Portugueses bacteriologicamente impuros
Escreve quem sabe
2020-03-10 às 06h00
O mundo tem vivido, nas últimas semanas, em situação de alerta perante a rápida transmissão da nova espécie de coronavírus, o COVID-19. Algum desconhecimento sobre as caraterísticas da sua forma de manifestação tornou mais difícil proceder ao controlo da transmissão. Sabemos que a globalização tomou conta das nossas vidas, no entanto, é nestas alturas de propagação de doença que, quiçá, nos apercebemos o quanto nos encontramos (todos e em todo o mundo) interligados.
Não servem esta palavras para proceder a todo um ensino de prevenção para o contágio, pois, nesse sentido, o site da Direção Geral da Saúde1 encontra-se bem explícito e, em caso de dúvidas, qualquer um de nós poderá recorrer ao centro de saúde que lhe está alocado. Servem para expor uma reflexão que tenho/temos (eu e alguns de colegas de profissão na área da saúde) vindo a realizar sobre o tipo de alarmismo que tem vindo a ser disseminado pelos meios de comunicação social. Não me entendam mal: é, talvez, necessário algum alarmismo para despertar comportamentos. É necessária uma preocupação perante os elevados níveis de contágio que este vírus apresenta. Todavia, é igualmente necessário que essa preocupação seja mediada e cuidada, que se torne numa preocupação preventiva, e não uma preocupação puramente emotiva.
Tal como as restantes pessoas à face deste planeta fui vendo as notícias, as informações divulgadas pelos jornais televisivos, radiofónicos, etc … E, em todos aquela informação que vi/escutei, no início (e reforço: no início) desta odisseia de fomento de alvoroço, procurava encontrar esclarecimentos sobre a prevenção de contágio, como por exemplo divulgação sobre aquilo que é uma doença transmitida através de contacto, importância da lavagem e higienização das mãos ou o uso de máscara apenas em caso de presença de sintomatologia. Procurei, é certo, mas não encontrei. Encontrava, sim, uma panóplia de destaques perante imagens de mapas do mundo com cores, setas e números, que, depois de serem transmitidas, não eram aproveitadas para a realização de uma educação para a saúde – embora esse fosse um bom momento a usufruir, visto que os destaques tinham captado a atenção daqueles que se mostraram disponíveis a ouvir.
É certo que agora as coisas estão um pouco melhores ao nível da informação preventiva, mas ainda assim, ironicamente, acredito que, neste país, em alguma redação de algum jornal, tenha sido aberta uma garrafa de espumante para celebrar o primeiro caso português com COVID-19, tal era a ânsia demonstrada por alguns meios de comunicação social para que o mesmo se desse. Afinal, queremos estar ao mesmo nível da restante Europa, até nos coronavírus. Volto a frisar: não me entendam mal. Considero, apenas, que se os meios de comunicação social têm o dever de divulgar a realidade das coisas, têm igualmente a responsabilidade social de contribuir para a educação da população, e a educação para a saúde não pode ser exceção. As máscaras de proteção desapareceram das farmácias, assim como as soluções desinfetantes para proceder à higienização das mãos, porém, pergunto: será que todos sabem usar estes recursos? Será que todos sabem proceder a uma correta lavagem das mãos? Será que todos a fazem nos momentos adequados?
Talvez este frenesim sirva, também, para que se reflita sobre o (des)conhecimento que a população apresenta acerca do contágio de uma qualquer outra doença – e isto sim, é alarmante. Em tempos antigos, uma constipação era motivo de algum resguardo, de uma certa proteção, para que existisse uma recuperação e a tendência para a não propagação da doença. A banalização do “ir trabalhar com uma pontinha de febre” vai-se tornando um risco, não tanto pelo contágio - porque, provavelmente, na fase “da pontinha de febre” já não vai ocorrer contágio -, mas sim pela representação que implica o descuido com o corpo e o desrespeito para com a nossa saúde e a nossa preservação.
A verdade é que vou ficando preocupada com a forma como as notícias têm chegado até nós, população livre e potencialmente esclarecida, sem o cuidado de se exporem e demonstrarem, de imediato, medidas preventivas em relação a este contágio tão célere. Ainda assim nenhum sistema é perfeito e, sabendo disso, deixo os meus parabéns à forma como os nossos serviços de saúde têm lidado com esta situação, em especial aos colegas do SNS 24 - Centro de Contacto, que têm trabalhado incansavelmente no atendimento telefónico. É verdade que muitas vezes não conseguem atender o telefone no imediato porque, provavelmente, já têm mais de cem chamadas em espera às oito horas da manhã, ou algo assim muito parecido. Um bem-haja a todos pelo vosso trabalho. E, vá... Será pedir muito para que (tod)os meios de comunicação social reforcem as medidas preventivas em relação a este contágio? Se há tempo diário para fazer ouvir os partidos políticos em época de eleições, para fazer passar as novelas e os programas de música, também se poderia arranjar tempo para fazer ouvir algum tipo de informação no sentido de educar para a saúde. Sejam criativos – a população agradece.
1https://www.dgs.pt/corona-virus/home.aspx
15 Junho 2025
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