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Ora bolas

Mais e melhor Futsal VII

Ideias

2015-06-14 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Não será unânime, mas prevalece um tom generalizado de traição: Jesus traiu o Benfica. No mínimo respondeu com ingratidão às chances que o clube da Luz lhe proporcionou de se guindar ao primeiro plano nacional; mais ainda, pois não figura ele, aos dias de hoje, entre os treinadores apetecíveis da cena internacional, logo em quarto lugar? Quantos portugueses poderão gabar-se de igual façanha?

Esgotara-se o caminho de Jesus no banco encarnado, e, descontando a graça teológica, tê-lo-ão seduzido com soma de obliterar os prejuízos do mau trato com o Espírito Santo. Poderia Jesus conhecer igual êxito - já não digo na península arábica, deserto competitivo, exílio afogado com cifrões -, mas na cidade mártir e heroína de S. Petersburgo, aos comandos do Zenith? Por que não? E não constituiria a língua entrave de monta, que não foram os dotes de retórica que o fizeram calcorrear a justo título a passadeira das celebridades.

Mas resistiu o homem aos cantos de sereios que procuravam alonjá-lo do solo pátrio. Nem nos confins de areias cosmopolitas, nem em marginal alguma da elegante capital traçada a regra e esquadro por Pedro O Grande, se daria bem quem melhor troca as sofisticações do caviar por sardinha braseada a preceito, retocada de bom verde branco, que a ele se deve ter acostumado nos tempos passados em Felgueiras. Em desespero de causa ter-lhe-ão acenado com faustos na capital francesa, com andar panorâmico sobre uma avenida nobre, passe para a Ópera e mesa reservada no Lido, ofertas que descartou, dizendo não trocar a relva da Luz pelos parques principescos da Cidade-luz.

E eu compreendo Jorge Jesus. Quaisquer que tenham sido as suas íntimas razões, tenho para mim que Jesus não terá querido figurar entre os abrangidos pelo princípio de Peter, dando um passo voluntário ao encontro do seu limiar de incompetência. Sabe, Jesus, que a força de um treinador reside no quanto ele perceba de futebol, tanto como na identificação que entre si e uma massa adepta se estabeleça. Mal-amado, um treinador não resiste a um revés flagrante, ou a uma série de fracas exibições, que a seu turno baterão à porta dos principais concorrentes. A confiança do treinador em si próprio, do plantel face ao seu técnico, dos adeptos em relação ao clube-equipa, é algo que se respira fisicamente no dia-a-dia e que está para lá dos resultados circunstanciais. Jesus tinha-o na Luz, poderá tê-lo em Alvalade, talvez o tivesse tido até em Braga.

No desenlace de época coroada com títulos emblemáticos, Vieira e Bruno de Carvalho repudiaram os respectivos treinadores. Os adeptos benfiquistas têm um longo historial de hipnose colectiva, não sendo habitual que nomeiem e que afrontem os erros cometidos dentro de portas, razão pela qual pouparão ao presidente o divórcio com Jesus, desde que o sucessor venha a dar conta do recado. Carvalho não tem o benefício de tal cobertura, para mais descartando Marco Silva com pretexto que em instância alguma encontrará acolhimento. Vieira empurra Jesus borda fora, porque o treinador se tornara demasiado grande, a ponto de cobrir com uma cortina de sombra a célebre estrutura, e o presidente da colectividade por sinal. Por erro de cálculo despede Carvalho o seu treinador, por entender que mais depressa conquistará o campeonato com Jesus aos comandos do clube. E não viu ele que a vitória arrancada a ferros no Jamor se deveu à convicção da liderança de campo, muito mais do que a uma fortuita conjugação do destino?

Dispensa Vieira Jesus porque o treinador seria excessivamente caro, e bem correndo, ganhará Jesus seis milhões em Alvalade, verba mirabolante para as finanças sportinguistas, mas que, curiosamente, estaria bem ao alcance da nação benfiquista. Não são eles seis milhões? Olha, teria bastado um Euro por cabeça. Eu conheço cabeçudos que teriam dobrado a parada!

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