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On/Off

Entre a vergonha e o medo

Escreve quem sabe

2016-09-27 às 06h00

Analisa Candeias Analisa Candeias

Ligar o sistema do descanso. Tal como se liga a televisão ou o rádio. Ligar, colocar em on esse sistema e fazer off do trabalho. Que nos pode consumir. Ou não - se não o permitirmos. Ter a tomada de decisão de desligar o telemóvel e a internet. Fazer off do que nos liga ao ritmo profissional e corriqueiro do quotidiano. Entrar na loucura de não trabalhar no fim-de-semana… Que estranho, não é?

Pois é isso mesmo que se pretende dos dias de descanso. Que se descanse. Outro facto tão estranho que, se o colocarmos em prática, algumas vezes, se estranha. Mas como tudo o resto, vai do hábito, de permitirmos que isto aconteça. Um hábito que deve recomeçar nas nossas vidas, o qual, em alguns casos, nos temos de obrigar a fazer, para nossa saúde e bem-estar.

Usufruir do fim-de-semana sem pensar em horários, normas, cumprimentos ou limpeza da casa. Qual foi a última vez que fizemos isto? Aliás, qual foi a última vez que nos permitimos fazer isto? Porque passa igualmente por darmos permissão a nós próprios para o embarque nesta viagem alucinante do descanso. Não é apenas a tomada de decisão. É a permissão para estarmos disponíveis para esta ação de repouso.

Às vezes esquecemo-nos de que, para produzirmos, é necessário, primeiro, estarmos bem, equilibrados e descansados. Repousar é tão importante como produzir. Responsabilizarmo-nos pelo que é nosso - o corpo, a mente, a família, … - implica conhecer os nossos limites e limitações, conhecer as nossas competências e aptidões, os nossos defeitos e as nossas virtudes.
Podemos começar por marcar um dia na agenda. Até nem é mau que o início venha incluído nos nossos afazeres, porque assim sabemos que lhe vamos prestar atenção. Talvez usar uma caneta vermelha ou roxa, daquelas bem berrantes para chamar a atenção. Se for uma agenda digital, colocar o realce do texto a amarelo, verde, azul,... Mas marcar. Saber que aquele é o início de um ou dois dias (ou mais…) dedicados a nós. E aos nossos. E ao descanso.

E depois cumprir. No início quase obrigar. Mas cumprir, estimulando-nos a nós, como propriedade nossa, a zelar pelos nossos melhores interesses. Ser egoísta ao ponto de descansar - imaginem! E, acima de tudo, não ter remorsos, visto que, a médio e longo prazo, será um investimento essencial para a saúde, para a nossa autoestima e para a nossa autopromoção. Sim, porque temos que nos autopromover. Faz parte do descanso.

E depois manter. Insistir no descanso, a par da produção. Ter, sempre, aqueles momentos dedicados a nós, e aos nossos, e não nos esquecermos deles. Ou fazermos de conta que não são importantes. E assumirmos que realmente são. E que são essenciais para a nossa saúde, para a nossa produção e contribuição na sociedade. Porque tudo isto faz parte da saúde mental - que é nossa para cuidar.

E igualmente insistir em manter a sinalização na agenda. Porque nos podemos esquecer. Ou querer esquecer. E assim vamo-nos lembrando. Podemos também colocar um lembrete no telemóvel durante a semana, preparando o grande off que vamos dar aos afazeres (e nas tecnologias) durante um ou dois dias. E antecipar o on que nos vai deixar mais felizes, só de pensarmos que ele existe, e está lá para uma maior conexão connosco e com aquilo que consideramos mais importante.

E depois sabemos que se vai interiorizando. O hábito começa a ser criado, e a rotina do descanso começa a fazer parte do dia-a-dia e da nossa semana. Tal como uma refeição, de que sentimos falta se não a fizermos, a falta do descanso começa a ser sentida e a ser criada. Por nós. Ser o descanso uma criação nossa, como parte integrante da nossa fisiologia humana e de que necessitamos para sobreviver. Somos humanos, portanto, descansamos. E assim produzimos melhor.
Bem-vindos a uma nova forma de estar. Abrandar o ritmo, perder a ligeireza, saber ir parando para não parar. E cuidar do que é nosso porque, no fundo, nos faz falta.

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