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Braga, terça-feira

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Onde está o meu peixe

A responsabilidade de todos

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Conta o Leitor

2021-07-24 às 06h00

Escritor Escritor

Eduardo de Castro

De manhã bem cedo ainda o céu estava escuro e já estava a caminho da praia. Não havia Porto, não havia nada. Só praia e o ti Berto, o dono do pequeno barco que nessa madrugada me ia levar com ele e os seus ajudantes ao mar alto levantar as redes. Era fascinante. Uma experiência fascinante. Aliás, no mar já tive várias experiências. Tanto no barco como na água. Ainda me lembro dos dias em que fazia suporte de barco aos mergulhadores que andavam à pesca de boas iguarias mas no fim ficavam quase sempre por um ou outro polvo e por muitos peixe galo. Mas depois não o comiam. Diziam que a escama era muito grossa. Mas mal sabiam que a ti Celeste bem os grelhava e os comia como um verdadeiro pitéu. Eram esquisitos mas a ti Celeste não que ela lembrava-se bem da guerra e das privações que todos passaram e a fome que havia na altura.
Outra experiência foi feita dentro da água quando andávamos à ‘caça’ das navalheiras. Era cá cada corte na mão se não fossem bem apanhadas. Mas no final os mais velhos lá enchiam a barriga e sempre acompanhada de boas goladas de cerveja. Outro tempos, quando havia muitos crustáceos.
Mas voltemos à experiência fascinante. Estava ali pronto a ter uma das maiores aventuras da minha vida. A minha irmã ia comigo. Também queria experimentar as novas e inéditas experiências da pesca. Mas era mesmo uma aventura que nos esperava. O meu ti Zé também ia connosco. Até que era ele que conhecia o ti Berto. Saímos da praia para o mar. Tudo no seu barco, nem pequeno, nem grande, mas com motor. O mar não estava muito agitado mas perguntaram-me logo:
- Trazes o passaporte?
- Que passaporte? - Perguntei eu - Só pode estar a brincar.
- Não estou nada diz o ti Berto.?Aqui temos que andar com passaporte para ir ao mar. A guarda pode aparecer.
Mas eu não tinha. A minha irmã também não tinha. O ti Zé também não. Enfim, ninguém tinha. Mas nada que não impedisse de seguir em frente. Lá fomos. Mar pouco agitado como mandam as regras para que o enjoo não apareça. E lá andamos. Muito, até chegar às primeiras redes, bem sinalizadas pelos pescadores mas que eu não dava por nada. O barco parou. Começaram as primeiras ondulações. Daquelas pequeninas mas que acabam por dar enjoo a quem não está habituado. E claro, a mana não aguentou e lá foi para o fundo do barco e ‘borda fora’, lá deitou tudo para as águas do Atlântico. E ao mesmo tempo lá começavam a saltar para dentro do barco os primeiros peixes. O mar cada vez se agitava mais. O barco cada vez ondulava mais. Mas eu ali estava firme. Também já tinha ido às Berlengas e andado pelos mares dos Açores e nada. Tudo tranquilo. O ti Berto, homem forte, também não aguentou. Ah, e o Jacinto que só gozava também lá teve de dar ‘de comer’ ao mar. Estava mau. Depois tudo ficou tranquilo. Os peixes e crustáceos já estavam no barco. A colheita foi pouca. Não havia peixe em número para vender na lota. Muito dele já estava esfarrapado. O mar tinha estado picado nos últimos dias e as redes não eram levantadas há alguns dias. Mas o copo de vinho bebido pelos mais vehos, numa ‘bucha’ divinal, aqueceu todos e ajudados pela broa e o chouriço. Bela pinga, belo farnel. No final dividimos o peixe. Carapau, cavala, salmonete, navalheiras, uma sapateira e outras espécies que não conhecia. E que belo almoço deu. A ti Celeste deu graças a Deus por todo aquele peixe. No final comemos e cantamos. Que grande farra e que grande família!

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