Entre decisões e lições: A Escola como berço da Democracia
Ideias
2025-04-28 às 06h00
Faz hoje oito dias que a luz do Papa Francisco apagou e o mundo amanheceu mais vazio. Partiu como viveu: sem pompas, sem pretensões, apenas com a leveza de quem soube carregar o peso dos outros. Deixa-nos uma herança que não cabe em testamentos: uma herança de ternura, de inquietação, de coragem.
Desde então, têm sido múltiplos os textos, testemunhos e memórias, tecidos com gratidão e saudade. Também eu serei mais um a juntar palavras, agradecendo ao Papa Francisco,
com a simplicidade de quem apenas quer dizer: obrigado.
Obrigado, Francisco, por teres sido um sopro de ar limpo, num mundo dividido por guerras e gritos de intolerância. Tu foste exemplo de simplicidade, fonte das palavras certas e do poder de um gesto humilde, uma voz sem armaduras num tempo de pedras lançadas.
Obrigado, Francisco, por nos teres lembrado, sem cansaço, que a fé sem amor é só ruido, que a Igreja sem serviço é só fachada, que a humanidade sem compaixão é só uma palavra vazia. Denunciaste os abusos e não vacilaste na hora da Igreja assumir as responsabilidades.
Obrigado, Francisco, pela coragem de trazeres para o centro dos debates o papel das mulheres na Igreja, de teres colocado algumas mulheres em lugares de destaque na organização da instituição, de introduzir a ideia de haver mulheres no sacerdócio. Sabemos que foi um pequeno passo, que ainda não mudou quase nada, mas cheio de coragem.
Obrigado, Francisco, porque mostraste que a liderança não se mede por tronos dourados, mas pela coragem de caminhar com os últimos. Nos teus olhos cansados, mas teimosamente luminosos, vimos o reflexo dos que nunca são notícia: os pobres, os migrantes, os doentes, os esquecidos. E isso, desde o início do teu papado: a tua primeira viagem foi curiosamente a Lampedusa, epicentro das catástrofes que envolvem todos os que perecem enquanto tentam fugir daquilo que já não é vida. Obrigado por nunca teres desistido dos últimos, mesmo quando era mais fácil fechar os olhos.
Obrigado, Francisco, pela mensagem inclusiva, por nos acordares repetindo que a Igreja é de todos, todos, todos, que ninguém é excluído do amor de Deus. Que a Igreja não é um clube de “gente perfeita”, mas uma casa de portas abertas para todos, especialmente para quem mais precisa de acolhimento e esperança, incluindo aqui pobres e ricos, todas as raças, culturas e línguas, pecadores e justos, praticantes e não praticantes, crentes e frágeis na fé, migrantes e refugiados, vitimas de exclusão social (sem-abrigo, marginalizados, etc.), pessoas seja qual for a identidade sexual, incluindo LGBTQ, jovens e idosos, famílias tradicionais e famílias não tradicionais, enfim, todos os que procuram sinceramente a verdade, mesmo que ainda não pertençam plenamente à Igreja
Obrigado, Francisco, por teres introduzido o pecado ecológico. Ensinaste-nos que ferir a natureza é também ferir a nós próprios e desrespeitar o Criador. Obrigado por nos chamares à responsabilidade, por nos desafiares a viver em harmonia com a Terra e com todos os seus habitantes. Que as tuas palavras nos ajudem a construir um mundo mais justo, sustentável e cheio de vida para as gerações futuras.
Obrigado, Francisco, pela tua linguagem desarmada, tão humana, tão próxima. Num tempo em que muitos querem construir muros, tu insististe em abrir portas e pontes. A tua visita — seja a Lisboa, ao coração da Amazónia, ou às periferias do mundo — não foi apenas mais uma viagem diplomática; foi um recomeço silencioso. Tocaste corações sem fazer alarde. Foste presença. Foste caminho. E quando os jovens, tantas vezes órfãos de esperança, te escutaram sem filtros, tu não lhes deste respostas fáceis, mas um desafio: "Levantem-se, não tenham medo de sonhar." Como precisamos disso, Francisco — deste apelo a sonhar mais alto, largando as cinzas do ceticismo.
Hoje, em tantas partes do mundo, acendem-se velas. Acendem-se para iluminar o caminho que apontaste: o caminho das pontes, dos gestos pequenos, das mãos estendidas. Caminho difícil, contra a corrente, mas caminho certo. Quem continuará a incomodar os poderosos em nome dos que não têm nome? Talvez, sem querer, tenhas dado a resposta em vida: somos nós. Todos nós.
Hoje choramos a tua ausência.
Amanhã, que saibamos viver a herança da tua presença eterna.
E por isso, Francisco, Papa Francisco, obrigado. Mil vezes, obrigado.
15 Maio 2025
15 Maio 2025
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