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Ideias
2025-07-06 às 06h00
O mundo laboral, atualmente, é marcado pela versatilidade de alguns empregos, o que permite aos trabalhadores gozarem alguns dias de descanso em qualquer altura do ano, e não apenas nos tradicionais meses de julho e agosto, que são, por norma, os mais propícios para dias de repouso.
Se atualmente existe uma diversidade de oferta de locais de descanso, aumentando o número de portugueses que escolhem vários destinos no país e no estrangeiro para gozar férias, a partir das duas últimas décadas do século XIX, quando a moda das férias se enraizou na Europa e também no nosso país, os portugueses descansavam em locais muito específicos: normalmente em praias ou casas de campo (no caso dos mais abastados), em estâncias termais, que existiam em várias regiões, ou ainda em zonas mais frescas.
No que concerne aos bracarenses, estes descansavam sobretudo nas praias próximas (Esposende ou Póvoa de Varzim), em casas senhoriais situadas principalmente no Minho, ou ainda no Bom Jesus. Era uma época em que muitos tiravam um mês, ou mais, de repouso e partiam tranquilamente com as suas famílias. Como na altura as notícias estavam concentradas nos jornais, estes possibilitavam aos seus assinantes alterar a morada para o local onde se encontravam no verão, de forma a continuarem a receber as notícias, mesmo durante o período de descanso. Para comprovar esta realidade, vou exemplificar com o ano de 1890, marcado pelo forte calor que se fez sentir nos meses de julho e agosto.
Para “A Correspondência do Norte”, 9 de agosto de 1890, “Entramos na epocha em que é da moda sahir de Braga, para as caldas, para as praias, para as quintas”. Para além da moda, o calor que se fazia sentir em Braga era propício aos passeios pelo campo e pela beira-mar.
Na altura, parte das ruas de Braga estavam degradadas, ou esburacadas, misturando-se as pedras com a terra, que tornava esses percursos desagradáveis, quer no inverno, quer no verão. Aqueles que quisessem circular por algumas ruas da cidade, deparavam-se com essas grandes dificuldades: “o sol está intolerável, o trabalho repugna e a poierada impede as toilettes limpas e frescas”. Neste sentido, era natural que, quem pudesse, fosse procurar “na sombra dos verdes laranjaes e dos carvalhos a temperatura amena e o ambiente desvanecido” tão necessário nesses meses de calor intenso.
Um dos locais mais procurados, não só pelos bracarenses, mas também por pessoas de todo o país, era o Bom Jesus do Monte. Essa procura intensificava-se nos meses de verão, tornando-se então difícil encontrar um espaço na natureza ou uma vaga num dos hotéis do Bom Jesus.
Segundo a fonte referida, “É extraordinária a concorrência de forasteiros que se acham no Bom Jesus do Monte. Desde principio de Junho até agora, disputam-se os lugares nos hotéis, vendo-se famílias obrigadas a demorar-se ali curto praso, para dar logar a outras”.
A procura pelo Bom Jesus acentuou-se desde a década de oitenta, do século XIX, verificando-se que “De ha dez annos a esta parte nunca no Bom Jesus do Monte esteve tanta concorrência. Tudo quanto vem do Gerez e outras thermas, tomam o Bom Jesus como ponto forçado para descanso de meia duzia de dias”.
O ambiente que se vivia no Bom Jesus, durante os meses de verão, era de autêntica romaria diária, com animação permanente: quem vinha de outros locais, ou mesmo do centro da cidade, fazia-o maioritariamente de coches ou veículos semelhantes: “Pela cidade atravessam os americanos e trens de aluguer repletos de familias distinctas, com destino áquelle local”. Contudo, devido à falta de alojamento “Muitas regressam pouco depois, por não haver logar nos hotéis”.
Quando não conseguiam lugar no Bom Jesus, esses viajantes acabavam por dar passeios pela cidade, o que tornava o ambiente urbano mais festivo. E a procura era de tal ordem, que era raro encontrar transportes que os levassem ao Bom Jesus: “É raro encontrar-se nas alquilarias trens para alugar. Está tudo tomado. Chega a ser espantoso o movimento de trens e toda a qualidade de vehiculos que atravessam em direcção ao Gerez. Posto que a demora aqui seja curta, é, contudo, animador este movimento, com que muito e muito lucra esta cidade”.
Braga era, então, um local de passagem para quem quisesse deslocar-se ao Bom Jesus ou ao Gerês. Basta, novamente, recorrer a “A Correspondência do Norte”, de 9 de agosto de 1890, para se perceber a quantidade de gente que por aqui passava:
Assim, de passagem para Gerês, “esteve nesta cidade com a sua exm. esposa o nosso dedicado amigo Antonio Fernandes de Sousa, antigo e bemquisto commerciante da praça do Porto.
Está no Bom Jesus do Monte a srª marqueza de la Victoria e suas filhas.
Está no Gerez o nosso amigo dr. José Alves de Moura, antigo deputado e professor do Lyceu. Esteve nesta cidade o nosso excelente amigo Alberto Carvalho Braga.
De passagem para o Gerez esteve n’esta cidade a conhecida chanteuse Cynira Polonio.
Está na sua excelente vivenda de Palmeira, o snr. Antonio Luiz da Costa Pereira de Vilhena, vice-consul da republica brazileira, n’esta cidade.
Retiraram-se do Bom Jesus do Monte em direcção às Pedras Salgadas os srs. condes de Feitosa.
Para Espinho retirou também do Bom Jesus do Monte o snr. commendador João Manoel Fernandes Ferbosa e sua exm esposa.
Para a Foz partiram as ex. sr.ª D. Delfina Machado e D. Margarida Victoria Rodrigues da Silva. Regressou de Caldelas o nosso amigo snr. Joaquim Maria da Costa Rebello.
Esteve n’esta cidade o sr. dr. Florencio Monteiro Vieira de Castro, digno recebedor da comarca de Famalicão e antigo administrador do concelho de Fafe.
Está na Povoa de Varzim o sr. Álvaro Pipa.
É esperado no Bom Jesus do Monte o sr. conde do Casal Ribeiro.
Está em Braga o sr. barão de Salgado Zenha”.
Estas foram algumas das figuras que foram referência em Braga durante os meses de verão de 1890, altura em que a temperatura atingiu níveis muito elevados.
Para aqueles que não tinham possibilidade de sair de Braga para se refrescarem noutros locais da região, restava sempre a opção de recorrer ao Café Viana, pois este emblemático estabelecimento tinha a novidade de servir gelo nos meses quentes de verão
Como diz, novamente, “A Correspondência do Norte”, de 9 de agosto de 1890 “Ao Café Vianna chegou grande quantidade de gelo. É notável. Quando esta casa encommenda o gêlo, o tempo muda logo para fresco, seguindo-se lhe pouco depois a chuva. Ora, nós que temos estado a derreter-nos sobre uma calma abrazadora, não podíamos ter lançado mão do expediente mais cedo?
Era só pedir assim:
Venha gelo, amigo Vianna, venha gelo. E o gelo vinha, e o tempo refrescava, e a chuva começava de cair que era um regalo”.
Estas eram algumas das formas como os bracarenses passavam os seus dias de descanso e se protegiam do calor dos meses mais quentes de verão!
15 Julho 2025
14 Julho 2025
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