Uma ação deita por terra o trabalho de anos!...
Ideias Políticas
2024-11-19 às 06h00
A educação é amplamente reconhecida como um pilar essencial para o desenvolvimento económico e social de qualquer nação. Em Portugal, os progressos alcançados no nível de escolaridade da população e no mercado de trabalho ao longo das últimas décadas são um reflexo claro da importância de investir na formação. Contudo, este cenário também evidencia desafios significativos, particularmente no que diz respeito ao retorno desse investimento. A análise das dinâmicas entre a educação e o mercado de trabalho permite compreender melhor como a formação influencia os salários, qual o papel das empresas neste processo e quais as implicações políticas dessa relação.
Historicamente, tem-se verificado que níveis mais elevados de educação resultam em salários superiores. No entanto, estudos recentes mostram que, em 2022, o ensino superior em Portugal proporcionava um retorno salarial de cerca de 10%, uma redução acentuada em relação aos 32,8% registados em 1986. A saturação de trabalhado- res com níveis elevados de escolaridade tem conduzido a uma desvalorização dos salários, especialmente em funções que não requerem, necessariamente, as competências adquiridas. Esta realidade desafia as expectativas tradicionais de que a educação superior é sempre uma garantia de maior retorno financeiro.
Além disso, a escassez de trabalhadores qualificados, que antes favorecia salários mais elevados, tem vindo a dissipar-se. Durante as décadas de 1980 e 1990, Portugal destacava-se por oferecer retornos superiores aos da média europeia, resultado da menor oferta de trabalhadores com formação superior. Contudo, o aumento gradual do número de licenciados ou graus superiores tem conduzido a um equilíbrio entre a oferta e a procura, diminuindo a diferença salarial. Este fenómeno revela uma mudança estrutural no mercado de trabalho, que exige uma análise mais profunda das relações entre qualificação e empregabilidade.
Outro aspeto importante está relacionado com as práticas salariais das empresas, que têm um papel determinante no modo como a educação é valorizada no mercado de trabalho. Embora existam organizações que reconhecem e recompensam adequadamente os trabalhadores mais qualificados, esta não é uma realidade universal. Em muitos casos, os licenciados acabam por ocupar postos de trabalho que não correspondem ao seu nível de qualificação, reduzindo o retorno do investimento em educação. Por outro lado, a presença de trabalhadores mais qualificados nas empresas pode ter efeitos positivos, como o aumento da produtividade geral, mas esses benefícios nem sempre se refletem diretamente nos salários.
Esta situação evidencia a necessidade de uma articulação mais eficaz entre as políticas públicas e as dinâmicas do mercado de trabalho. A educação, por si só, não é suficiente para resolver os problemas de empregabilidade e valorização salarial. É imprescindível que se desenvolvam estraté- gias que alinhem o aumento da qualificação com as reais necessidades do mercado, promovendo áreas como o empreendedorismo e a inovação. Estes setores têm o potencial de criar novas oportunidades para talentos formados, aumentando o retorno económico e social do investimento em educação.
Entre as possíveis soluções, destaca-se a introdução de sistemas de financiamento estudantil condicionados ao rendimento, uma prática comum em países como o Reino Unido. Este modelo permitiria expandir o acesso ao ensino superior sem onerar excessivamente os estudantes e as suas famílias. No entanto, a sua implementação em Portugal deve ser cuidadosamente planeada, de forma a evitar que diferenças económicas possam comprometer a igualdade de oportunidades.
O investimento em educação continua a ser uma das principais alavancas de progresso social e económico. No entanto, o caso português mostra que este investimento precisa de ser complementado por políticas e estratégias que respondam aos desafios de um mercado de trabalho em con- stante transformação. Apenas com um alinhamento eficaz entre a formação e as oportunidades profissionais será possível maximizar os benefícios da educação, garantindo o seu papel como motor de transformação para a sociedade portuguesa.
21 Janeiro 2025
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