Premiando o mérito nas Escolas Carlos Amarante
Conta o Leitor
2012-08-04 às 06h00
Por Ana Maria Monteiro
O povo português é tão pequeno que não acredita que algum português consiga fazer algo que não seja pequeno.
Daí ficar tão espantado sempre que um português recebe algum crédito ou respeito no estrangeiro
E faz-se sempre um alarido imenso a falar nisso
Quando o que se passa é que se sente tanta falta de aceitar que se acredita que gritando com mais força talvez se fique mais perto (apenas mais perto, não lá) de ser verdade, ou então que o ruído desse grito abafe uma vozinha na consciência que lhe vai dizendo repetidamente. é mentira, é mentira, então não vês que é português (ou portuguesa)?
É devido a essa total incapacidade de realmente acreditar que o português é tão pessimista, triste, céptico e também, infelizmente, resignado
Mesmo os que me estão a ler e talvez me dêem razão, no fundo la bem no fundo continuam a sentir como todos os outros portugueses e se lhes apontar a dedo factos de grandeza, continuarão a aplaudir, mas não deixarão de achar que ou teve muita sorte ou então não será bem assim como parece
Pior ainda: quando achamos que um português é maior que nós… exportamo-lo:
E ou lhe dizemos mesmo adeus a sério e com muito orgulho porque ele ascendeu a outra nacionalidade, ou então logo queremos fazer dele património da humanidade (que seguramente terá espaço para conter tanta grandeza - já que nós não).
Não vamos mais longe. Basta-nos para ilustrar ambos os exemplos, o caso do Saramago e da Amália.
Com os jogadores de futebol e diferente.
Aliás o futebol é diferente. Tal como a religião. Os futebolistas saem da simples dimensão humana e entre eles e deus o sentimento de universalidade é mais ou menos o mesmo
Para nós só já sobra o orgulho de tal craque ter nascido com as cores da bandeira e com esse tamanho ainda aguentamos.
Ainda por cima não há psicólogo nem psiquiatra que nos valha!
Temos auto conhecimento que chegue: não há cão nem gato português que não passe a vida a referir que nosso problema é o complexo de ser pequeninos.
Diz-se isto em simultaneidade com o facto de continuar impunemente a ser verdade.
São verdades clínicas comprovadas que quando se enfrentam os nossos medos, superamo-los e quando tomamos consciência das nossas fraquezas fortalecemo-nos.
No entanto, quando tomamos consciência de como somos portugueses continuamos a ser portugueses da mesma maneira que éramos antes.
O mesmo se passa com a corrupção em Portugal.
Todos apontam o dedo.
Todos acusam.
Todos reclamam.
Mas no fundo ninguém acredita muito nisso. Porque no fundo todo o português que reclama dos políticos e seus amigos, aliados, comparsas, enfim, o que seja, sabe que está a falar dum português como ele. E no acredita realmente é em “compadrio”, não em corrupção.
Acha que a corrupção ali não será bem isso, é antes uma forma mais graúda de meter uma cunha ao chefe da repartição para arranjar um lugarito p’ra filha ou p’ró afilhado
Enfim nada de muito grande, nada de muito grave de per si.
Mas esse ligeiro alívio proporcionado pelas diversas formas de contestação pacífica proporciona ao Português uma catarse que lhe permite continuar a ser pequeno e a acreditar que todos os outros portugueses são, como ele, incapazes de coisas muito grandes.
Por isso, desde há séculos que se nos apontam os mesmos problemas e eles continuam a ser os mesmos, por isso se lê Eça de Queirós e outros e eles mantêm a contemporaneidade dos dias de hoje.
Mas o pior não é isso, o pior é que por isso e graças isso a corrupção atinge e por vezes ultrapassa os níveis de terceiro mundismo e não acontece nada.
O pior é que é muito grande.
O pior é que infelizmente se passa (diria até, se passeia) mesmo nas nossas barbas.
O pior é que não se lhe põe cobro e nem sequer se tem já o pudor de disfarçar, porque se sabe que não é preciso, porque se sabe o tamanho como o povo pensa
E todos somos, não a criança que na história aponta o dedo
Mas antes o próprio rei que vai nu.
31 Agosto 2022
21 Agosto 2022
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