Enfermeiros portugueses em convenção internacional
Voz aos Escritores
2024-11-29 às 06h00
O vento sopra em crescimento doloroso, sussurra cuidados, ondulações cardíacas, pum, pá, pum, pá, arritmias medrosas, tic, tac, tic, tac, tempos em laços de receios, as guerras em desconfianças.
A privação, a morte, a morte sussurrada como salvação. Não sei. Não sei mesmo. Imagino o sofrimento, a angústia, a privação, o desespero, olhos com luz de icterícia, barrigas avolumadas de fome. A sede de paz, nem que seja uma de trazer por casa, frágil como as famílias que se alimentam das vontades dos seus membros e delas se sustentam, sem paredes, sem janelas, sem tetos. A morte a ser suspirada por alívio, uma bênção, um último pedido que não seja perdido. Clemência, já que não há decência.
O vento rodopia, baila, rebenta com o ruído do silêncio que é cair no vazio.
A minha letra, não o nome todo, apenas a minha letra inicial, um F escavado numa árvore qualquer do Minho, que nunca chegou a existir. As coisas que amamos, as pessoas também, os momentos, as fotografias a caírem do quinquagésimo andar, as nossas cartas a ganharem asas saídas em liberdade das gavetas que as reservam.
Que som farão nesta vertigem de desaparecimento, de despedida? Chegar ao chão e depois nada. O ruído do estilhaço antes de serem nada.
A memória do teu corpo no meu a já não ser pele ou poema.
No meio da praça, a lágrima serena que escorre a volumetria do rosto da mulher sem voz. Fria de futuro, carne feita pedra, uma mão, apenas uma, agarra o filho que acreditou ser perfeito num tempo condicional de imperfeitos.
Pretéritos não resgatam tempos. Não ressuscitam horas nem dias. E os mortos não contam as histórias desossadas pelos bichos da terra.
Acordos de paz? Justos.
Só assim se pode olhar a linha do horizonte e somar pores-do-sol quentes, adicionados um a um, cuidadosamente pousados na pele experiente, para não queimar.
06 Dezembro 2024
22 Novembro 2024
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