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O Sporting de Braga não é uma taberna

Ações e evidências do trabalho em rede

O Sporting de Braga não é uma taberna

Ideias

2021-10-25 às 06h00

Pedro Morgado Pedro Morgado

A humorista Joana Marques dedicou duas edições do seu programa na Rádio Renascença a dissecar o podcast oficial do Sporting Clube de Braga “Pod: Ser do Braga”. A análise expôs o “estilo taberneiro” de alguns comentários efetuados pelo anfitrião Rui Xará mas também a misoginia e o machismo de algumas das intervenções dirigidas aos atletas do nosso clube.
A questão é complexa e tem camadas de análise que devem ser separadas para uma avaliação mais racional.
Em primeiro, deve deixar-se muito claro que Rui Xará tem o direito de dizer o que quiser e de se comportar como entender num podcast da sua autoria. Tem o direito de falar em penetração com uma atleta que não conhece de lado algum, de sugerir que a homossexualidade de Elton John é motivo de chacota ou de insinuar que só vê futebol feminino por causa do aspeto físico das jogadoras. A liberdade de expressão é um direito fundamental que, apesar dos seus limites legais, deve ser sempre protegido.

A liberdade de expressão do artista não é, contudo, mais importante do que a liberdade de quem o critica. É por isso que começa a ser muito aborrecido ver humoristas levantarem o fantasma do “politicamente correto” ou do “cancelamento” sempre que alguma crítica lhes é dirigida. Compreende-se que quem se assume humorista acredite ter muita piada e sabe-se que o espetro do humor está diretamente relacionado com a mundividência de cada um, mas não é aceitável que os autores de piadas agressivas, discriminatórias, misóginas, homofóbicas, racistas ou machistas passem a vida a dizer-se vítimas do “politicamente correto”. Melhor seria que aproveitassem os comentários para uma auto-critica do seu próprio trabalho e admitirem que aquilo que escolhem dizer pode magoar alguém e, afinal, não ter graça nenhuma.

A conversa do “politicamente correto” tornou-se numa espécie de escudo de proteção da indelicadeza, da ignorância ou mesmo da ofensa. Um escudo que devemos rejeitar em nome de uma sociedade que sabe que as palavras contam e que há demasiadas pessoas a sofrer perseguições físicas e morais em consequência de preconceitos que esse tipo de humor ajuda a perpetuar. É assim tão difícil a empatia?
Em segundo, é preciso recordar que o “Pod: Ser do Braga” não é um programa do Rui Xará mas sim do Sporting Clube de Braga. Como bem recorda Luís António Santos, professor de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho, um podcast oficial deve estar alinhado, no essencial, com o posicionamento público que o clube decide ter. É precisamente aqui que o problema se torna sério. Muito sério, diria. O Sporting de Braga tem obrigação de respeitar todos os atletas e todos os associados, independentemente do seu género, origem, cor de pele, orientação sexual ou religião. Esse respeito não é uma opção ao critério discricionário dos seus dirigentes mas uma obrigação que decorre dos estatutos e da própria Constituição da República Portuguesa. Pela sua relevância social, o Sporting de Braga tem ainda obrigações especiais na promoção de atitudes que contribuam para o fim da discriminação dos mais vulneráveis. É por isso que assinalamos como positivo o envolvimento do clube em campanhas contra o racismo ou contra a violência machista, bem como a sua participação em inúmeras iniciativas de cariz social.

O estilo e o conteúdo deste produto comunicacional que tem a marca oficial do Sporting Clube de Braga violam os valores do clube, ofendem muitos dos seus membros e contribuem para a perpetuação de visões discriminatórias que podem provocar danos na vida de muitos dos seus funcionários, atletas e adeptos. Pior do que isso, os atletas são expostos a esta situação no seu próprio local de trabalho.
Não é admissível, sob nenhum ponto de vista, que um podcast oficial do clube promova um discurso machista, racista ou homofóbico ainda que a pretexto do pretenso humor. O Braga não é uma taberna e este tipo de conversa não é uma bandeira que queiramos desfraldar. O clube valoriza-se sempre que demonstra ser um espaço de respeito e tolerância, capaz de atrair os melhores valores sem discriminações de qualquer tipo.
Aqui chegados, é tempo de vermos os responsáveis do clube assumir as suas responsabilidades e retificar este erro. A qualidade do trabalho que tem sido realizado na comunicação oficial do Braga é reconhecida por todos e não é um lapso no casting do entrevistador-humorista que apaga os sucessos que já foram construídos. O “Pod: Ser do Braga” tem potencial para ser um produto de que todos os associados e adeptos se orgulhem. Se à taberna só vai quem quer, aos espaços de comunicação oficial do clube vamos todos. E todos devem contar para um Sporting de Braga cada vez maior e melhor.

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