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O valor da (A)arquitectura...

Analogias outonais

O valor da (A)arquitectura...

Ideias

2024-09-16 às 06h00

Filipe Fontes Filipe Fontes

Há muito que a arquitectura deixou de ser a percepção da exclusividade artística e reflexo | consequência da criatividade e ousadia comportamental. Há muito que a arquitectura deixou de ser mundo cingido a uma comunidade singular e nem sempre integrada, de características e modo próprio com expressão, a título de exemplo e de forma não valorizada ou hierarquizada, modo de vestir… há muito que a prática profissional da arquitectura deixou de ser atendida e acantonada fora da centralidade da regulação e regulamentação do exercício diário de uma actividade laboral, de uma opção empresarial, da concretização de um ”saber”. Ou seja, há muito (talvez nunca tenha deixado de o ser!) que a arquitectura é importante e incontornável na vida de todos nós, contribuindo indelevelmente para a sua qualidade e capacidade de produzir bem-estar e felicidade.
Todavia, também há muito que se vive uma contradição tão mais visível e generalizada quanto prejudicial para quem “a produz”, para quem dela usufrui e para aquele que a suporta e “dá” contexto físico à sua existência: o território.

Na verdade, há muito que a centralidade da arquitectura cresce, há muito que a abrangência da arquitectura chega a cada vez mais lugares e pessoas, mas (também) há muito que esta prática disciplinar e profissional carece de mais e melhor atenção e regulação, eficácia e eficiência disciplinar e equidade, reforço e sinergias na complementaridade entre o ”público” e o “privado”, entre quem faz, quem encomenda, quem controla e quem constrói. Há muito que à mesma é subjacente uma polaridade e importância que merecia, de todos (porque para todos) outro empenho e vínculo.
Hoje, assiste-se a uma vontade cada vez maior “em ser arquitecto”, nunca tendo existido tantas escolas e faculdades de arquitectura, com expressão em marcas de acesso (as ditas “médias) que competem e ocupam os lugares cimeiros dos “rankings”. Consequência de tal, há muito que cresce o número de candidatos “a ser arquitectos”, bem como o número daqueles que, desejando, não conseguem aceder a tal. Consequência maior, há muito que o número de arquitectos “profissionais”, oficializados na sua inscrição na ordem profissional não conhece outra realidade que não o aumento.

Noutra perspectiva, há muito que o arquitecto é procurado para responder a uma multiplicidade de desafios, problemas e ambições, mesmo que não relacionadas directa- mente com a centralidade do exercício disciplinar da arquitectura: “fazer projecto”. A sua característica fundamental de ser “especialista de coisa nenhuma” transforma o arquitecto num profissional “atractivo” para tantas outras competências que hoje encontramos na prática de tantas e diferenciadas actividades, seja gestão e política, desporto e cultura, e tanto mais. Tam- bém há muito que o arquitecto é reclamado para marcar presença na administração pública e, assim, contribuir, influenciar, determinar e condicionar a melhor ocupação e transformação do território. E também há muito que é consensual que o efeito do bom trabalho do arquitecto a todos e ao território beneficia.
Acresce a tudo isto que, progressivamente, a presença da arquitectura (independentemente das suas condições e qualidade) se alarga no seu registo territorial, se verifica o reconhecimento da sua produção com a multiplicidade de prémios atribuídos, concursos vitoriosos e procura de arquitectos nacionais para os “quatro cantos do mundo”.

Num cenário de polaridade e centralidade, de qualidade e quantidade, de necessidade e desejo, chegar-se-á a este ponto na convicção e expectativa de que tal se vem traduzindo na valorização efectiva da profissão e das suas condições, do seu modo concorrencial e forma de remuneração, estabilidade laboral e complementaridade disciplinar. Esperar-se-ia, mas o confronto com a realidade traz-nos uma profissão ainda alvo de desregulação ao nível da remuneração e honorários, de desvirtuada concorrência, de precariedade de vínculos laborais, de fragilidade relacional entre o público e o privado, numa sobrecarga burocrática e documental que se sobrepõe e domina em detrimento do pensamento e prática disciplinar, numa tradução final de um desequilíbrio cada vez mais acentuado e ingrato, mas de relação directa e exponencial: a sua qualidade cada vez maior, cada vez mais dificuldades e entropias.

Acredita-se no valor e relevância da arquitectura e do seu papel e expressão social na transformação positiva da vida das pessoas, isto é, tributária de bem-estar e felicidade.
Por isso, valerá a pena pensar nisto e, talvez, retribuir à arquitectura e aos arquitectos algum desse bem-estar e felicidade no respectivo exercício profissional. Todos, sem excepção, ganharão!

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