Correio do Minho

Braga, sexta-feira

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Ontem, hoje e amanhã

Entre a vergonha e o medo

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Ontem, hoje e amanhã

Ideias

2018-05-29 às 06h00

João Marques João Marques

Bem na vida, é assim que está Braga, como se diria de qualquer amigo que sabe exatamente o que quer, chega justamente onde pretende e alcança os sucessos a que se propõe.
Um concelho bem resolvido, com orgulho no passado, na sua identidade, no património material e imaterial, com ganas de chegar a Capital Europeia da Cultura e sem pejos de dizer presente quando os grandes momentos chamam por si.
Um concelho que está de bem com o seu presente, com uma sociedade civil crítica, alerta, desconfiada e, no entanto, confiante em que quem vai ao leme saiba devolver a confiança que os seus concidadãos emprestaram mas não deram sem penhor.

Satisfeita com os resultados económicos, com as subidas verdadeiramente assinaláveis em matéria de exportações, de combate ao desemprego, de criação de riqueza e valor acrescentado. Respira-se confiança, sem que se inspire a soberba de achar que já somos os maiores, que nada mais há para fazer e que agora é só guiar o barco.
Expectante com o futuro, de portas cada vez mais abertas à diferença, ao diferente. Cosmopolita sem Cosmopolitans mal importados. Verdadeira, portanto, na irreverência, sem Photoshop ou edição de imagem. Braga está aí para dar e vender mais dois, mais três, mais cem mil anos, mais os anos todos que conseguir agarrar.
Temos velhos do Restelo, mas também temos novos do Restelo. Braga não é do Porto, não é do Norte, não é do Minho, é cada vez mais do mundo e isto não é (só) foleirice propagandística. Basta sentir a cidade, passear pelo centro, ir ao estádio municipal, visitar uma galeria de arte ou um museu, entrar no Theatro Circo ou sair do Fórum.

E, no meio de tudo isto, temos as gentes, os bracarenses. Aqueles a quem de fora se ouve dizer que são os silentes orgulhosos de uma terra que não deve nada a ninguém (e cada vez menos deve à banca).
Hoje não escrevo sobre política, não escrevo sobre o que está bem e o que está mal, hoje escrevo sobre mim, sobre nós. Sobre a Rua da Boavista, a Cónega para os amigos, onde a Braga tradicional se faz há séculos e que não está isenta dos riscos que a hipertrofia turística coloca à genuinidade dos centros urbanos de várias cidades do país.
Escrevo sobre a Gulbenkian, uma escola de excelência, onde a música é só mais uma razão para queremos lá estudar. A escola que é pública, mas que (quase) todos julgam ser privada. Uma escola de vida, de alma e de sonho para quem lá pôde, como eu, cimentar amizades para a vida.

Este é um texto lamechas, mas estou no meu direito. É o que dá a liberdade de não ter linha editorial a complexar-me a escrita. A escrita num jornal que é também uma referência na construção da marca Braga, por muitas críticas que lhe entendamos fazer, como eu próprio lhe fiz num passado não muito distante. É notável como, num tempo em que o jornal em papel já foi repetidamente declarado morto, alguns exemplos de coragem e resiliência continuam a perdurar e a perder tempo (e espaço de publicidade) para permitir a tipos como eu escrever textos de página inteira.
No preciso momento em que escrevo há línguas de três países diferentes a admirarem-se com o nosso concelho, com o facto de terem estado tanto tempo sem conhecer uma das mais interessantes cidades que já visitaram.
Ouve-se ao longe o sotaque carioca a combinar visitas imobiliárias, com a certeza de que aqui ficar é uma nova partida para o destino prometido, sem Leblon mas com o que é bom: a paz de percorrer as ruas sem medo do som que nos persegue as costas.

Espanhóis, de Espanha e não de Guimarães, como tantas vezes chamamos provocatoriamente aos nuestros hermanos da fronteira da Falperra. Não, estes são mesmo espanhóis a acabarem de gastar as suas pesetas numa loja de roupa pensada e criada em Braga, mais um daqueles hinos silenciosos ao bem fazer que cada vez mais se veem por cá.
Finalmente, de regresso a casa, o incontornável bramido anglo-saxónico ouve-se de uma parelha de amigas a sair das frigideiras. Quentes e frescas são elas, as frigideiras, bem entendido, ou não fossem sempre assim as especialidades que levam mais longe ainda o nome e a fama deste milenar lugar.
Por mim declaro-me vencido, convencido e derrotado pela evidência de que esta não é a Braga em que cresci. Ainda bem. Esta é, afinal, a imagem da Braga em que crescemos e que, se tudo correr bem, haveremos de fazer crescer muito mais.
Para a semana há mais. De Braga e de mim. Seguramente sem tanto idealismo, mas com a ideologia de sempre.

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