vaga de "hotel de escritórios" ou "espaços múltiplos". O funcionário que permanece no escritório já não está preso a uma secretária especifica, podendo realizar parte das suas tarefas em qualquer espaço.
A pandemia de 2020 trouxe de volta as divisórias entre secretárias mas potenciou a libertação do espaço de trabalho em relação ao edifício de escritórios, com o grande êxodo do trabalho remoto, obrigando o espaço íntimo do lar a albergar o espaço laboral do escritório, com o “homeoffice”. Esta nova flexibilização está ainda em fase de transição. Muitos ambientes de trabalho de escritório não recebem ainda os seus trabalhadores de escritório cinco dias por semana. Novos sistemas de trabalho, orientados por novas realidades, buscam novos equilíbrios para o trabalho em ambiente virtual, entre o remoto e o presencial.
Estes cenários híbridos resultantes implicaram o regresso da escrivaninha ao espaço íntimo, à sala, ao quarto, como as primeiras escrivaninhas da idade média. Com novas funções, novas formas, novos materiais e novo design, a “mesinha de escrever” onde agora se apoiam tablets, portáteis e telemóveis são o palco da nova interação dinâmica entre a esfera familiar e a esfera laboral, entre o espaço interior do escritório e o espaço exterior de “homeoffice” no terraço, na nova “revolução ecológica”.
Na sua trajectória de mais de quinhentos anos, a “escrivaninha" ocidental manteve a sua ligação com a escrita, sinónimo da sua ligação com o homem e o seu desenvolvimento social, económico, cultural, laboral e tecnológico. Acompanhou diferentes formas de trabalhar e de viver, decorrentes das transformações e revoluções que afectaram a humanidade, e, por conseguinte, afectaram a arquitetura, o design, e a singela “mesinha de escrever”.

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