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Os dejetos do sistema e as usuais soluções

Cidadania ou o atrevimento da ignorância (1)

Os dejetos do sistema e as usuais soluções

Ideias

2021-05-14 às 06h00

Borges de Pinho Borges de Pinho

Saudando-se um Abril que já se foi há muito, ainda que coberto de promessas, utopias, garantias e desejos de toda uma outra e melhor realidade, a grande verdade, doa a quem doer, é que cada vez mais vimos vivendo no desamparo e desespero de “coisas” “perdidas” e de arcar com os dejetos de um sistema anquilosado e pervertido para o qual, dizem, não há ETAR, lei ou poder que lhes dê solução, tal é a porcaria que o esquema e sistema político montados, e vividos, nos vem trazendo num amplificar de poderes, do executivo ao legislativo, mesmo invadindo o judicial. Num “mercadejar” de cargos, atos, amizades, favores, conhecimentos, confrades e compadrios, e em todos os tempos e formas verbais, e a um tal ponto que quase se confundem os dejetos com os atos em si e até mesmo com os próprios autores de tais defecações. É corrupção por atacado, peculato aos molhos, tráfico de influências, jeitos, falcatruas, burlas, etc., com o sistema judicial a não ser capaz de dar resposta pronta e cabal a tanto crime e trafulhice, umas vezes dada a imensidão do trabalho, a exiguidade dos meios, o dificultoso das investigações, as “maneirosas” leis criminais e processuais, muitas delas inquinadas de ideias e princípios de um “liberalismo” libertário agudo e esotérico e do uso abusivo de constitucionalidades de “alpercata”, de ofensas a direitos, de recursos e medidas congeminadas por togados que vivem para os seus proventos, os seus escritórios, os partidos a que pertencem e para as vidas que almejam. Isto para já não se falar em mentes perversas, “esquentadas” por idealismos e pensamentos “amarrotados” e “esgotados” na vaidade do esdrúxulo e da fantasia de algo a que chamam “direita” e “esquerda”, radicais ou não.

É certo que os rios estão cada vez mais poluídos, e alguns, vindos de Espanha, suportam até duvidosa, inquinada, estreita correnteza e outras poluições, sendo que as ETARs existentes não vêm dando vazão a tanta porcaria e lixo, ainda que há dias a Agere nos tenha surpreendido com a construção da nova ETAR do Este, em concurso público por 30 milhões (C. Minho, 20.4.21). Mas os dejetos do sistema são tantos e tão frequentes, e em todos os seus poderes e partidos, que na conjuntura da partidocracia que nos invadiu em Abril de 1974 qualquer ETAR não basta, e muitos desses dejetos, “formatados” em personalidades, são até premiados com lugares na Banca, em certas estruturas públicas, nacionais, europeias e mundiais, em lugares em empresas de gabarito e bom proveito, em cargos políticos ou para-políticos e em serviços estaduais, e até arriscam a apanharem com uma comenda à medida. Pelos bons serviços prestados ao povo, designadamente porque souberam e foram habilidosos no “mercadejar” dos cargos e no camuflar dos seus “maneirismo” e “arte”, recebendo por troca, pelo menos, “chapeladas” e “dinheiro” e talvez uma e outra participação num concurso público ou obra pública. Concursos públicos e obras públicas que cada vez mais reservas nos merecem, pois os media estão continuamente a trazer à baila suspeitosos concursos e ajustes diretos, como o ocorrido entre a Cabrita de V. R. S. António, de mãos dadas com o deputado Gameiro do PS, de Leiria, na venda de um terreno junto a Montegordo, logo se desembocando numa investigação criminal e em perda de imunidade parlamentar por suspeitas de corrupção, peculato e tráfico de influências, etc., aliás num ”mercadejo” a contento.

Entretanto, para confirmar o que vem sendo dito, a Judiciária e o MP “cairam” sobre o arquiteto Manuel Salgado e seu filho, com buscas, apreensão de documentos e telemóveis, escrevendo-se mesmo que a “Judiciária aperta cerco a “Marquês de Lisboa””, estando em causa “suspeitas da prática de crimes no exercício de funções públicas como abuso do poder, corrupção, prevaricação, participação económica em negócio, violação de regras urbanísticas e tráfico de influência, aliás um arquiteto que entrou em 2007 com Costa para a Câmara de Lisboa e lá ficou no urbanismo até 2019, que é primo direito de Ricardo Salgado, do BES, a quem até beneficiara, diz-se, ele que foi presidente da SRU de Lisboa Ocidental (C.M.21.4.21). E na sequência de tal problemática, até foram feitas buscas na Câmara, ao pelouro do Urbanismo no Campo Grande e ainda em Sintra, Cascais, Caldas da Rainha e Alvor, mas as investigações continuarão.

Claro que isto, e na atual conjetura, não deixa de ser caricato, mormente depois do ocorrido a 9 de Abril, e só se espera que os processos avancem no tempo, não se “empapem” num só, e se ponha a funcionar a justiça, dando-se-lhe meios que não atrapalhem a aplicação da mesma justiça, meios logísticos e humanos sensatos, capazes e competentes, e sobretudo leis que “não entravem” o poder judicial. Está na altura de “refinar” e “temperar” a Constituição, “desvulgarizando-a” e reduzindo o recurso à mesma, cortando-se no número de deputados e ”limpando“ o parlamento de suas nulidades, idiotices utópicas e radicalismos esdrúxulos de direita e de esquerda, e sobretudo evitando-se que os juristas e advogados em exercício, e os enquadrados em grandes escritórios e firmas, possam continuar a exercer seus anteriores lugares, defendendo seus interesses e conveniências. E agora que o Marcelo deu uma “palavrinha” e todos estão ainda recordados do 9 de Abril, avance-se de vez com o crime do enriquecimento ilícito, dê-se força e proteção legal aos delatores da corrupção e acabe-se de uma vez por todas com os “dejetos” que se vão “soltando” dos e nos cargos dos vários poderes constituídos devido a todo um “mercadejo” habitual e costumeiro, “enterrando-os” e “aterrando-os”. Ainda há muitos magistrados, advogados, juristas e homens probos e de carácter que vêm sentindo a azia de certos atos, o amargo de certas atitudes e o “mal alinhavado” e esdrúxulo de algumas explicações.

Continuando a debruçar-nos sobre os dejetos desta partidocracia que nos envolve, Rio, um que se projeta como de “bom” carácter mas que nos defraudou pouco depois por nunca ter chegado a “dar banhos de ética” na Foz a alguns seus confrades bem carecidos, mesmo em cuecas e camisa de noite, como prometia e há muito se lhe pedia, preocupa-se muito com a composição do CSMP e quer lá mais “malta do povoléu político”. Para impor as decisões do poder, evitar processos, travar investigações, politizar mais a justiça? Às vezes até ficamos parvos com tanta “esperteza saloia” em arregimentar e meter “sábios” da política a ocupar lugares nos CSMP e CS da Magistratura. Mas não é, sublinhe-se, para impedir “confrarias” e “irmandades” dos magistrados, mas para poder “mercadejar” e “gerir” lugares e posições de interesse político, como já aconteceu em casos recentes de colocação e de subida na carreira de magistrados incómodos para o poder. Mas isto só denota que são muitos e poderosos os dejetos dos atuais esquema e sistema político, para quem Abril apenas surgiu como um meio para melhor viver e usufruir suas conveniências, numa paródia à democracia e à liberdade, e se possível, com obediências à Maçonaria, à Opus Dei e à Opus Gay, conforme os casos.

PS: Como paródia ao “mercadejo” e a isto tudo há ainda a venda das barragens pela EDP e a inação dos governantes e das Finanças, com todas as suas obscuridades e consequentes conjeturas, mas fica para a próxima.

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